[O flagelo que não acaba – XII]
Rupnik, o protegido
O comunicado de imprensa, como o emitido pelo Vicariato de Roma, é uma autêntica filigrana para dizer algo que evidencie a posição de quem o emite e que, na sua “perfeita?” redação, faz com que as margens do texto fiquem pejadas de pessoas já muito feridas, que continuam a ser insultadas com desprezo, com indiferença e, sobretudo, com a dúvida permanente sobre aquilo que denunciam desde a mais absoluta invisibilidade.
[Os dias da semana]
Fatima Zahra e outras crianças
A aparição televisiva da criança é memorável. Durante breves instantes, o operador de câmara fixa-lhe o rosto. É bonito e expressivo. O que, sobretudo, impressiona é o contraste imenso entre a alegria que o inesperado sorriso documenta e o drama que nele fica de algum modo disfarçado. A criança, que pudemos ver no Jornal da Tarde e noutros noticiários televisivos de segunda-feira, dia 18, é uma das 100 mil que estão a sofrer por causa do sismo ocorrido em Marrocos no dia 8 de Setembro.
[Segunda leitura]
O pão nosso de cada dia…
Durante o minuto que demorei a escrever esta frase, foram gastos 2.700 euros em raspadinhas. Durante os cinco minutos que demorará a leitura desta crónica, serão gastos no país 13.500 euros em raspadinhas. Durante todo o dia de hoje, nada mais nada menos do que quatro milhões de euros irão para a compra de raspadinhas. [A crónica de Joaquim Fidalgo]
[O flagelo que não acaba – XI]
Chantagem!
Durante a última JMJ ficou evidente que as pessoas LGTBIQ+ continuam a ser alvo de alguns grupos, cuja alegada e exibida “pureza religiosa” contrastou fortemente com a clareza com que Francisco disse que na Igreja cabem todos, todos, todos!! Creio que a maioria de nós partilha o que disse Francisco, porque não se pode falar de comunhão se todos aqueles que querem estar na Igreja, porque se sentem e são Igreja, não o podem fazer.
Nas margens da filosofia (LVII)
Uma Saga Familiar
Li nestas férias de verão muitos textos que me agradaram. Um deles foi o livro recentemente publicado por Lívia Franco sobre a Primeira Guerra Mundial interpretada através dos personagens concretos que nela viveram e que com a sua acção a construíram, imprimindo-lhe os traços que hoje nos permitem lê-la e estudá-la.
[Moçambique, margem Sul]
Mão esquerda, mão pária, mão sinistra: o feitiço do saber está na leitura
Apanhei algumas palmadinhas por utilizar a mão esquerda (até se chama sinistra, em italiano; isso diz muito o que dela se interpreta), na minha infância. Isso aconteceu muitas vezes, ao que me contaram e, estendeu-se a alguns outros palmadões, na adolescência, pelo que pude constatar.
[Cinema, existência e narrativa (2)]
Repetição e Sentido no filme O Feitiço do Tempo
O filme O Feitiço do Tempo, de 1983, dirigido por Harold Ramis, aborda essa relação que estabelecemos com o tempo de um modo criativo e bem-humorado ao nos contar a história do meteorologista Phil, interpretado por Bill Murray, um homem arrogante, vaidoso e petulante, que todos os anos precisa viajar até uma cidade pequena para cobrir o dia da marmota.
Nas margens da filosofia ( LVI)
O peso dos anos
Annie Ernaux ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 2022. Até essa altura nada conhecia desta escritora francesa e tive curiosidade em me actualizar. Sabia que grande parte dos seus livros tinham um toque autobiográfico, algo que de antemão me agradava pois penso que a vida real – a nossa e a dos outros – é um manancial de aprendizagens que constantemente destroem as ideias feitas que herdámos ou que nós próprios construímos. Antes de a ler sabia que esta autora escrevera grande parte das suas obras estabelecendo uma relação directa entre a História e a sua história de vida, fazendo jus à relação muito apreciada pelos franceses entre a Histoire e a petite histoire.
Moçambicanos de Pemba
Falta de caril e mais um bocadinho
Foi na passada segunda-feira, 31 de julho, que me encontrei com quatro jovens de Cabo Delgado, Moçambique, parte de um grupo de seis que veio desde lá para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa. Veio connosco uma amiga, a Andreia, que foi quem...
[Margem 8]
Nem amnistia nem multas de trânsito
As palavras que usamos contam. E há um sonho de esperança inesgotável que a palavra “amnistia” não é capaz de contar. Por sorte, temos uma outra: jubileu. Ou redenção, se me der para puxar a brasa redentorista à minha sardinha.
[O flagelo que não acaba – X]
A teia de aranha
Ainda há pessoas a quem lhes custa acreditar que a realidade dos abusos seja verdadeira; outras gostariam que estas coisas não se tornassem públicas, porque o que não se sabe não existe e é melhor não saber; e outras negam absolutamente que isso aconteça e veem isto como um ataque à Igreja. [A opinião de Cristina Inogés-Sanz]
[Brasil, Religião e Poder]
Se pudesse, “Deus mataria” e “começava tudo de novo
Dediquei um tempo a pensar em como abordaria a polêmica em que o pastor André Valadão se envolveu nas últimas semanas, ao dizer que, se pudesse, “Deus mataria” e “começava tudo de novo”, se referindo ao movimento LGBTQIA+. Quis pensá-la com cuidado, e por que não, com temperança.
[Os dias da semana]
Desta vez, Victoria Amelina
As tropas russas bombardearam Kramatorsk no dia 27 de Junho. Um míssil atingiu a pizzaria onde a escritora estava a jantar. Victoria Amelina não resistiu aos ferimentos provocados pelo ataque. Morreu no dia 1 de Julho. Tinha 37 anos.
E se fosse uma aurora de ressurreição?
ContrEconomia (8) – Para além da teologia do sacrifício-mérito e a visão comercial de Deus
A Bíblia revelou-nos um Deus diferente dos deuses naturais. Não escolheu reconhecer o sentimento religioso que já havia no mundo dando novas formas aos antigos cultos e ritos da fertilidade, da morte, da colheita. Pelo contrário, a Bíblia e, depois, os primeiros cristãos fizeram de tudo para salvar a novidade do seu Deus. Defenderam-no e guardaram-no a ponto de chamar “ídolos” a todos os outros deuses.
[Os dias da semana]
O conhecimento do inferno
A história é conhecida. O protagonista é um bom cristão. Está no céu há já algum tempo. A eternidade, a partir de um certo momento, começa a exasperá-lo. Nunca acontece seja o que for de estimulante. É um tédio, tamanha bonomia e tranquilidade. A ideia de ir conhecer o inferno começa, então, a germinar.
[Margem 8]
Agora, não sei o que fazer com esta teologia
Foi há muitos anos, como quem recebe um dom, que encontrei na iconografia bizantina um manancial de sugestões teológicas. O caso começou com um ícone da Descida aos Infernos, uma linguagem poderosa da Ressurreição enquanto invasão de Vida pelo território da morte adentro e, assim sendo, linguagem explosiva da Ressurreição enquanto comunhão de Vida que a ninguém deixa de fora.
[Cinema, existência e narrativa]
Encontrando uma ideia pela qual vale a pena viver e morrer
Este é o meu primeiro texto para o jornal digital 7MARGENS. Quando recebi a oportunidade para escrever neste espaço sobre religião, cinema e literatura, pensei em iniciar escrevendo sobre o que há em comum nesses temas, sobre os quais tenho conduzido as minhas...
[Nas margens da filosofia – LV]
Pascal e as razões do coração
Em boa hora o 7MARGENS deu o relevo merecido à carta apostólica recentemente publicada pelo Papa Francisco sobre Blaise Pascal. E ao mesmo tempo proporcionou-nos a leitura da intervenção do cardeal José Tolentino Mendonça relativa à mesma ocorrência, um texto onde se relevam as diferentes manifestações do pensamento e da acção deste pensador seiscentista.
[Moçambique, margem Sul]
Obscenidades e terapia em “vidas cantadas”
Luís Loforte publicou a obra Vidas Cantadas – um legado de Samora Machel (um olhar sobre as canções de trabalho). Trata-se de um majestoso registo, no qual transcreve e interpreta canções de e no trabalho, mas também canções que cantam vidas e o quotidiano; algumas vezes contrapondo a sociedade moçambicana à portuguesa. Fê-lo como uma demanda social, preenchendo um vazio que ainda se faz sentir em Moçambique.
[Brasil, Religião e Poder]
O complexo de Gabriela e uma aposta no futuro (sobre Lula e os evangélicos)
Viver sob o governo de Bolsonaro colocou o povo brasileiro em rota contrária; muitos eleitores de Lula, deixaram suas diferenças ideológicas de lado e apostaram em um futuro melhor. Esse foi o caso de parte dos evangélicos. Contudo, o Governo está negligenciando o diálogo com esse grupo. — a crónica de Maria Angélica Martins
[Olhar de teóloga]
Francisco na Disney: Outra forma de JMJ?
Confusa e assustada com o selo que o Vaticano, com uma grande falta de sensibilidade, emitiu sobre a JMJ de Lisboa e que, felizmente, foi retirado, vejo que poderia ser necessária outra forma de JMJ. Com um pouco de imaginação e criatividade seria possível ir reformando uma estrutura que não mudou desde que foi criada em 1984. O mundo e os seus habitantes mudaram muito desde então. Os jovens especialmente.
Nas margens da filosofia (LIV)
Voltando a lembrar a Manuela Silva
Para a programação das suas conferências de Maio deste ano, o Centro de Reflexão Cristã escolheu o título Fé cristã, profecia e cidadania: quatro legados para o século XXI. E propôs-se lembrar quatro figuras marcantes nesta área: Aristides de Sousa Mendes, Maria de Lourdes Pintasilgo, Alfredo Bruto da Costa e Manuela Silva.
[O flagelo que não acaba (IX)]
O perdão não substitui a justiça
Gostaria muito que este pudesse ser verdadeiramente o último artigo dedicado ao flagelo que não acaba, os abusos na Igreja. Como temo que, infelizmente, não poderá ser assim, não quero colocar (fim) e deixo em aberto a possibilidade de poder retomar a série. Vou-me referir ao perdão e à reconciliação em geral na Igreja, porque nos faz muita falta.
[Brasil, Religião e Poder]
PL da Fake News e a oposição de setores evangélicos
Neste momento, discute-se no Brasil o projeto de lei 2630, aprovado em junho de 2020 no Senado, cuja tramitação segue na Câmera dos Deputados e tem o apoio do governo Lula. O PL propõe medidas de combate à disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e aplicativos de mensagens privadas e, embora tenha o apoio de diversas entidades da sociedade civil, esbarrou na oposição de bolsonaristas, evangélicos e big techs.
