“Quando uma pessoa se desarma, se despoja de si mesmo, se abre ao Deus Homem que faz novas todas as coisas, então, Ele apaga o passado mau e dá-nos um novo tempo no qual tudo é possível.”
(Patriarca Atenágoras, de Constantinopla)

“Em suma: viu um pequeno povo, que, como o povo “eleito”, procura continuamente água no deserto. Para beber e dar de beber aos outros.” Foto: Juntos pela Europa, Encontro Porto 11 novembro 2022. Grupos © JpE, CKBrand
Sinto-me um pouco embaraçada. Perguntam-me: como correu o encontro com os meus amigos no Porto e, afinal de contas: o que é isto de “Juntos pela Europa”? O que é que 166 pessoas de 19 países diferentes, de 45 movimentos e comunidades de oito igrejas, podem fazer em conjunto, quando “os semelhantes atraem os semelhantes” e a diversidade é raramente – ou talvez nunca – uma força de coesão? E sem falar das diferentes visões geopolíticas, culturais, históricas, confessionais e, além disso: o que farão agora os russos e os ucranianos, que também estiveram presentes? Hoje em dia a Europa já não está na moda. Por que motivo seguir utopias e sonhos inúteis neste mundo polarizado?
Enquanto tais pensamentos e possíveis respostas bombardeavam a minha mente, pensei em Jesus que não começou por explicar como e onde vivia, mas respondeu com um simples convite: “vinde e vereis” (João 1,39). Quem esteve pessoalmente no Porto, de facto “veio e viu”.
Viu a comunhão de 11 movimentos portugueses que, com grande empenho, providenciaram casa, comida, técnica e, acima de tudo criaram família entre todos os participantes
Viu especialistas que ofereceram os seus conhecimentos alargando os horizontes de um público atento.
Viu personalidades eclesiais que, pela sua presença e orações, quiseram dar não só a bênção, mas também um forte apoio a esta rede ecuménica.
Viu jovens capazes de escolhas sérias, que deram um sentido às suas vidas; jovens que com generosidade, ímpeto e poesia falaram de futuros projetos concretos nos seus países e cidades.
Viu gratidão por quem, após anos de um serviço excecional, está de saída para assumir novas tarefas; havia lágrimas nos olhos quando os corações se abriram, ao renovar o pacto de amor recíproco.
Em suma: viu um pequeno povo, que, como o povo “eleito”, procura continuamente água no deserto. Para beber e dar de beber aos outros.
Na noite da oração ecuménica, sentei-me à parte, na fila de trás da imponente Igreja de Cedofeita, no Porto. Um amigo convidou-me para a primeira fila. Como cenário, atrás do altar, estava à minha espera uma imagem que nunca tinha visto: não era um Redentor sofredor na cruz, nem mesmo um Ressuscitado que venceu a morte. Era uma grande imagem de Cristo “desarmado”, com os braços abaixados, emergindo de uma base cheia de fendas – um ícone das polarizações, das divisões que habitam em nós, entre nós, à nossa volta.
Fixei o meu olhar Nele. Desarmar-se! Está aqui o segredo da força de coesão! Será esta a palavra-chave, que abrirá a Europa e todo o Juntos a novos horizontes e a novas possibilidades?
Ilona Toth é húngara e representa o Movimento dos Focolares na rede Juntos pela Europa; este texto foi publicado inicialmente na página do JpE.