
“17%das pessoas idosas, com 65 anos ou mais, ‘estavam em risco de pobreza, mesmo depois de receber transferências sociais, como pensões e outros apoios do Estado’”. Foto © Miguel Veiga.
Nesta altura do ano, os jovens ocupam o palco da nossa vida social. Numerosos concertos e festivais, onde a música é rainha, organizados pelo país fora, reúnem os jovens em enormes multidões ao redor dos seus fãs. Não importa o preço das entradas para os verem e aplaudirem, em radioso delírio. É vê-los, em longas filas, de manhã à noite, a aguardar por um bilhete que lhes garanta o melhor lugar no espectáculo. Muita cerveja a correr nos copos e música estridente, matam a sede e enchem os ouvidos a multidões delirantes. Sobretudo, são os mais jovens que usufruem estas noites longas e escaldantes, destes reconfortantes meses de verão. Se assim acontece todos os anos pelo país fora, este ano, os nossos jovens foram desafiados a integrarem-se num especial evento, epicentro de todas as atenções. Referimo-nos à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento da iniciativa do Vaticano, o qual, ultrapassando as barreiras de todo mundo, congrega em Lisboa, mais de um milhão de jovens, nos primeiros dias deste mês de Agosto. Esta iniciativa, conseguiu movimentar jovens de todo o planeta, não importando a religião, cor de pele, credo, ou estrato social. Todos reunidos a fazer Festa, com o empático e carismático Papa Francisco. Debilitado, mas bem vivo e sorridente.
No meio de todo este grandioso frenesim, um vibrante hino à vida, não raras vezes esquecemos uma grande parte da nossa população mais idosa. Em algumas povoações do nosso país, já a ultrapassar o número dos seus habitantes.
A propósito, no passado Dia Mundial da População, a Pordata traçou um retrato dos portugueses com 65 anos ou mais. Revelou que eles já são quase 24% do total dos residentes no nosso país. São cada vez mais e vivem mais anos. Só que, a maioria deles, nos seus últimos dias de vida, vivem num estado de pobreza confrangedor.
Segundo o estudo que vimos seguindo da Fundação Francisco Manuel doa Santos, 35% dos residentes no nosso país com 65 anos ou mais, percepciona o seu estado de saúde como “mau ou muito mau”. Acima da média da União Europeia, onde essa percentagem não vai além dos 19%. Hoje temos uma esperança média de vida mais longa – era de 81 anos em 2021, quando, em 1960, rondava os 64 anos. Notemos que hoje temos cada vez mais centenários (eram 2.940 em 2022), representando um crescimento de 77% numa década. Só que na maior parte dos anos, vividos depois dos 65, não conseguem ter uma vida saudável.
Porém, a esperança de vida para os homens e para as mulheres, referem as mesmas estatísticas, não é a mesma. Quando as mulheres do nosso país atingirem os 65 anos, poderão ter ainda a expectativa de poderem vir a viver mais 22 anos, portanto, até aos 87. Já os homens podem esperar viver mais 18 anos, até aos 83 anos, mas apenas oito serão vividos de forma saudável, segundo o mesmo estudo.
E quanto aos rendimentos dos nossos idosos? Mais de 400 000 viviam em 2021, com menos de 551 euros mensais. Acrescenta ainda que 17%das pessoas idosas, com 65 anos ou mais, “estavam em risco de pobreza, mesmo depois de receber transferências sociais, como pensões e outros apoios do Estado”.
A directora do estudo refere ainda que poucos anos de vida saudável e risco de pobreza “se interligam muito e quanto mais velhas as pessoas, pior é a sua situação”. Muitos idosos, por terem reformas de miséria, sobretudo mulheres, não têm dinheiro suficiente, até para comprarem os remédios que os médicos lhes prescrevem. Neste momento, são já cerca de 720 mil pessoas. Daqui a 15 anos, a manter-se esta situação, serão mais de um milhão. Só que, remata Luísa Loura, responsável pelo estudo, este cenário pouco animador poderá vir a evoluir, dado que a população que virá a ter cerca de 80 anos, daqui a algumas dezenas de anos, será já mais escolarizada e descontaram ao longo da vida para a Segurança Social. Por isso, terão acesso a melhores cuidados médicos.
Há, por todas estas variáveis, esperança para um futuro mais optimista para os mais velhos que neste momento, com 2,5 milhões de pessoas, representam 23,7% da população em Portugal. A média na UE é de 21%. Um retrato, embora cinzento, aspira a melhores dias para cuidar dos nossos idosos. Assim o desejamos.
Florentino Beirão é professor do ensino secundário. Contacto: florentinobeirao@hotmail.com