Desobediência

| 20 Nov 2022

“Essa desobediência da não submissão, da resposta firme e nunca agressiva. Essa desobediência gostava muito de saber ensinar à minha filha.” Foto © Inês Patrício

 

Recentemente fui desafiada a algo que não esperava. Provavelmente deveria começar a ensinar a minha filha a prevaricar, disse-me o meu pai. Foi a palavra escolhida. O sentido era o de rebeldia, de desobediência. Eu fiquei a pensar. Pisar o risco é importante. Não se ser sempre acertado ou responsável, claro que sim. Mas de repente senti-me confusa na minha postura. Porque se estou a educar, como ser as duas faces da medalha? Ainda para mais, vivemos na Alemanha. Na Alemanha cumprem-se as regras. Não me parece que seja por amor ao certo, ao correcto. Cumprem-se regras porque as regras são para ser cumpridas. Porque o não cumprir pode trazer descontrolo ou contas para pagar. As crianças são aqui crianças à brava, mas sabem, desde muito pequenas, onde estão as linhas vermelhas. Tentei arrumar o assunto, adiar talvez por uns anos.

Gandhi, para mim, tinha sido um homem pela não-violência, um líder espiritual. Tinha alguma ideia das greves de fome e das prisões durante o processo de independência da Índia. Gandhi tinha sido assim, vagamente para mim, até ver o filme. O filme não é o homem, mas o filme marcou-me. Gandhi foi um homem politicamente muito envolvido e combativo. Ele viveu determinado a conseguir a Justiça, a não exploração, a igualdade. Os direitos defendidos com firmeza, com dignidade e com desobediência. “Não lutaremos mas não sucumbiremos.” Pacificamente, sem violência, mas sem cooperação. A prática da resistência civil. Podiam prendê-lo, tirar-lhe tudo o que tinha, partir-lhe os ossos, mas não teriam a sua obediência. Terá chegado a dizer que acreditava que seria possível enfrentar Hitler com não violência, mas não sem muito sofrimento. Mas com a guerra não estava também a haver muito sofrimento?

Passou mais de um ano e eu continuo a pensar muito naquela forma de luta. Um mundo cheio de guerras, cheio de vítimas. E medo. Até medo das vítimas. Um mundo de exaltações febris, instantâneas e irracionais. Mais medo e mais ódio e mais morte. Nos nossos dias comuns também não faltam pessoas com vontade de agredir. Falta desobedecer. Não apenas resistir, desobedecer mesmo. A brutalidade deve ridicularizar-se na falta de resposta bruta.

Há alguma dúvida de que as guerras não servem nenhum povo? Há alguma dúvida de que as guerras não são políticas ou ideológicas? As guerras são negociatas aos mais altos níveis, para enriquecer um punhado de homens e mulheres de negócios. Porque aceitamos? Porque patrocinamos? Porque obedecemos?

E o negócio da saúde? E o negócio do ensino? E o negócio da Natureza? Podemos obedecer? Vamo-nos deixar agarrados aos ecrãs? Já dizia magoado o José Mário Branco “Entretém-te filho, entretém-te.”

Precisamos de inteligência. Precisamos de irreverência. A “Garota não” escreve: “Podem decretar o fim da arte/ E a gente faz uma canção sobre isso.”

Essa desobediência da não submissão, da resposta firme e nunca agressiva. Essa desobediência que se aprende com a arte e o respeito profundo por todas pessoas. Essa desobediência gostava muito de saber ensinar à minha filha.

 

Inês Patrício é médica, vive em Berlim com o marido de olhos de mar e uma filha solar.

 

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Prevista pena de morte

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio novidade

Uma nova legislação aprovada pelo Parlamento ugandês esta semana prevê penas de até 20 anos de prisão para quem apoie “atividades homossexuais” e pena de morte caso haja abusos de crianças ou pessoas vulneráveis associados à homossexualidade. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, já pediu ao presidente do país africano que não promulgue esta “nova lei draconiana”, mas os bispos do país, católicos e anglicanos, permanecem em silêncio.

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

Após reunião com Comissão Independente

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores novidade

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) suspendeu preventivamente um elemento suspeito da prática de abusos sexuais de menores, depois de ter recebido da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica a informação de sete situações de alegados abusos que não eram do conhecimento da organização. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 24 de março, o CNE adianta que “está atualmente a decorrer o processo interno de averiguação, para decisão em sede de processo disciplinar e outras medidas consideradas pertinentes”.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Em Lisboa

Servas de N. Sra. de Fátima dinamizam “Conversas JMJ” novidade

O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Além da montanha… existe um arco-íris

Além da montanha… existe um arco-íris novidade

Vi o livro no balcão do espaço de atendimento, no seminário dos Dehonianos, em Alfragide. A capa chamou-me a atenção. Peguei nele, folheei aleatoriamente e comecei a ler algumas frases. Despertou-me curiosidade, depois atenção e logo após interesse. (Opinião de Rui Madeira).

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This