
Justin Welby tentou apaziguar as partes, mas sem sucesso. Foto © Catedral de Cantuária.
A “cimeira” mundial da comunhão anglicana terminou com a celebração eucarística realizada na Catedral de Cantuária no domingo, dia 7 de agosto, mas ninguém pode antecipar que contornos terá a próxima conferência de Lambeth a acontecer no final desta década, tão profundas são as divisões entre os bispos de todo o mundo no que toca à ordenação de pessoas LGBT e à bênção de casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Tal como já acontecera durante o serviço de abertura, a 31 de julho, alguns bispos e as suas mulheres permaneceram sentados enquanto a comunhão era distribuída, vincando, assim, a sua incompleta comunhão com os bispos das igrejas anglicanas que rejeitaram o ensino tradicional de que “o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é permitido” e que “as relações entre pessoas do mesmo sexo não têm suporte bíblico”.
Mais do que qualquer outro tema, este é foi o assunto que durante os dez dias da Conferência de Lambeth 2022 dividiu as centenas de bispos presentes, embora já antes do início dela, o assunto fosse altamente fraturante [ver 7MARGENS]. A divisão anunciada tornou-se, porém, mais acentuada, apesar dos esforços do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, que ao longo de toda a conferência reuniu por várias vezes com os grupos que protagonizavam os polos mais opostos do debate. A sua tentativa final [ver 7MARGENS] para apaziguar as partes, afirmando a manutenção da doutrina como ela fora formulada por Lambeth em 1998, mas reconhecendo que na Comunhão Anglicana existe “uma pluralidade de pontos de vista” sobre o tema e há “Províncias a abençoarem e a acolherem a união/casamento entre pessoas do mesmo sexo”, não terá surtido o efeito desejado.
Já perto do final da conferência mais de 170 participantes subscreveram uma posição em que se lembrava “a dor de muitas pessoas LGBT+ que foram historicamente feridas pela Igreja”. Em defesa dessas pessoas, os bispos subscritores deixavam expresso a sua vontade de “reconhecer e afirmar a santidade do seu amor e dos seus relacionamentos”.
Reagindo a esta declaração, representantes da Sociedade do Sul Global de Igrejas Anglicanas — que integra 275 bispos anglicanos da África, Ásia, Pacífico e América do Sul — sentiram-se na necessidade convocar na sexta-feira, dia 5 de agosto, uma conferência de Imprensa para afirmar: “Não podemos aceitar uma pluralidade de pontos de vista sobre verdades essenciais. Se não houver arrependimento autêntico das Províncias revisionistas, então, com tristeza, teremos de aceitar um estado de comunhão imperfeita com elas.” Um dos protagonistas da conferência de imprensa, o arcebispo do Sudão do Sul, Justin Badi, disse que a Comunhão Anglicana “se estava a tornar cada vez mais uma associação de Igrejas”, concluindo: “A dura realidade é que não podemos ser uma verdadeira Comunhão se algumas províncias insistem na sua própria autonomia e desconsideram a necessidade de ser um corpo interdependente.”
Não parece fácil, a partir de posições tão extremadas, manter a comunhão integral entre todas as “Províncias” da Comunhão Anglicana.
As Conferências de Lambeth são assembleias que reúnem os primazes, bispos e bispas da Comunhão Anglicana do mundo inteiro e realizam-se todos os dez anos, sendo dirigidas pelo arcebispo de Cantuária.