[Moçambique, margem Sul]
Três diálogos necessários (e outros tantos) sobre pacientar e amarrar capulana
Pacientar é um neologismo muito utilizado em Moçambique. Não carece de explicação, porque a sua composição é esclarecedora. Este, em alguns meios que explicarei mais adiante, funciona em paridade com a expressão amarrar capulana. Esta última expressão, paradoxalmente ambígua, nuns contextos significa recato (para a mulher) ou seja, não atiçar “os apetites” dos homens para uma relação sexual. (Sara Jona Laisse)
[O flagelo que não acaba (VIII)]
Sensibilidade e bom senso
Pessoas perfeitas? Felizmente elas não existem na vida porque isso nos faria deuses. Ninguém nasce sabendo tudo; porém, nascemos com a capacidade de aprender e aquilo que não podemos aprender ou que nos causa dúvidas podemos perguntar. (Opinião de Cristina Inogés Sanz, teóloga)
[Margem 8]
“’tis but a scratch”
O tema podia ser um pormenor ou um sistema, um método que simplesmente já não funciona ou uma organização que desgraçadamente se estragou, mas há uma postura eclesial que se repete demasiado: reconhecer muito debilmente que aquilo que fazemos não está bem, mas resistir fortemente em mudar seja o que for. [A crónica de Rui Santiago]
[O flagelo que não acaba – VII]
Falamos de abusos na vida religiosa?
Só porque algo não é falado não significa que não exista. A cultura da impunidade não só nasceu e se instalou nos seminários, como também estendeu os seus tentáculos à vida religiosa. Não deve surpreender-nos porque o abuso de poder impregnou todas e cada uma das estruturas da Igreja, e a vida religiosa é uma delas. (Crónica de Cristina Inogés Sanz)
Testemunho
A caixa que me levou “àquela hora com Jesus”
A Caixa entrou-me em casa pelas mãos de uma mensageira. Não era um anjo, não! Mas andava lá perto. Trazia um brilhozinho nos olhos, era cara conhecida de caminho em comunidade. A Caixa era só uma caixa de papelão igual a milhões de outras caixas, mas… Dentro da Caixa, escrito a letras negras, quase gritava para a abrir! A seguir, leio arrepiada por baixo das letras gordas: “Que te leva àquela hora com Jesus”.
[Crónicas da Guiné – 6]
A jovem Diocese de Bissau
Já sabemos que a Diocese de Bissau é recente, teve em 1977 o seu primeiro bispo, D. Settimio Ferrazzetta, que morreu em 1999, com fama de santidade. O atual bispo, já o terceiro, é D. José Lampra Cá, desde 2021, mas está agora na Europa por razões de saúde. Se pensarmos que a outra diocese, de Bafatá, não tem bispo, por ter falecido de covid, temos que a Guiné-Bissau católica está fragilizada na liderança.
Tenho vontade de ser velha e medo de envelhecer
A velhice soa-me a poesia, a história, a vida, a sabedoria – sim, quem lá chega diz que esta não passa de uma visão romântica da inevitabilidade. Posso até aceitar, mas o certo é que tenho fascínio pelos velhos, sempre quis ser velha, desde cedo. Não há companhia que os supere.
[Nas margens da filosofia – LIII]
A beleza que nos poderá salvar
Fiquei chocada quando se menciona a possibilidade de retirar de igrejas e edifícios religiosos os painéis e pinturas do padre Marko Rupnik, alegando as suas culpas enquanto abusador de menores e de indefesos. [a opinião de Maria Luísa Ribeiro Ferreira]
[Os dias da semana]
“Cristo ressuscitado”, de Bramantino
Antes de me curvar para ler a legenda, permaneço intrigado perante esta pintura de Jesus Cristo que nos olha de frente numa sala do Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, em Madrid, no dia 25 de Março de 2023.
[Margem 8]
Quase reprovei a latim
Foi mesmo por pouco e ainda há quem lembre momentos tão hilariantes como aquele em que respondi ao professor que me perguntava, apontando o quadro, “O que está mal nesta frase?”, com um titubeante “Acho que deve ser os acentos, que faltam…” A sala deu uma gargalhada, o professor descompôs-se de riso também, e eu era o único que estava sem entender porquê. Afinal, para meu espanto, o latim não tinha acentos. Onde já se viu?
As lágrimas que regam o jardim da vida
A água é um dos compostos químicos mais importantes. Relativamente simples sob o ponto de vista estrutural, H2O é muitas vezes tratada como “a molécula mágica”, com tudo o que já dela se conhece mas também com o muito que sobre ela ainda há a saber. A água...
[Moçambique, margem Sul]
“Os sete saberes para a educação do futuro”: os legados de Luís Bernardo Honwana
Foi-me incumbida a missão de fazer um depoimento em homenagem a Luís Bernardo Honwana (LBH), figura renomada e importante da história social e cultural de Moçambique. Renomada pela mensagem que a sua obra deixa para gerações de tempos diferentes e pelo seu papel de escritor no que concerne à veiculação das suas ideias, consentâneas com as de uma maioria na sociedade, difundindo a causa da dignidade humana.
O amor como resposta à violência
Faltam poucos dias para a Páscoa, e, perante este exemplo, vejo que não estou preparada para as perguntas mais cruas:
– E tu, que te dizes cristã? Que terias feito, se fosse contigo?
[O flagelo que não acaba – VI]
Onde estão as associações pró-vida?
Pode ser estranho perguntar onde estão as associações pró-vida na realidade dos abusos porque, estando tão preocupadas em defender a dignidade do início e do fim da vida, parece não se preocuparem muito com o que acontece entre esses dois pontos da existência...
[Os dias da semana]
Acalma-te, pensa
Procurar saber como são ao certo as coisas, estar devidamente informado, ter um olhar crítico, saber distinguir o insignificante do importante, não ser cínico, pode fazer diminuir o número de indignações quotidianas.
[Nas margens da filosofia – LII]
Rezar ao ritmo da terra
Nestas últimas semanas temos vivido tempos difíceis, nos quais dolorosamente percebemos o significado real da expressão, muitas vezes ouvida, “uma Igreja santa e pecadora”. (Crónica de Luísa Ribeiro Ferreira)
[O flagelo que não acaba (V)]
Abusos sexuais: Blasfémia!
A realidade nauseabunda dos abusos, o flagelo que não acaba, não é um problema português, nem italiano, nem francês, nem espanhol. É um problema da Igreja, de toda ela e, portanto, de todos nós que nos consideramos Igreja. Porque, embora não gostemos de o reconhecer, a nossa Igreja está podre até à raiz. (Crónica de Cristina Inogés Sanz, teóloga e integra a comissão metodológica do Sínodo dos Bispos católicos).
[Quem ri por último ri pior - 3]
Será o riso um “curto-circuito” no nosso cérebro?
Estudar o riso enquanto gratificação televisiva despertou em mim uma atenção muito particular para com o fenómeno no quotidiano. O que partilharei de seguida é apenas uma das muitas coisas de que me apercebi, achei interessante e registei numa espécie de “diário de bordo”, que tenho vindo a completar nestes últimos anos. (Crónica de Abílio Almeida)
[Moçambique, margem Sul]
Ntumbunuko e outros “quinhentos”
Dos modos de viver em Moçambique e das suas filosofias de vida, marcam-me, ainda hoje, os rituais ligados aos gémeos.
[Mãos à obra]
“Fast Fashion” exige-nos consumo responsável
Se existe campo em que o nosso comportamento enquanto consumidores pode ter impacto é certamente no vestuário e calçado.
Opinião e debate
Abusos sexuais na Igreja: Quarenta dias e quarenta noites para (re)começar?
Tantas crianças abusadas por membros do clero! Como foi possível? Foram e são crianças, senhores! Exatamente aquelas que Jesus indicou como o foco do amor e da atenção, na sua imensa fragilidade e ternura: as crianças, os indefesos, os pobres, os que choram, os famintos, os presos, os negligenciados, os desamparados, os excluídos, os “pequeninos”. O que lhes fizestes a mim o fizestes, disse Jesus. (Opinião de Joaquim Azevedo)
[Nas margens da filosofia – LI]
Preservemos a nossa língua
Se a todos e a todas os que pretendem vir estudar para Portugal fosse oferecido um curso grátis de iniciação à nossa língua, certamente que se manteria (e hipoteticamente aumentaria) o número de interessados e interessadas em frequentar as universidades portuguesas.
[Crónicas da Guiné – 5]
Sol Mansi, a rádio que nasceu da guerra ao serviço da Paz
Significa “amanhecer o dia”, é a rádio católica da Guiné-Bissau e a mais ouvida no país, segundo um estudo encomendado pela delegação da ONU na Guiné-Bissau. As portas da Sol Mansi, dada a ausência do diretor em Portugal, foram-nos abertas por Anabela Bull Ramalho, diretora-adjunta. Explica-nos que nasceu da guerra a boa ideia que deu origem à rádio.
[O flagelo que não acaba – IV]
Rupnik e Anatrella: Um antes e um depois na realidade dos abusos?
O último caso tarda em chegar. Também sei que será difícil que venhamos a ver o último caso. É mais um desejo, quase uma utopia, do que uma realidade que possa acontecer.
[Brasil, Religião e Poder]
“A serviço do índio para a glória de Deus”
A situação desoladora na qual os Yanomami foram encontrados foi notícia no Brasil e no mundo. O avanço do garimpo ilegal é a principal causa da tragédia vivenciada pelos Yanomami. No dia 1 de fevereiro, Uol Notícias divulgou uma pesquisa realizada pelo ISA (Instituto Socioambiental) em parceria com a HAY (Hutukara Associação Yanomami). A pesquisa aponta que o garimpo ilegal cresceu 54% na área indígena Yanomami no último ano do governo do ex-Presidente Jair Bolsonaro (PL).
Imagens da pobreza e assistência em Portugal (III)
Como combater a permanência de milhões de pobres
A prevenção da pobreza tornou-se, a par da providência, um problema cada vez mais discutido durante o século XX, com soluções distintas propostas por socialistas, comunistas e liberais. Os primeiros e segundos atribuíam ao Estado a função assistencial, enquanto os últimos, tendencialmente, consideravam caber às instituições da sociedade, sobretudo, lidar com estas situações.
Imagens da pobreza e assistência em Portugal (II)
A Igreja no debate sobre como escapar ao ciclo da pobreza
A salvação dos ricos podia alcançar-se através de uma instituição fundada nos finais do século XV que combinava vários aspectos dos modelos atrás mencionados: as Misericórdias. Simultaneamente laicas e religiosas, as Misericórdias tinham como objectivo melhorar a situação dos mais desfavorecidos e prestar uma assistência mais organizada.
