O pastor José Manuel Leite, da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal (IEPP), morreu nesta segunda-feira, 22 de Novembro de 2021, em Coimbra, depois de meses hospitalizado para tratar vários problemas de saúde. Figura de relevo no protestantismo português, José Manuel Leite apoiou comunidades rurais, foi presidente de câmara e trabalhou em instâncias ecuménicas internacionais. Personalidade de diálogo e abertura, deixa um legado também na criação de estruturas de aproximação interconfessional em Portugal, de que se destacam o Centro Ecuménico Reconciliação. O 7MARGENS publica a seguir o seu obituário, da autoria de David Valente, membro da Sociedade Portuguesa da História do Protestantismo, em cuja página este texto também é publicado.
O funeral de José Leite decorre na quarta-feira, 24, na Igreja Evangélica Presbiteriana (R. 10 de Agosto, na Figueira da Foz), com o velório a iniciar-se às 10h00. A celebração fúnebre decorre a partir das 15h.
O Município da Figueira da Foz decretou para esse mesmo dia luto municipal, com a bandeira do concelho a ser colocada a meia haste.

O pastor José Manuel Leite, da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal (IEPP). Foto © Direitos Reservados
José Leite nasce em Lisboa em 24/03/1940, de famílias ligadas ao protestantismo português. Após terminar os estudos secundários no Liceu Pedro Nunes ingressa em 1959 no Seminário Presbiteriano de Teologia, em Carcavelos. Continua os seus estudos na Faculdade de Teologia de Montpellier (França) e no Instituto Ecuménico de Bossey (Universidade de Genebra, Suíça). Chega a preparar uma tese de doutoramento na Universidade de Salamanca, sobre Miguel de Unamuno, que nunca defenderá. Por outro lado, com o objetivo de ajudar os agricultores das suas paróquias, faz o bacharelato em Agronomia no Instituto Superior de Agronomia de Coimbra (1967-1970).
Ordenado pastor da Igreja Evangélica Presbiteriana em 1964, casa-se com Eunice Soares, e assume o seu primeiro pastorado nas paróquias de Alhadas (Figueira da Foz) e Bebedouro (Montemor-o-Velho). Viria mais tarde a ser pastor das comunidades da Granja do Ulmeiro e Portomar.
Pastor em comunidades rurais, José Manuel Bravo Teixeira Leite estuda sobre o que pode servir aos seus fiéis e em 1968, juntamente com diversos agricultores, funda a Cooperativa Agrícola do Bebedouro, da qual será o primeiro gerente técnico.
Em 1969 é nomeado como primeiro diretor do recém-inaugurado Centro Ecuménico Reconciliação, em Buarcos, Figueira da Foz, lugar que ocupa até 1988.
Atento à realidade social e política, José Manuel Leite é eleito pelo Partido Socialista como o primeiro presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, nas primeiras eleições autárquicas livres, depois da Constituição de 1976, cargo que ocupa, com devoção e brilho, entre 1976 e janeiro de 1980.
Com os padres católicos romanos Agostinho Jardim Gonçalves e Luís de França, e ainda com Jeremias Carvalho, Guilherme Pereira e David Valente, em 1988 funda a Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, uma Organização Não Governamental de cariz ecuménico e universalista, uma das primeiras ONG para o Desenvolvimento em Portugal.
Ainda nesse ano foi para Genebra, trabalhar como secretário executivo do Departamento “Justiça, Paz e Direitos Humanos”, da Conferência das Igrejas Europeias (KEK ou CEC) e um dos responsáveis em organizar a 1ª Assembleia Ecuménica Europeia (Basileia 1989). Em Genebra é também escolhido para representar o Conselho Mundial de Igrejas na Comissão de Direitos Humanos da ONU.
De regresso a Portugal em 1994, assume o reitorado do Seminário Evangélico de Teologia, de Lisboa, para onde se mudara desde Carcavelos, e aí ensina Patrística e Ecumenismo. Ao mesmo tempo volta ao pastorado na sua adorada comunidade rural do Bebedouro.
É membro de diversas comissões ecuménicas estabelecidas entre as Igrejas do Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic) e a Igreja Católica Romana.
No Sínodo de 1995 da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, é eleito presidente da Igreja, e da sua Comissão Executiva, funções que desempenha até 2002. Neste lugar conduz reformas importantes e necessárias, com vista a preparar a Igreja para o novo milénio e os seus desafios. Foi também, posteriormente, presidente do Sínodo nacional da sua Igreja.
Foi um dos presidentes do Copic, que ajudou a fundar, membro da “Comissão Igreja e Sociedade” da KEK (Bruxelas) e de alguns grupos de trabalho do Conselho Mundial de Igrejas (Genebra). Foi ainda membro da Direção da Sociedade Bíblica de Portugal.
Autor de muitos artigos em revistas teológicas e ecuménicas, em Portugal e no estrangeiro, colaborou com a imprensa regional e nacional, diária e semanal, em assuntos ligados às relações Igreja/Estado, religião e política.
Escreveu A Igreja Una e Plural, como uma introdução ao ecumenismo, que tem servido de livro de texto para os seus alunos desta área.
Para além da actividade ligada à escrita, José Manuel Leite tem sido conferencista em muitos fóruns, tanto em Portugal, como no estrangeiro.
Em 24/6/2018, a Câmara Municipal da Figueira da Foz, que já tinha atribuído o seu nome a uma artéria da cidade, agraciou-o com o título de Cidadão Honorário da Figueira, entregando-lhe a medalha de ouro e a chave da cidade. Esteve presente o ministro da Administração Interna.
Vem a falecer em Coimbra, em 22 de Novembro de 2021.
A direcção da IEPP manifestou o pesar pela morte de José Manuel Leite. “Servo e crente fiel dedicou a sua vida à missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo. (…) Confiante da unidade em Cristo, foi um dinamizador e empreendedor entusiasta do movimento ecuménico em Portugal”, lê-se na página da Igreja Presbiteriana no Facebook.
Também o Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic) que, além de presbiterianos, junta ainda metodistas e anglicanos (lusitanos) divulgou um comunicado no mesmo sentido. “No ano em que celebra o seu 50º aniversário, o Copic faz respeitosa memória do trabalho desenvolvido pelo pastor José Leite na implantação do movimento ecuménico em Portugal”, diz o texto. “O seu envolvimento direto nas instâncias ecuménicas mundiais e europeias projetou internacionalmente o movimento ecuménico português trazendo igualmente novas visões e aberturas para as Igrejas nacionais”, acrescenta, destacando ainda “a práxis de vida e de fé cristã” de José Leite, “que o levou a assumir cargos de natureza política para o bem e serviço da comunidade, sempre na defesa do papel das minorias religiosas e outras na sociedade portuguesa”.