
Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ, na conferência de imprensa desta quinta-feira: “Magoou-me.” Foto © Ricardo Perna/JMJ Lisboa 2023
O custo anunciado de cinco milhões de euros para construir o palco principal da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 “magoou” os responsáveis da Igreja e da iniciativa. A confissão foi do próprio bispo auxiliar de Lisboa Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ, que diz que agora é possível estudar soluções alternativas que reduzam os custos. Ao mesmo tempo, o mesmo responsável diz que estão orçamentados 80 milhões de euros para os custos de organização por parte da Igreja, relativos sobretudo ao acolhimento dos peregrinos – alimentação, alojamento e outros aspectos relacionados.
Numa conferência de imprensa realizada no final da tarde desta quinta-feira, o bispo admitiu que o número dos custos previstos “magoou-nos a todos”, ainda mais porque “vivemos um tempo em que todos sentimos as dificuldades, e a Igreja de modo particular vive o dia a dia das comunidades e das famílias”.
Acabado de chegar do Panamá, onde foi reunir com responsáveis da anterior JMJ, o bispo garantiu que já conversou com o Presidente da República, primeiro-ministro, ministra dos Assuntos Parlamentares, que no Governo tutela a preparação da Jornada, e presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Aliás, enquanto falava o bispo, numa conferência de imprensa transmitida em directo pelos diferentes canais de televisão, estas deram conta também das reacções simultâneas do presidente da CML, Carlos Moedas, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, naquilo que parecia a continuação de um jogo de pingue-pongue iniciado desde o início da semana, quando o jornal digital Observador publicou a notícia de que o custo do palco principal ascendia a 4,2 milhões de euros.
Já no início da próxima semana, o bispo Aguiar prometeu também que as equipas da JMJ irão reunir com responsáveis da Sociedade de Reabilitação Urbana, a empresa municipal de Lisboa à qual foi entregue a coordenação técnica da preparação da Jornada. O objectivo é fazer “uma análise microscópica” do que está previsto para verificar a “razão deste valor”: ou seja, todas as “parcelas” que a Igreja considere “não essenciais” e das quais se possa abdicar de modo a reduzir custos. Até porque “a Santa Sé ainda não validou a estrutura a 100%”, afirmou Américo Aguiar.
“Se nas parcelas estiverem coisas que são do nosso pedido e puderem ser eliminadas por não serem essenciais, pediremos para serem eliminadas”, acrescentou o responsável. Foram exactamente os alegados “requisitos” da Igreja que o presidente da Câmara invocou para argumentar que o município estava apenas a cumprir uma espécie de caderno de encargos da Igreja. Um dos elementos ainda não esclarecidos é a necessidade de garantir espaço para cerca de duas mil pessoas, incluindo mil bispos, 300 concelebrantes, 200 elementos do coro e 90 da orquestra, 30 tradutores de língua gestual de vários idiomas, além de convidados e equipa técnica.
Recorde-se que a estrutura em causa terá de ter capacidade para aguentar em cima do palco 2 mil pessoas – mil bispos, 300 concelebrantes, 200 membros do coro, 30 tradutores de língua gestual de vários idiomas, 90 membros da orquestra, além de convidados, staff e equipa técnica.
Questionado várias vezes pelos jornalistas sobre que parcelas poderiam ser essas – altura do palco, capacidade, dimensão ou outras –, o bispo não quis, no entanto, entrar em detalhes. Mas defendeu a bondade da decisão da CML em transformar aquilo que inicialmente estava destinado a ser uma estrutura provisória numa obra de carácter permanente, que ficasse “para o futuro”, como defendera na véspera o presidente da Câmara.
“Desde o início havia uma ideia que depois evoluiu”, disse o bispo. A CML agora “pensa que a estrutura devia ser para ficar – e a meu ver bem”, acrescentou. “Se o palco vier a ter uma utilização diversa no futuro, para nós também é muito positivo que isso possa acontecer.”

Terraplanagem dos terrenos do Parque Tejo, onde ficará o altar para os actos principais da JMJ Lisboa 2023: Foto © Clara Raimundo/7Margens
Nas suas declarações, o presidente da Fundação JMJ disse que “não sabia, nem tinha de saber” do valor da construção do palco mas garantiu que adoptará uma nova atitude daqui para a frente, acompanhando “todos os processos” que estão em curso “de forma mais activa”.
Reafirmando várias vezes que seria impossível realizar a JMJ em Lisboa sem o apoio do Estado, Américo Aguiar recordou que a Jornada é possível porque os diversos representantes do Estado manifestaram “todo o apoio”. “O nosso papel é pedir”, acrescentou, reafirmando também que se houver prejuízos eles serão assumidos pela Igreja mas que, caso haja lucro, ele será destinado a projectos na área social da juventude. “O que não queremos é ferir a JMJ com este ou outro tipo de acontecimentos. O evento é positivamente esmagador. Os portugueses nunca mais se vão esquecer da JMJ”.
Ao mesmo tempo, garantiu que a Fundação não desbaratará “um cêntimo” e que será respeitado “o apoio do Estado”, anunciando ainda que há já um acordo com o ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) de Lisboa no sentido de esta escola universitária “fazer o estudo do retorno, do impacto da JMJ na economia do país”.
Nas suas declarações simultâneas à conferência de imprensa do bispo, o presidente da câmara insistiu em que no dia 1 de Agosto, quando a Jornada se iniciar, “vai estar tudo pronto”. E defendeu-se: “Fui o primeiro político a dizer que tinha preocupação com os custos. Temos de olhar para isto como um investimento.”
Durante o dia, a SIC Notícias noticiou entretanto que a porta-voz do Patriarcado afirmara que o Presidente da República tinha sido informado dos custos previstos. Marcelo Rebelo de Sousa negou categoricamente que isso fosse verdade. Na conferência de imprensa, Américo Aguiar afirmou que o Presidente não sabia. E Marcelo considerou tudo “esclarecido”, depois de a primeira informação lhe ter provocado “estupefacção”.