Imagens da pobreza e assistência em Portugal (I)
E se não houvesse pobres?
Tendo sido publicada, nos finais de 2021, a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, e nomeada recentemente a sua coordenadora, julgo que pode ter alguma utilidade perceber a durabilidade de algumas imagens e soluções ineficazes que, ao longo do tempo, foram sendo pensadas em Portugal em relação à pobreza e às formas de assistência.
[Margem 8]
O Simão e a oração-menina que lhe apareceu
O Simão ainda tem o tamanho de menino que consegue caminhar por baixo da mesa de jantar. Inclina um bocadinho a cabeça, risonho, e passa de um lado ao outro com as suas aventuras. Tem os olhos que são todo um convite para o mundo. A vida é atraída por aqueles olhos e vai por ali adentro em torrente, com o entusiasmo de um ribeiro.
[Brasil, Religião e Poder]
Da celebração à invasão, o grande trabalho a ser feito pelo novo Governo
No primeiro dia do ano, o clima no Brasil foi de celebração, não somente pelo fôlego que um novo ano sempre traz, mas porque o recomeço que o povo brasileiro ansiava, finalmente chegou. Lula, em uma cerimônia marcante – organizada pela primeira-dama, Janja, cabe dizer –, tomou posse como Presidente da República, cargo que a maioria dos brasileiros confiaram a ele pela terceira vez. Em uma quebra inédita de protocolo, o Presidente recebeu a faixa presidencial não do ex-Presidente Jair Bolsonaro, mas de um grupo de oito pessoas, que representou a diversidade da população brasileira e reafirmou o compromisso do novo Governo com ela.
[O flagelo que não acaba – iii]
Nem tudo é abuso sexual (há mais)
O abuso de poder, temo-lo repetido e continuaremos a insistir nisso, é a origem de todas as outras formas de abuso na Igreja. O abuso de poder é a principal fonte da maldade moral e da corrupção moral. É o uso pervertido e ilegítimo do poder para fazer dano a alguém.
[Crónicas da Guiné – 4]
O milagre da multiplicação das salas em Bissau
Era uma vez um jovem catequista de 18 anos. Deu-se conta de que uma boa parte das suas crianças não frequentavam a escola e quis saber porquê. A resposta foi fácil e simples: não havia lugar para elas. Então, a solução apresentou-se também fácil e simples: se não há lugar na escola, cria-se uma escola.
[Mãos à obra]
As Mulheres contam, no bairro Quinta da Princesa
São africanas, mulheres de etnia cigana e imigrantes. Vivem no bairro da Quinta da Princesa, Seixal, e fazem parte de um projeto de cidadania ativa para que a sua voz se ouça em diversas áreas: na saúde, na educação, na cultura e na ação social. “Na Quinta da Princesa As Mulheres Contam” é o nome deste projeto.
[Nas margens da filosofia – L]
O que fazer dos nossos livros?
Que fazer dos quase dezasseis mil livros que ao longo da nossa vida temos comprado e herdado? Dos meus irmãos recebi praticamente todos os nossos livros de infância pois nenhum pretendia guardá-los. A esses se acrescentam os livros de direito do meu marido, os meus de filosofia e as centenas de obras de história, de literatura, de enciclopédias, de dicionários etc., etc.. A casa de férias tem ajudado a solucionar esta situação e nela guardamos essencialmente a literatura infantil e policial.
[Quem ri por último ri pior]
A musicalidade dos risos esquisitos
Estudar o riso enquanto gratificação televisiva despertou em mim uma atenção muito particular para com esse fenómeno no quotidiano. O que partilharei de seguida é apenas uma das muitas coisas de que me apercebi, achei interessante e registei numa espécie de “diário de bordo”, que fui completando nestes últimos anos.
[Moçambique, margem Sul]
Pescadinha de rabo na boca
Sendo Moçambique um Estado laico, não deveria haver qualquer desconcerto com a religião; mas poderá haver algumas concessões para as crianças, nas escolas públicas, poderem completar os estudos, não cantando o hino, em respeito aos seus preceitos religiosos. Assume-se que deve haver liberdade de escolha. Mas, ao que parece, a abertura dada pelo Governo deixa também a sensação de alguma arbitrariedade, o que confunde as pessoas.
[Moçambique, margem Sul]
Natais de outrora, pobres – mas felizes (?); os de hoje, nem por isso
O Natal foi sempre um momento de festa, dada a proximidade do novo ano, que traz sementes de esperança. Ainda assim, tem sido um momento de oscilações, de coisas boas e de coisas más. É sobre isso que falarei neste texto.
[Os dias da semana]
“Neste Natal queria que a guerra acabasse”
O caminho encontra-se bloqueado, e a fúria cega de Vladimir Putin contra civis indefesos não parece querer abrandar, como ainda sábado, 17, era amplamente noticiado, mas Andrea Riccardi preconiza que, mesmo assim, seja feita uma vigorosa proposta pública de uma trégua. Sem ela, poderão parecer em vão os votos de um Bom Natal.
[Crónicas da Guiné – 3]
Ao encontro do islão na Guiné-Bissau
O animismo era a forma religiosa dominante na Guiné-Bissau, até finais do século XX. O século XXI tem trazido uma onda de adesões ao islão. A voz do muezim pela madrugada ou as prostrações em oração na rua têm uma afirmação crescente no ambiente urbano. Segundo o último censo, perto de 50% da população declara-se muçulmana. O animismo ainda tem a adesão de cerca de 30% e o cristianismo cerca de 20%, incluídas as várias igrejas cristãs. Impunha-se, portanto, procurar a Mesquita Central de Bissau ou Grande Mesquita de Bissau.
[Brasil, Religião e Poder]
A religião está em declínio?
A religião é um fenômeno que se situa mais na experiência do sagrado do que na instituição religiosa. Com isso, não devemos confundir um possível enfraquecimento do cristianismo com o declínio da religião, como podemos concluir do estudo do Pew Research.
[Crónicas da Guiné – 2]
A “Casa dos Direitos”, chão sagrado dos Direitos Humanos
A história é simples de contar. A casa era o posto da polícia colonial em Bissau. Como seria de esperar, era “lugar de humilhação e tortura”. Após a independência, “no tempo do partido único, continuou a ter as mesmas funções”. Até que… Mas o melhor é ouvir o seu atual responsável, ou melhor, o “coordenador” da sua atividade, Gueri Lopes Gomes.
[O flagelo que não acaba] (ii)
Algumas características do perfil dos abusadores (e dos encobridores)
Alguns podem não gostar, provavelmente muitos, mas sim, há um perfil de abusadores na Igreja regido por um padrão de comportamento: abusar do poder que foi concedido a uma pessoa. É importante ter isto em consideração porque não estamos a falar apenas de abusos sexuais, mas de todo o tipo de abusos que irei comentar.
[Os dias da semana]
À espera
Quase todos se apresentam voltados para o sítio onde estão Maria e José, que têm, mais por perto, a companhia de um burro e de uma vaca. Todos esperam. Ao centro, a manjedoura em que, em breve, será colocado o recém-nascido. É tempo agora de preparar a sua chegada, esse imenso acontecimento, afinal de todas as horas.
[Crónicas da Guiné – 1]
Terra de pobreza e de milagres
A Guiné-Bissau, como país, é um bom exportador de más notícias. E quando se chega ao território, o que imediato se faz notar é a pobreza e o lixo. Mas quando nos dizem “Tenho orgulho em Bissau ser uma cidade limpa… em comparação com outras capitais desta região de África”, percebemos que tudo é relativo – relativo aos padrões que adoptamos. Ou às notícias que procuramos. Porque há notícias que vêm ter connosco, pois sabem que serão bem acolhidas, e outras que se deixam ficar no seu cantinho, silenciosas, porque se reconhecem sem interesse.
[Os dias da semana]
Mundial de Futebol no Qatar: vale tudo para que haja espectáculo?
Razões não faltam para reprovar a realização do Mundial no Qatar. Na altura em que tanto se tem discutido sobre o que fazer para salvar o planeta da catástrofe climática, o Qatar vai ajudar a destruí-lo. A lista de “aberrações ecológicas”, que inclui a existência de ar condicionado nos estádios, é extensa, mas há uma, denunciada pela Greenpeace e citada pelo Monde, que é especialmente curiosa: para transportar para Doha, a capital do Qatar, os adeptos alojados em cidades dos países vizinhos, particularmente do Dubai, estão programados 160 voos diários. Ou seja, um avião a cada 10 minutos [5].
[Mãos à obra]
Em Lamego “o teu bairro é o nosso bairro”
Em quatro bairros de Lamego, 1400 pessoas estão unidas em torno do projeto “O teu bairro é o nosso bairro” para promover a inclusão social e a luta contra a pobreza. A ideia nasceu no ano passado e ganhou asas. Promovida pela Câmara de Lamego, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lamego e a Obra Kolping Portugal, já se traduz em diversas ações de proximidade com os moradores de Alvoraçães, Nazes e Ponte e Castelo.
[Nas margens da filosofia – XLIX]
Uma justa homenagem a Manuela Silva
No dia passado dia 11 de Novembro reuniram-se no ISEG familiares, admiradores, colaboradores e amigos de Manuela Silva, prestando-lhe homenagem através do lançamento de um livro onde a sua acção foi lembrada em múltiplas vertentes – social, política, espiritual e profética. Economista de profissão, ela colocou todo o seu saber, a sua energia e os seus interesses ao serviço de uma causa: construir um mundo melhor e mais justo, onde todos e todas conseguissem viver plenamente a sua dignidade de pessoas, ao mesmo tempo que respeitavam a Terra onde lhes foi dado viver.
[Olhar de teóloga]
De pastoral para pastoral
Estamos de parabéns! Terminou a fase diocesana do Sínodo, mas não o Sínodo em si, e começamos o caminho com tudo fresco na cabeça. Aquilo que dissemos nos grupos e que foi recolhido nas sínteses diocesanas e nacionais está disponível para refrescar a memória. A nossa voz soou clara, com conteúdo e força.
[Brasil, Religião e Poder]
Atos antidemocráticos revelam clima hostil e delirante no Brasil
Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente eleito no Brasil, observamos o meio evangélico reagir de maneira adversa; líderes pentecostais como Silas Malafaia e Edir Macedo declararam respeito ao resultado das urnas e abertura ao Governo Lula. Já o líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante, que é pastor na Assembleia Vitória em Cristo, a mesma igreja de Silas Malafaia, não está disposto ao diálogo, reforçando sua oposição ao Governo
[O flagelo que não acaba (i)]
A origem distante e próxima dos abusos na Igreja
Começo com este uma série de artigos sob o título genérico de “O flagelo que não acaba”, dedicados à realidade dos abusos na Igreja. Abusos sem especificações, porque acontecem de diferentes formas, e todos têm uma origem comum: o abuso de poder.
[Margem 8]
Quando a “realidade” é um pormenor ou um exagero
Uns rublos depois – uns dias depois, queria eu dizer – apareceu por lá uma maquinaria pesada, um daqueles rolos a alisar a terra. E adeusinho. Passou uma semana e mais outra sem que o alcatrão chegasse. Voltou lá ao gabinete o meu confrade. “Sim, sim, já está alcatroada. Olhe aqui.” E foi-lhe mostrado um mapa todo apresentável em que se via o milagre.
[Moçambique, margem Sul]
Quem manda no tempo? Quanto tempo custa o tempo?
Venho falar, hoje, sobre um assunto similar, a quantidade de eventos que têm lugar entre as famílias no sul de Moçambique, até que um casamento se realize.
[Mãos à obra]
Reabilitar a ideia e a consciência do bem comum
A partir da experiência e do percurso do autor, A Era do Nós. Propostas para uma Democracia do Bem Comum, da autoria de João Ferro Rodrigues, economista, procura refletir sobre a realidade atual para afluir em propostas concretas que, segundo ele, podem ser transformadoras no sentido de voltarmos à ideia do bem comum.
[Nas margens da filosofia - XLVIII]
Aprender a rezar com Etty Hillesumm
Na conjuntura de guerra que actualmente vivemos é particularmente chocante verificar como a religião continua a ser instrumentalizada em prol de opções políticas. As imagens que frequentemente vemos do Patriarca Cirilo abençoando os exércitos russos e apelando à sua coragem, constituem um insulto ao Deus misericordioso que a todos ama. E recordo uma figura que muito admiro – Etty Hillesum – pelo modo inovador como nos ensinou a rezar.
[Olhar de teóloga]
Alma de pobres (II)
Continuo com a reflexão a partir de As Sandálias do Pescador, de Morris West. Fico agora com a figura de David Telemond, o sacerdote que Kiril escolhe como secretário, apesar da sua obra teológica estar a ser submetida a revisão. Por certo, Kiril não favorecerá David Telemond quando chegar a rejeição da sua obra por parte da então Congregação para a Doutrina da Fé.
[Margem 8]
De uma bomba saiu uma casa
Valentín Cueto. Fica já o nome dele, à falta de melhor começo para uma história das que merece mais do que “era uma vez”.
Alma de pobres (I)
Reli neste Verão a novela – e voltei a ver o filme – As Sandálias do Pescador, de Morris West. Farei mais referência ao filme, porque muitas mais pessoas viram o filme e nem tantas leram o livro. Continua a surpreender-me a actualidade do seu argumento e as semelhanças com o momento que estamos a viver no mundo.
O futuro por (re)fazer
“Sabes, provocamos muito a terra.” E é verdade! Isso fez-me recordar do poema que se encontra em epígrafe: a terra anseia pelo nosso carinho, pelo nosso cuidado; entretanto, pouco parámos para agir sobre isso. E estamos todos doentes, nós e a terra.
“O que diz o Espírito às igrejas” – Acerca de uma carta aberta à Conferência Episcopal
Uma “Carta Aberta Sobre o ‘Relatório de Portugal ao Sínodo 2021-2023’” (CA), a recolher assinaturas nas redes sociais! Aí está um desafio que promete incendiar os ânimos. Convenhamos que a primeira fase do processo sinodal decorreu de forma relativamente morna, entre nós.
[Olhar de teóloga]
Cristãos fora da Igreja
Há já mais cristãos fora do que dentro da Igreja? Poderá haver alguém que acredite sem saber que acredita? O título de um jornal poderá ajudar algumas pessoas a descobrirem a sua fé incipiente? São perguntas que convinha que fizéssemos, pois as respostas às perguntas anteriores são: Sim, sim e sim.
Filme argelino vence Festival de Avanca
Um hino às mulheres que lutam contras as injustiças
O filme Soula, do argelino Issaad Salah (2021/França/Argélia) foi o grande vencedor do 26º Festival Internacional de Cinema de Avanca, cujo encerramento aconteceu no passado domingo. O júri distinguiu Soula como a melhor longa-metragem e, também, com o prémio para a melhor Fotografia (Arthur Fanget).
[Nas margens da filosofia]
O que sabemos dos nossos refugiados?
Assistimos de novo àquilo que pensávamos nunca mais voltar a acontecer na Europa depois das duas últimas grandes guerras – a fuga massiva de migrantes obrigados a sair do seu país para se manterem vivos. E trata-se de gente que até há poucos meses vivia bem, em cidades cuidadas e bonitas, com jardins, monumentos, escolas e igrejas maravilhosas, num ambiente pacífico que os seus habitantes nunca sonhariam ter de abandonar.
[Olhar de teóloga]
Um só rebanho com diversidade
Nunca escondi, nem esconderei, a minha relação com comunidades de diversidade sexual que acompanho na medida em que elas querem, onde tenho amigos com quem partilho alegrias, sonhos, esperanças, frustrações, tristezas, e fé em Deus e num cristianismo inclusivo que leve a Igreja a sê-lo também.
[Brasil, Religião e Poder]
O fundamentalismo e a vocação da religião
Estamos a viver no Brasil uma situação político-social lamentável, e não em razão da religião em si, mas do uso político da religião.
[Moçambique, margem Sul]
Caminhos das mulheres entre sinuosidades de relações
Dois assuntos me preocupam de momento e trago-os para partilhar com os leitores deste jornal: a diversidade de género, que é mais do que a binaridade mulher/homem, já instituídas, e a invisibilidade da mulher na construção de mentalidades.
[Olhar de teóloga]
O que Deus uniu…
O que Deus uniu… Como podemos permitir que esta frase seja usada quase exclusivamente no ritual do casamento? Deus nos une em tudo porque nos une na vida e para a vida. Estar unidos por e em Deus significa que temos uma origem comum que é o seu amor em criar-nos; significa também que temos um destino comum.
[Nas margens da filosofia – XLVI]
As pequenas alegrias
As grandes alegrias são intensas e, como tal, esporádicas. Ligam-se a eventos marcantes cuja recordação nos traz sempre felicidade e bem-estar. Reconstituímo-las com um misto de prazer e de saudade e a sua memória é uma espécie de tónico a que recorremos para afastar estados de depressão ou de angústia.
[Segunda leitura]
“It’s a long way to Tipperary…”
Vizinhos preocupados. Estranharam a ausência. Sim, mas ao fim de um ano e meio. Entretanto, Nicholas e Hilary estavam mortos em sua casa. Sozinhos, as persianas baixadas, tudo em silêncio.
[Brasil, Religião e Poder]
Yago Martins e evangélicos, conjuntura política e discurso
Yago faz uma leitura do apoio evangélico a Bolsonaro em 2018 e se posiciona em relação à eleição presidencial de 2022, na qual, possivelmente, Jair Bolsonaro e Lula Inácio da Silva entrarão em disputa. O jovem pastor mediático disse, contudo, sofrer de um “ateísmo político profundo”.
[Debate 7M: A Igreja e os média-16]
Religiões em diálogo nos media há 25 anos
Na atualidade, cresce a necessidade de deitar mão a uma nova mediação entre os factos e os leitores/ouvintes/telespectadores, que não passa só pelo jornalismo, mas é muitas vezes confiada a assessorias, com um quadro normativo próprio e que cruza as dinâmicas de comunicação com estatísticas, sondagens ou indicadores comerciais.
[Segunda leitura]
Notícia que não devia ser notícia
“Quero que as pessoas conheçam o meu ‘eu’ real”, desabafou. O que pressupõe que, se não dissesse nada, o seu ‘eu’ real continuaria desconhecido. Porquê? Porque, não dizendo nada, as pessoas continuariam a pensar (como à partida pensam de todos os homens de todo o mundo…) que ele era heterossexual. Tão simples como isso. E tão problemático como isso, claro.”
[Debate 7M: A Igreja e os média-15]
“Escutar com o ouvido do coração”
Na intervenção que foi convidado a fazer na conferência sobre os abusos sexuais de dia 10, o jornalista João Francisco Gomes teceu várias críticas ao modo como a Igreja Católica se relaciona com os média em Portugal. Depois de ter publicado esse texto na íntegra, e...
[Debate 7M: A Igreja e os média-14]
A missão de uns e de outros
Há uma questão fundamental que, por vezes, me parece estranhamente esquecida ou pouco considerada, quando se fala na relação entre a Igreja e os média. Uma pergunta que a um olhar mais atento se torna evidente, mas que na voracidade do quotidiano aparenta escapar: Qual é a função do jornalista? Que missão tem? Faz perguntas porquê e para quê?
[Debate 7M: A Igreja e os média-13]
Faz-se caminho andando… e, devagarinho, a Igreja está a andar
Há dias pediram-me que falasse sobre jornalismo e a importância do trabalho em conjunto de Igreja e comunicação social, com alguns seminaristas que se preparam para a ordenação. Repito aqui o que lhes disse lá, não como jornalista, mas como crente: a comunicação social é um tremendo veículo de evangelização do povo, em especial daquele que se encontra mais afastado da comunidade.
[Debate 7M: A Igreja e os média-12]
Uma Igreja mais colaboradora será mais eficaz
Como jornalistas, constantemente procuramos respostas. A Igreja Católica fala de abertura, mas a sua intenção termina muitas vezes nos documentos oficiais, isto é, na abordagem teórica ao assunto. Dificilmente ouvimos explicações diretas, os telefonemas não são atendidos, os emails ficam por responder. Questiono: se nada existe para esconder, porque no concreto se reduzem a tamanho silêncio?
[Debate 7M: A Igreja e os média-11]
Do problema do “conteúdo” à barreira da incompreensão mútua
Há uma sensação de déjà vu quando refletimos sobre as relações entre a Igreja Católica e os órgãos de comunicação social, maior ainda quando o foco é para a situação em Portugal. Ano após ano, há alertas assertivos sobre a crescente dificuldade na relação entre dois mundos que precisam de pontos de ligação.
[Debate 7M: A Igreja e os média-10]
Para acabar com o mutismo de sempre
Feita esta mudança a partir de dentro, abandonada a pose de detentora exclusiva da razão, a relação com a comunicação social, e com a sociedade, tornar-se-á automaticamente mais fluída e eventualmente menos tensa. Mesmo que do pecado de ter sido a última a querer saber a verdade a Igreja portuguesa já não se livre.
[Os dias da semana]
Crianças com maus dias
Importante é comemorar o Dia Mundial da Criança assumindo a urgência de subtrair o terror aos dias dos mais novos.
[Debate 7M: A Igreja e os média-9]
Pouca fé, num território difícil
Com meio século de experiência nestas áreas, surpreende-me sempre a pouca “fé” dos responsáveis da Igreja no universo da Comunicação Social. Endémica e pouco inteligente esta cultura arrasta atrás de si outros dados que alimentam esta instituição, estruturalmente avessa à transparência.
[Moçambique, margem Sul]
Tranças e forças: ambiguidades e magias identitárias
Os cabelos têm poder, sim, mas não devem alienar as nossas vidas, julgo.
[Debate 7M: A Igreja e os média–8]
A “surdez interior” e a coragem de sair de si
Há “uma surdez interior pior do que a física”, avisa-nos o Papa, porque “a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda”. Se quem pergunta e quem responde procura uma comunicação verdadeira, então, é preciso “reaver a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa”.
[Debate 7M: A Igreja e os média–7]
Autonomia, protagonismo e concorrência
É evidente que nem sempre a relação entre a hierarquia católica e os jornalistas leva em consideração o papel fundamental que estes profissionais desempenham no atual contexto de desinformação em massa. Isso não invalida que se reconheça uma melhoria na forma de projetar a comunicação, com maior profissionalismo nas estruturas católicas, apesar da sistemática dispersão de recursos e ausência de sinergias significativas.
[Nas margens da filosofia – XLV]
Os jacarandás já estão em flor
Nos noticiários que diariamente nos informam da guerra não vemos campos de trigo nem flores – vemos feridos, famílias destroçadas, crianças e adolescentes que viajam sozinhos. Um dos meus netos que foi à Ucrânia buscar refugiados levou-os à praia, quando chegaram a Portugal. Vou sugerir que os leve a ver os jacarandás em flor pois, como diz o poeta (que traduzo livremente), “tudo quanto é belo é uma fonte perene de alegria.”
[Debate 7M: A Igreja e os média–6]
Um fenómeno estranho e a fórmula do Papa
É um fenómeno estranho: como é que se explica que um tema sobre o qual todos têm opinião e que de uma forma ou outra faz ou fez parte da vida da maioria dos portugueses é tão rejeitado quando se trata de preencher espaço na emissão? — A reflexão de Lavinia Leal, jornalista da RTP.
[Debate 7M: A Igreja e os média–5]
Igreja e comunicação social – aliados na busca da verdade
Poucos casos servem melhor para medir a relação entre a Igreja e os media do que a crise global de abusos sexuais praticados sobre menores por elementos do clero. Esta crise é a maior que a Igreja Católica tem enfrentado nas últimas décadas, e embora haja sinais de que a situação está bastante melhor agora, pelo menos no mundo ocidental, podemos ter a certeza de que irá continuar a gerar manchetes e polémica durante muito tempo ainda.
[Debate 7M: A Igreja e os média–4]
Saber falar com os média
Há muitos, muitos anos, quando comecei a ser jornalista, não havia on-line, nem computadores, nem telemóveis, nem redes sociais. Não havia nada disso. Mas havia, em cada redacção dos grandes meios de comunicação social, um especialista em Igreja. Eram normalmente homens e sempre jornalistas seniores.
[Os dias da semana]
“A grande substituição”
Outras teorias da conspiração não têm um balanço igualmente inócuo para apresentar. Uma delas defende que estamos perante uma “grande substituição”; não ornitológica, mas humana. No Ocidente, sustentam, a raça branca, cristã, está a ser substituída por asiáticos, hispânicos, negros ou muçulmanos e judeus. A ideia é velha.
[Debate 7M: A Igreja e os Média–3]
Comunicar, o verbo que urge conjugar
É urgente (sim, é esta a palavra certa) que a Igreja – a sua hierarquia, os seus múltiplos departamentos – entenda que, para manter a sua respeitabilidade não pode furtar-se ao escrutínio da comunicação social, não pode fechar-se na sua concha. Tem de comunicar, comunicar com todos, esclarecer sempre que questionada, com a rapidez e a linguagem dos tempos que correm.
[Debate 7M: A Igreja e os média-2]
Será a comunicação uma prioridade da Igreja?
Na aproximação de mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais, partilho algumas linhas de reflexão sobre o modo como a Igreja em Portugal se relaciona com os média e com os jornalistas.
[Debate 7M: A Igreja e os média-1]
Igreja precisa mais dos média do que o contrário
Quando se pergunta se em Portugal a relação da Igreja com os média e os jornalistas é boa, uma resposta simplista é sempre uma má resposta, principalmente porque estamos a falar de uma instituição, a Igreja Católica, que por si só é uma multiplicidade de realidades. Para ser honesto, prefiro responder que não há uma resposta, mas muitas respostas, tantas quanto as instituições ou os serviços que constituem a Igreja portuguesa.
[Segunda Leitura]
… E de novo tostões e milhões!
Para o sr. Berardo, pelos vistos, um milhão de euros deve ser uma ninharia. Porque ele deve cerca de 900 milhões. Ou seja: gente como nós precisava de viver novecentas vidas para acumular esse montão de notas. E como é que alguém, no espaço de meia dúzia de anos, consegue ficar a dever 900 milhões de euros?… Como?…
[Os Dias da Semana]
“Os pássaros não são reais”
Uma entrevista concedida por um ex-agente da CIA, Eugene Price, tornaria credível uma acusação que, desde 2017, tinha vindo a ser amplamente difundida nos Estados Unidos da América por um movimento intitulado Birds Aren’t Real. Eugene Price corrobora que a CIA dizimou os pássaros do país, substituindo-os por imitações tecnológicas, drones emplumados cumprindo uma função de vigilância.
[Segunda leitura]
A calar ao telemóvel
A ironia disto é que um aparelho que foi feito para a gente falar serve agora, e cada vez mais, para a gente calar. Estamos à mesa com alguém, a conversa não sai ou não nos apetece que saia, ficarmos a olhar uns para os outros em silêncio é pouco agradável, e… puxamos do telemóvel. Pronto, já ficamos confortavelmente calados. Lemos notícias, vemos fotos, espreitamos vídeos, consultamos o Facebook ou o Instagram, lemos ou mandamos mensagens escritas, e por ali vamos estando, todos e cada um com o seu aparelhinho nas mãos e nos olhos, bem caladinhos, até que… chegou a comida! Vamos lá, duas de conversa rápida, que a comer não dá tanto jeito andar às voltas com o telemóvel (embora haja quem consiga!) e já voltamos ali. Já voltamos, não a falar, mas a calar ao telemóvel. Ele, afinal, não nos põe à conversa. Ele, afinal, põe-nos calados.
[Mãos à obra]
Música para adormecer os mais velhos em Leiria
Adormecer vai ser mais fácil e mais tranquilizante para os idosos que vivem em instituições de cinco concelhos da região de Leiria. A Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP) lançou o projeto “Serão com Avós”, para “embalar” os mais velhos.
[Olhar de teóloga]
A Ressurreição e as abelhas
Diz-se que no dia em que as abelhas se extinguirem, a vida deixará de existir porque, sem polinização, a vida vegetal não poderá subsistir e será desencadeado um processo de desaparecimento. Segundo os peritos, são insectos sociais hierarquicamente organizados que comunicam por meio de uma dança ritual.
[Nas margens da filosofia]
As éticas do cuidado – uma homenagem às mulheres ucranianas
As avós e mães ucranianas que hoje passam nos nossos telejornais, com as suas malas, embrulhos e animais de estimação, recolhidos à pressa, são o testemunho vivo da coragem feminina, tão importante para a salvação do país quanto a resposta dos homens que o defendem pelas armas. Daí a nossa homenagem a todas elas.
[Moçambique, margem Sul]
Arte, tatuagens e valores estéticos: os macondes de Moçambique
A arte maconde é característica de um povo oriundo do Planalto de Mueda, no Norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado. É conhecido estereotipicamente como guerreiro e extremamente ligado à arte, de tal sorte que essa manifestação cultural não só é representada em objectos, como também é colocada no corpo.
[Olhar de teóloga]
O grande inquisidor
A lenda de 'O Grande Inquisidor', de F. Dostoievski, está inserida na sua grande obra Os Irmãos Karamazov, e é uma parábola que alude à fé e ao ateísmo, que sempre andaram de mãos dadas neste magnífico autor. O texto narra o aparecimento de Jesus Cristo no...
Meditação sobre o Papa Francisco
Na sequência das eleições legislativas de Janeiro, o 7MARGENS pediu a alguns cristãos empenhados na ação política ou com reflexão sobre o tema que explicassem as razões do seu compromisso. Publicamos agora um texto de Adriano Moreira, professor universitário jubilado e antigo líder do CDS. O texto corresponde a uma intervenção feita em 2018 mas que o autor considera uma síntese do seu pensamento nesta área.
João Paulo II esteve na Ucrânia em 2001
Quando o Papa Wojtyla cantou, entre discursos crispados contra o invasor
No início do Verão de 2001, João Paulo II decidiu-se pela visita pastoral à Ucrânia. A viagem ao oriente eslavo terá sido uma das mais arriscadas do pontificado de Wojtyla pelo mundo.
[Nas margens da filosofia]
Quando a violência nos bate à porta
Quando falamos de violência imediatamente a identificamos com o abuso de força ou de poder sobre algo ou alguém, ou seja, pensamos num agressor e num agredido despojado dos seus direitos e que, enquanto tal, fica reduzido à condição de vítima. Etimologicamente ligamos este termo à sua raiz latina que é a “vis”, ou seja, a força ou vigor e é quase consensual defini-lo como um uso ilegítimo dessa força.
[Os dias de Cabo Delgado]
Trevas e luzes
Vi-me como uma mãe, com a sua criança às costas, abrindo caminho pelo emaranhado de ruas desconhecidas, numa cidade já distante na memória.
[Os dias de Cabo Delgado]
Os pobres no campo de batalha
Ninguém o diz, mas a pobreza é a primeira causa de morte no mundo. Nada se alcança com a guerra, apenas destruição e morte, primeiro dos mais pobres. Não sei se a Ucrânia está só como Moçambique quando aqui começou a guerra, mas sei que Deus está aqui, nos pobres, que continuam a morrer nesta guerra silenciosa.
[Os dias da semana]
Solidariedade com o povo ucraniano contra o clepto-imperialismo
Perante a guerra, os apelos à paz podem não ser suficientes. Mas não é por isso que se devem descartar. A Avaaz, uma das mais poderosas redes de campanhas cívicas globais, endereçou um aos governos de todo o mundo, tendo até às 18h04 de ontem sido subscrito por 1.280.800 pessoas de todo o mundo
[Moçambique, margem Sul]
Ubuntu: ser, construir e cuidar a Humanidade, na pressa em que vivemos
Sinto, cada vez mais, necessidade de dialogar com filósofos, a fim de que me ensinem o equilíbrio necessário para prosseguir como humana. Tenho-me preocupado em como criar e viver Ubuntu, termo que caracteriza uma filosofia de vida africana, a partir da qual se preconiza apoio mútuo entre seres humanos. A filosofia vive da defesa do bem-estar mútuo, no qual se defende “eu sou, porque tu és”, ou seja, só estarei bem se o outro estiver, daí que o apoio mútuo seja sempre premente.
[Os dias da semana]
Idoso, mas não idiota
É muito provável que Carlos San Juan de Laorden seja hoje o urologista mais conhecido de Espanha, ainda que não tenha sido a prática da medicina a conferir-lhe tamanha e tão fatigante notoriedade. Disse ele que estava cansado por, desde há semanas, ter de...
[Nas margens da filosofia]
Memórias divertidas de uma escola do antigamente
Comecei a minha carreira de professora a ensinar na mesma escola que frequentei e que nessa altura se chamava liceu[1]. Continuo a morar no bairro dessa escola. O nome da mesma está escrito no passeio, em letras azuis que se destacam no empedrado branco. No seu exterior o edifício mantém-se igual e embora nele não entre há muitos anos presumo que no interior haja poucas alterações.
[Segunda leitura]
Milhares, milhões, biliões…
Estou preocupado com a Pfizer. Mesmo. Então não é que, no último trimestre de 2021, essa big pharma teve receitas de ‘apenas’ 23,8 mil milhões de dólares, quando as previsões dos analistas financeiros estavam a apontar para receitas de 24,1 mil milhões de dólares?!… Então isto faz-se?!…
[Os dias da semana]
A liberdade de expressão não é a liberdade de mentir
De como uma famosa personagem literária, que a BBC transformou numa série de televisão, Padre Brown, ajuda a compreender a decisão de um tribunal em relação a um indivíduo que é deputado do Chega, e que acabou condenado por causa de uma acusação falsa contra um adversário político.
[Olhar de teóloga]
Outros o farão por nós
Pode ser que ainda haja espaço de manobra. Ou não. O que eu creio é que a pouca credibilidade que nos restava foi por água abaixo.
As crónicas de Cristina Inogés Sanz no 7M: Um olhar de teóloga
O 7MARGENS inicia, com esta crónica, um espaço de colaboração regular de Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola que integra a comissão metodológica do Sínodo dos Bispos católicos. Teóloga pela Faculdade de Teologia Protestante de Madrid, Cristina Inogés colaborou já com a Faculdade de Teologia de Gotinga (Gottingen), Alemanha e actualmente é colaboradora regular de várias publicações, entre as quais a Vida Nueva.
[Os dias da semana]
Contra a discriminação e o ódio
Os que sonharam e lutam por um mundo mais fraterno, mais justo e mais livre tiveram contra si fanáticos perigosos, mas deixaram um poderoso incentivo a que o combate contra a discriminação e o ódio não enfraqueça.
Holocausto
Lembrar as vítimas do nazismo
27 de janeiro, a data em que o Exército Vermelho libertou Auschwitz, tornou-se o dia internacional em memória das vítimas do nazismo. Hoje quero lembrar Karl Stojka, e o seu aviso: “Não foi Hitler, nem Göring, nem Goebels, nem Himmler, nem nenhum desses quem me arrastou e espancou. Não. Foi o sapateiro, o vizinho, o leiteiro.”
[Segunda leitura]
“Não é ainda o fim…”
Eu não queria falar de covid, mas o raio do bicho não nos dá descanso.
[Os dias da semana]
A desinformação no YouTube
A denúncia, feita na passada quarta-feira (12 de Janeiro) passou despercebida, mas valeria a pena retê-la: o YouTube “é um dos principais canais de desinformação e informação deturpada online a nível mundial”.
[Os dias da semana]
Os ultracrepidários
O ultracrepidarianismo é um termo recente que designa um hábito antigo. Foi agora eleita na Bélgica como a palavra do ano de 2021 para assinalar a extraordinária generalização da prática de emitir juízos sobre assuntos que se desconhecem.
[Segunda leitura]
À cata de boas notícias
Não é fácil dar de caras com boas notícias, elas não abundam mesmo – pelo menos, nas nossas televisões, nos nossos jornais, nos sítios da net que frequentamos. Às vezes, no entanto, uma salta-nos aos olhos a partir do ecrã.
[Os dias da semana]
Uma palavra do ano
Escolher a palavra em que melhor se pode encaixar um ano é uma prática comum em diversos países. Em Portugal, tem sido a Porto Editora a dinamizar esse exercício, que possibilitou que, até sexta-feira, 31, se pudesse seleccionar uma de entre dez palavras para...
[Os dias da semana]
A tralha natalícia
No período do advento natalício, o frenesi consumista nota-se mais. O dinheiro esbanjado em coisas desnecessárias é mais ostensivo. Em vez de ser uma festa que aponta para a alegria e a liberdade, o Natal parece homenagear a tristeza de uma insaciabilidade cumulada de tralha.
Crónicas de Ana Sofia Brito
Um livro da rua e do 7Margens
É um livro que começou no primeiro confinamento ditado pela pandemia, em Março de 2020. Ana Sofia Brito aproveitou os dias sem sair de casa para vasculhar todos os seus cadernos e papéis. Rasgou muito do que lhe entulhava as gavetas, mas também aproveitou muito – nas suas palavras, o que achava decente. O convite para escrever para o 7MARGENS e o encorajamento aí recebido levaram à ideia de um livro.
[D, de Daniel]
homens que são como a negação das estratégias
Gostava de poder perguntar ao Daniel o lado pelo qual ler este verso. Ouço-lhe o timbre da voz ao escrever esta frase. Perguntava-lhe se era a negação das estratégias que liberta os homens e os cola ao ritmo mineral e vegetal que há nas coisas, ou se era a negação das estratégias que fazem as coisas funcionar.
[Os Dias da Semana]
Não nos siga nas redes sociais
As redes sociais oferecerão vantagens que alguns terão competências para aproveitar, mas, hoje, é impossível desconhecer os seus abundantes inconvenientes, congénitos, há quem garanta. As vozes dos que têm denunciado que o modelo de negócio das redes sociais – a sua razão de ser, portanto – assenta na rendibilidade dos seus efeitos mais nefastos têm sido assaz audíveis. Muitos dos que se manifestam contra elas conhecem-nas internamente, por nelas terem desempenhado funções de relevo. Sabem, pois, muito bem do que falam. Entretanto, os que julgam que as desvantagens das redes sociais suplantam os benefícios têm-se multiplicado. Por essa razão, abandonam-nas, mesmo que daí resulte algum prejuízo. Não algum, mas imenso, foi o que a Lush, uma famosa marca de produtos de cosmética britânica com 400 lojas próprias em todo o mundo, teve ao encerrar milhares de contas do Facebook, Instagram, Snapchat e TikTok.
[Segunda leitura]
Um murro no estômago
Não é muito difícil apanhar um murro no estômago, basta a gente pôr-se a jeito, e pôr-se a jeito pode ser abrir os olhos para as páginas de um jornal e ler um daqueles trabalhos que nos deixam a cara à banda, um aperto na garganta, um incómodo pelo corpo todo, um… um… um murro no estômago! Por exemplo: “Há crianças a trabalhar para nós neste preciso momento. Em toda a parte. Exatamente 160 milhões, segundo os dados oficiais. Os extraoficiais desconhecem-se”.
[Os dias da semana]
Tardes de Novembro
Numa tarde de Novembro, um professor universitário aposentado lê e redescobre algo que, aliás, não ignorava. O que agora apreende de um modo novo é o que muitos desconhecem; compreende que o “movimento das pessoas através dos continentes já dura há milhares de...
[Segunda leitura]
Prrriiiuuu!… Cartão branco!
Li esta história no jornal O Minho e também na página de Facebook do SC Vianense. Gostei muito, até porque não conhecia a coisa, nunca tinha ouvido falar do tal cartão branco, nunca o tinha visto em qualquer competição desportiva. E fui à procura de mais.
[Os dias da semana]
Tempo de sobriedade
Suspensa no ano passado devido à crise mundial de saúde pública, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) decorre até 12 de Novembro no Reino Unido. Os media têm concedido à iniciativa uma significativa e justificada atenção e o jornal digital francês Mediapart teve a boa ideia de lançar na quarta-feira, 27 de Outubro, uma newsletter quinzenal sobre ecologia, destacando uma pergunta assaz relevante: “Por onde anda a sobriedade?”
[O supérfluo e o ambiente]
Elucubração a partir de uma improvável fisionomia de galinha
As políticas atuais apostam na inovação e no desenvolvimento tecnológico para reduzir a pressão da economia sobre o ambiente e favorecer a mudança comportamental, mas esta última é bem mais difícil de conseguir. Há valores instalados que nos levam a situações absurdas e até cómicas, se não tivessem a gravidade que têm na nossa sobrevivência.
[Segunda leitura]
Morrer de “selfie”
Anda imensa gente a morrer só por arriscar demais nessa atividade (que devia ser) lúdica a que chamamos (sem grande possibilidade de tradução) “tirar selfies”. Imensa gente mesmo. Lá voltamos à notícia: o estudo ali citado revela que, entre janeiro de 2008 e julho de 2021, morreram no mundo, no contexto de “tirar selfies”, pelo menos 379 pessoas. Trezentas e setenta e nove pessoas. Dá, em média, uma morte cada 13 dias.
[D, de Daniel]
há uma voz que bebo
Viajo para uma voz que escorre como um lado aberto, uma boca como uma abertura de lança, quer dizer, lugar directo ao coração, degrau onde ajoelhamos por ter chegado à nascente. Sou de um sítio em que a água era de colher: “Vai colher água à fraga”, foi um dos mandamentos aprendidos na infância. E eu fazia como vira fazer: a fraga era uma pedra grande mas humilde diante da qual o corpo se movia à oração.
[Segunda leitura]
Dá-me um abraço…
Aqui há dias fui a um concerto. Um concerto mesmo, ao vivo, numa igreja, com um grande coro e alguns instrumentos, e mais um órgão, tudo uma maravilha. E as saudades que eu já tinha, as saudades que a gente tem, de ir a concertos assim, não só quando o rei faz anos, mas muito, tipo quase todas as semanas, e estarmos ali, todos juntos, perto uns dos outros, a ouvir e a sentir ao mesmo tempo, um pulsar cá do fundo tão bom…
[Segunda leitura]
Gente fina é outra coisa
João Rendeiro é um homem fino. Muito fino mesmo. Um finório de todo o tamanho. “Fino como um rato”, como se diz na minha terra. Vê-se no fugir (perdão: no ausentar-se…), vê-se no enganar, vê-se no mentir, vê-se no enriquecer, vê-se no gozar com a nossa cara e com a cara da justiça. Ai vê-se, vê-se. Mas agora ao longe, muito ao longe…
[Mãos à obra]
Crescimento ou Decrescimento, eis a questão
O conceito de desenvolvimento sustentável tem duas interpretações: para os intelectuais humanistas é um desenvolvimento que respeita o ambiente, de forma abstrata, sem contabilizar desenvolvimento ou impacte ambiental, mas pode levar a questionar o modelo económico e até o modo de vida actuais; para os industriais, políticos e economistas entende-se como um desenvolvimento que possa ser eterno.
[Segunda leitura]
A votar, a votar!
“Começa hoje a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 26 de setembro”. Juro que ouvi isto na passada terça-feira, dia 14 de setembro. Assim mesmo, sem tirar nem pôr, na abertura de um noticiário na rádio: “Começa hoje a campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 26 de setembro”. Juro.
[D, de Daniel]
homens que escavam dia após dia o pensamento
Conheci um homem quando ele tinha decidido que chegara a hora de tornar-se Velho. Conheci-o quando eu tinha decidido que chegara a hora de tornar-me Cristão. Ele nos sessentas, eu nos vintes.
[Segunda leitura]
Que fazer com este título?
A notícia era forte, nenhum jornal passou ao lado dela. Um jornal escreveu em título: “Jovem morre em parque de campismo em Vieira do Minho”. E o outro…
[Mãos à obra]
Sever do Vouga: Jovens voluntários ajudam a reabilitar casas
São 80 jovens estudantes universitários e estão de férias. Mas em vez de irem para a praia ou viajar, decidiram dedicar vários dias a ajudar a reabilitar casas degradadas de pessoas carenciadas em Sever do Vouga, no distrito de Aveiro.
[Segunda leitura]
A minha vida por uma medalha?
Isto dos Jogos Olímpicos anda a dar-me que pensar. A coisa começou quando me pus a olhar para os corpos dos nadadores e das nadadoras. Viram? Aquilo são uns troncos (da cinta para cima, digo) tão desenvolvidos que mais parecem o que na gíria chamamos “grandes armários”. Ou “guarda-vestidos”.
[Os Dias da Semana]
Derrota no estádio, pancada em casa
A condescendência perante o machismo ou, pelo menos, perante as suas manifestações mais degradantes – dir-se-ia – acabou. Mas continua a haver demasiadas notícias que revelam existir ainda uma injustificada complacência perante a agressividade contra as mulheres e também contra os que, de algum modo, são mais vulneráveis.
[Segunda leitura]
“Mãe, pai, tirei um 20!”
Há um colégio no Porto que é barra no ensino da Educação Física. Sabia-se já há tempos e recordou-se por estes dias, pelas notícias. Há dois anos, nenhum dos alunos do 10º ano desse colégio teve menos de 18 valores a Educação Física. Grandes ginastas… Mas ainda os houve mais grandes, por assim dizer: metade desses alunos concluiu a disciplina com nada menos que 20 valores
E tudo a pandemia abalou…
A covid veio de mansinho e faz-nos lembrar aquelas noites que nunca mais acabam. O Papa Francisco, o lutador número um contra a pandemia e seus efeitos perversos, tem repetido à saciedade que de uma pandemia ninguém sai igual: ou saímos melhores ou saímos piores. E, quer queiramos quer não, a bola está do nosso lado!
[Segunda leitura]
A outra “Brigada do Reumático”
E quem é, e o que faz, o Xico Santo Amaro? Ele é um dos elementos da “Brigada do Reumático”. Isso mesmo, “Brigada do Reumático”. Mas não aquela, a outra, a dos generais caquéticos que, em vésperas do 25 de Abril de 1974, se calhar já cheirando o esturro que por aí vinha, decidiram ir prestar homenagem à ditadura e a Marcelo Caetano, decerto por serviços prestados.
Uma viagem pela adoção
Compaixão Ativa – a propósito do livro “As Crianças Invisíveis”
"Quanto maior fores, pior será, serás invisível”. Nova participação no 7MARGENS: no meu caso esta participação, durante a pandemia, tem sobretudo incidido em literatura e livros, dadas as limitações do confinamento em que (ainda) vivemos. Não tenho viajado, não...
[Segunda leitura]
Os milagres na rádio
Gosto tanto de ouvir os “discos pedidos”. As conversas entre quem está ao microfone e quem liga, as dedicatórias, os desabafos, percebe-se tão bem como a rádio é a companhia insubstituível que preenche umas horas solitárias em cada dia. E como se não bastasse, pelo meio há remédio milagroso. Sim, milagroso até dizer chega. É, chamemos-lhe assim para disfarçar, a ‘XPTOLA+’. E que é que faz a ‘XPTOLA+’? Há que ouvir…
[Segunda Leitura]
Isto não é gozar com quem…?
Ler jornais é saber mais. Vamos, então, a alguma leitura. Esta notícia, por exemplo: “Relação diz que pontapés e palmadas não são violência doméstica” (JN, 28/5/2021). O caso diz respeito a um homem que foi condenado, em primeira instância, a ano e meio de prisão e ao pagamento de uma indemnização de mil euros, por ter sido o autor destes atos de violência para com a sua companheira.
Os dias da semana
Fugir das redes sociais
Leïla Slimani tem “a impressão de que vivemos no mito da caverna de Platão e acreditamos que as sombras são a realidade. O que não é mais do que uma opinião faz-se passar por certeza, conhecimento, e colocamos todas as palavras ao mesmo nível”. Ao observar esta confusão, a escritora formula algumas questões: “Será que, na verdade, todas são iguais? A opinião de pancake44 sobre as vacinas ou a ameaça nuclear vale tanto quanto a de um professor de medicina ou a de um físico?”
Economia, Reforma e Contra-Reforma
O mercado e o templo (20/fim): E a rotura do “ora et labora” gerou dois individualismos
Em poucas décadas, Reforma e Contra Reforma acabaram com o terreno ético conquistado pelos mercadores entre os séculos XIV e XVI. O século XVII foi mais “religioso” que o século XIV, mas talvez menos “cristão”. E, depois da amizade entre frades e mercadores, entre clérigos e empresários, ressurgiu um afastamento suspeito.
O mercado e o templo (19): E, com a dor das mulheres, o mercado tornou-se divino
A Contra Reforma foi um tempo determinante também para a cultura económica e social da Itália e da Europa meridional. Nos conventos, as monjas eram reclusas vítimas de penitências extremas, protagonizando um imenso mercado da dor e do sofrimento. Para a Igreja e a sociedade, aquelas vidas, trancadas mas “produtivas”, tinham valor.
[Os dias da semana] A liberdade de informar e a liberdade de ser informado
Este Dia Mundial das Comunicações Sociais pode servir para reflector que não há um problema com jornalistas que tivessem sido informadores da PIDE, mas há com os que, demasiadas vezes, estão enredados noutras ligações perigosas.
Segunda leitura – “Vivo bem!”
Começam a multiplicar-se no Youtube pequenos vídeos com “os melhores momentos” de A, B, C ou D – membros do “Clube dos Grandes Devedores” – nas Comissões Parlamentares de inquérito. São momentos imperdíveis. Melhores que muito filme cómico que para aí pulula. E o mais engraçado é que eles não dizem nada. Nada de nada. Valem apenas pelas perguntas das deputadas. Porque quanto a respostas, temos “não sei”, “não me lembro”, “não tenho ideia”, “a minha memória não chega a tudo”, “teria de ver os papéis”, “não sei”, “não sei”, “vou pensar e depois digo”, “não sei”, “não tenho memória”.
O mercado e o templo (18): Mas nem todos os possíveis “nós” são boa comunhão
A vida social e económica dos mosteiros femininos, entre a Idade Média e a Modernidade tornou-se rica pelo abençoado ora et labora, pecados coletivos e “alegres” desobediências. A clausura foi quer um “fechar dentro” as mulheres, quer um “fechar fora” as ingerências masculinas.
O mercado e o templo (17): O mercado das mulheres-doadas entre herança e preço social
O sistema do dote como exclusão das mulheres da herança foi estabelecido pelos estatutos citadinos italianos já no século XIII e evoluiu com o crescimento da classe mercantil. O estigma negativo sobre o celibato feminino levou, de forma gradual, ao nascimento de novos Montepios e entidades de crédito e de beneficência.
O mercado e o templo (16): Porque a economia de Adão não é a economia de Caim
A propriedade privada é justa se é proteção da paz, garantindo Abel, isto é, defendendo, antes do “meu”, o “teu”, sobretudo no que respeita aos pobres. Um texto onde se fala também sobre o modo como o grande Duns Escoto lê a versão de “regra de ouro” dos Evangelhos como regra da socialidade económica.
Mãos à obra (9) – Casa de Santa Isabel: Uma Comunidade de Vida
A Casa Santa Isabel situa-se em São Romão, no concelho de Seia, no sopé da Serra da Estrela e estende-se por uma área de cerca de 40 hectares. Carlos Páscoa, colaborador residente desde 1983 e membro da direção, apresenta os objetivos desta comunidade terapêutica que ao longo de 40 anos trilhou caminhos de irmandade, cuidado com o outro e respeito pela natureza. Numa segunda parte, apresentamos uma pequena entrevista telefónica com o mesmo responsável.
O Mercado e o Templo (15): Quando o conhecimento era um bem comum e gratuito
As proibições teológicas souberam gerar meios de liberdade para mercadores e intelectuais, como seguros e universidades. A antiga cultura sabia que bem precioso, mesmo divino, era o conhecimento e protegia-o do lucro. Agora, na lógica do capitalismo, vêem-se apenas custos e benefícios. Este é o décimo quinto dos textos da série de crónicas que o 7MARGENS publica todas as quartas-feiras e sábados, da autoria de Luigino Bruni.
Segunda leitura: O que é um proletário? [À volta do 1º de Maio]
Um proletário, portanto, é alguém que não tem nada de seu, nem terrenos, nem fortunas, nem heranças, nada, e que apenas vive de vender a força dos seus braços num qualquer trabalho, recebendo daí um salário para sobreviver. A única riqueza (que muitas vezes também acarreta até mais pobreza…) são os filhos. A única ‘coisa’ de seu, por assim dizer.
O Mercado e o Templo (14): Quando a fragilidade se tornou uma virtude económica e civil
A beleza moral do empresário não depende apenas da sua capacidade, porque a riqueza é e permanece tragicamente efémera. A virtude continua a combater a sorte. A literatura é metáfora do espírito de um tempo e ajuda a compreender também a ética mercantil da Idade Média.
Mãos à obra (8) – Lápis que escrevem histórias felizes
Fomos novamente à Covilhã, desta vez pela mão de Rosa Carreira. Ita, como é conhecida, conta-nos como pequenos gestos gizados na colaboração e no envolvimento da comunidade podem construir solidariedade e escrever histórias de esperança. Por opção, as campanhas “Lápis Solidários” decorrem apenas nas pequenas mercearias e minimercados como forma de apoiar a economia local.
O Mercado e o Templo (13): O bom negócio é sempre arte das mãos e dos olhos
A nossa economia torna-se civil e civilizada apenas se é relação, se sabe unir os diferentes e viver, de modo criativo, contradições e ambivalências. Os mercadores escritores deixam-nos páginas de vida e histórias económicas com marca de competência, sobriedade, beleza e fé.
O Mercado e o Templo (12): Onde a pobreza não é vergonha e a riqueza é partilha
Franciscanos e dominicanos mudaram o mundo: ser rico entre quem louva a pobreza é muito diferente de o ser entre quem louva, mesmo religiosamente, a riqueza. O humanismo latino e pré-capitalista das cidades e dos mercadores medievais e a crítica do espírito do capitalismo
Mãos à obra (7) – Musas: do futebol à horta comunitária
O Sport Musas e Benfica, conhecido popularmente por Musas, foi criado em 15 de março de 1944, em pleno salazarismo e no final do horror que foi a II Guerra Mundial. Reunia então uma parte da comunidade de jovens das zonas do Bonjardim, da Fontinha e do Leal, na cidade do Porto. A prática do desporto, sobretudo do futebol, era um meio de convívio, mas também uma forma de resistência à vida sombria da época.
O Mercado e o Templo (11): Amor às pessoas do mundo é a “arte de negociar”
Comércio virtuoso e de sucesso é o de quem trabalha por dinheiro e, simultaneamente, por vocação. As duas coisas juntas. A riqueza, como a felicidade, chega procurando (também) outra coisa. É exemplar a criação de relações que tornou grande o toscano Francesco Datini. Pessimismo, cinismo, inveja e desconfiança são os grandes vícios capitais da empresa.
Os Dias da Semana – Socorrer urgentemente Cabo Delgado
Moçambique tem um amplo destaque na primeira página da edição de hoje e de amanhã do diário francês Le Monde, por causa dos ataques mortais de jihadistas à cidade de Palma e da instabilidade na província de Cabo Delgado, qualificada como “antigo canto do paraíso”. No interior, as páginas 16, 17 e 18 são integralmente dedicadas ao que se passa na região entalada entre “as ambições da indústria do gás e a pressão jihadista”.
Segunda leitura – “Um pouco mais de azul – eu era além”
Já tudo foi dito sobre isto, já toda a gente falou disto, mas eu não consigo não falar disto também: em Portugal, um terço dos pobres trabalham, têm até emprego estável, mas são e continuarão a ser pobres. E os seus filhos têm uma grande probabilidade de vir a ser pobres também.
O Mercado e o Templo (10): Perdão e segunda contabilidade do capitalismo meridional
Nas primeiras companhias multinacionais, surgidas nas cidades cristãs do séc. XIV, os pobres eram os representantes de Deus e participavam nos lucros. Saudade de um capitalismo imperfeito, mas ainda capaz de se converter às portas da morte e de abrir contas em nome do Senhor Deus.
Mãos à obra (6) – Ferraria de São João: Fazer acontecer
Desta vez, pela mão de Ana Sofia Soeiro, fomos até à aldeia de Ferraria de São João, concelho de Penela. Inserida na rede de “Aldeias do Xisto”, com uma população residente de cerca de 50 pessoas, alguns adolescentes e crianças, as gentes da terra, com o apoio da Associação de Moradores, decidiram fazer acontecer. E agora, outras gentes em outros lugares, lhes seguem as pisadas. Assim se exerce a cidadania.
O Mercado e o Templo (9): A infinita controvérsia que opõe o honesto e o útil
As informações detidas por quem comercializa são a base de uma decisiva e ambígua capacidade de antecipar o futuro. Serão os mercadores enganadores e desonestos? Este é o nono dos textos da série “O Mercado e o Templo”, escritos por Luigino Bruni, que o 7MARGENS publica todas as quartas-feiras e sábados.
O Mercado e o Templo (8): Quando e porquê os negociantes puderam ocupar o templo
Nos séculos XIV-XV, passou-se, rapidamente, do Bem comum ao bem do Município[1]: a Igreja justificava a ação dos homens novos do mercado, se beneficiava a cidade. Uma história que tem como protagonistas os Médicis e outros ilustres florentinos, Santo Antonino, o bem comum e os Reis Magos.
Mãos à obra (5) – Vizinhos de Aveiro: Cidadania ativa em prol da comunidade
A sexta-feira 13 de março de 2020 foi um dia marcante. Na sequência do agravamento dos casos de covid19 em Portugal, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa decretou o estado de emergência e avisou que a pandemia podia ser grave e duradoura, exortando os portugueses a mobilizarem-se. Nesse mesmo dia, respondendo ao apelo, surgiram os Vizinhos de Aveiro (VA), um coletivo cívico de apoio à comunidade, sobretudo aos grupos de risco.
O Mercado e o Templo (7): Quando o débito público era uma questão de dom
Se queremos compreender como se desenvolveu a ética económica na cristandade medieval e, depois, no capitalismo, temos de procurar mover-nos na sua radical ambivalência, partindo da primeira teologia cristã. As diversas conceções medievais, o debate que delas brotou e a questão que hoje se coloca (não só) à Europa.
Segunda leitura – A raspadinha e a raspadona
Portugal é o campeão europeu da raspadinha! Sim, da raspadinha. E é-o há já uns anitos, revalidando o trunfo ano a ano com grande à-vontade face aos demais concorrentes. Porque a distância de Portugal para os outros significa “uma grande cabazada”, como se diz em futebolês…
O Mercado e o Templo (6): E, entre Judas e Madalena, nasceu a economia europeia
O “ecónomo-traidor” torna-se imagem de quem vende para ganhar, de todo o comércio torpe; e a Maria, que une três diferentes mulheres dos Evangelhos, símbolo do desperdício piedoso para o culto para o bem comum. A desvalorização do trabalho e do mercado, fruto das culturas arcaicas e greco-romana e de erradas “ideias teológicas”.
Mãos à obra (4) – Troca-a-Tod@s: Economia e solidariedade
Da Covilhã, Graça Rojão, dirigente da Cooperativa CooLabora, conta-nos sobre o projeto Troca-a-Tod@s e o quanto este tipo de iniciativas são localmente importantes na construção de redes solidárias e de dinamização da economia local. Sobretudo em tempos de crise como o que agora vivemos.
O Mercado e o Templo (5): E a livre pobreza franciscana deu verdadeiro valor ao dinheiro
A recusa de qualquer riqueza pelos seguidores do Santo de Assis produziu inovações económicas fundamentais e manteve viva uma profecia ainda capaz de futuro. Os frades, não sendo utilizadores do dinheiro, tornaram-se mestres de uma outra economia, porque existem as moedas de Judas e as do Bom Samaritano.
O Mercado e o Templo (4): O tempo é bem comum, mas esquecemo-lo
Começámos a vender e a comprar tempo quando, no discurso religioso, entrou o Purgatório e, com ele, o negócio sobre tempo dos mortos e, portanto, também dos vivos. Vemos bem os efeitos da destruição do tempo na questão ambiental onde se faz destruição de futuro numa economia toda jogada no presente. No humanismo bíblico, há o Shabbat; no entanto, todos os dias são de Deus; depois, veio o “tempo misto”; e hoje…
Mãos à obra (3) – Sopa Para Todos: Combater a fome e apoiar a restauração
Dia 2 de fevereiro, na zona de Benfica (Lisboa) Ana viu um senhor a pedir uma sopa para comer. Após várias recusas, uma senhora acabou por lhe pagar uma sopa num café que estava mesmo ali ao lado. “O que me motivou a criar o grupo do Facebook foi a procura de uma solução que respondesse e simplificasse a situação a que tinha assistido nesse dia de manhã. Como não encontrei uma aplicação ou um projeto a nível nacional que respondesse ao que tinha imaginado, acabei por sentir necessidade de o criar, dando assim apoio a quem mais precisa de bens alimentares e, ao mesmo tempo, ajudando a restauração, conta ela ao 7MARGENS.
O Mercado e o Templo (3) – Há também um lucro bom e nunca se chama usura
A história não é ficção; a Providência fala também nos acontecimentos concretos; o Espírito sopra também dentro de um contrato. O grande debate teológico sobre a natureza dos lucros e um crucial discernimento realizado pelos franciscanos.
Os Dias da Semana – As pedras da poesia
O Dia Mundial da Poesia celebrou-se domingo passado, dia 21. Em diversos lugares a efeméride foi, talvez, aproveitada para tirar da estante alguma antologia de poemas sobre o amor, os gatos, o mar ou a saudade. Sobre pedras, não há ainda qualquer colectânea.
Segunda leitura – Uma moeda de trocas (e baldrocas)
As vacinas contra a covid-19 são um assunto complicado. Muito complicado. Complicado, sim, e não só por razões sanitárias, por uma questão grave de saúde pública. Claro que há a falta de vacinas, o atraso nas entregas, a polémica dos efeitos secundários, a luta pelo acesso prioritário, os “golpes” na fila de espera, a dúvida sobre maior ou menor imunização, claro que sim, que há isso tudo – e é muito. Mas há mais.
O Mercado e o Templo (2) – Não para amar o mundo, mas para cuidar do humano
Detenhamo-nos nas imagens dos Montepios. Antes de mais, a piedade, isto é, a imagem de Cristo morto nos braços de Maria. Porquê a piedade, como imagem dos edifícios, capelas, estandartes dos Montepios? Aquela imagem já era usada por entidades de assistência e pelos hospitais medievais. Simbolizava um dos momentos centrais da fé cristã, amadíssimo pelo povo que, naqueles séculos da vida conhecia sobretudo a dor, especialmente a das mães e das mulheres pela morte de muitos, demasiados, filhos e maridos.
Mãos à obra (2) – Cidadania Lab: Laboratório cidadão de aprendizagem coletiva
Aveiro tem sido um terreno fértil para a cidadania, muito por culpa de uma rede densa e ativa de cidadãos próximos do tecido associativo, empresarial e da universidade, sem esquecer a adesão crescente das instituições locais a estas novas práticas, sobretudo as IPSS. Os projetos de cidadania sucedem-se ao longo dos anos [Vivacidade (2015), Vivobairro (2016), Aveiro Soup (2017), Lab Cívico de Santiago (2019) e, ultimamente, os Vizinhos de Aveiro (2020) e o Cidadania Lab (2021)] com linhas de continuidade, seja pelas pessoas envolvidas, seja pelas causas que as motivam.