
Presépio na unidade paroquial de Marcel Callo em Flers (França), inspirado no logótipo do Sínodo. Foto: Direitos reservados.
Há uma “desorientação manifestada por alguns membros do clero” em relação ao Sínodo da Igreja Católica 2021-23 convocado pelo Papa Francisco e esse é um desafio recorrente. Além disso, há também algum “medo e a reticência entre alguns grupos de fiéis e entre o clero”, bem como “uma certa desconfiança entre os leigos que duvidam que o seu contributo venha realmente a ser tido em conta”.
Estas apreciações são do conselho ordinário do Sínodo dos Bispos, que divulgou uma síntese da avaliação da dinâmica que pretende envolver o maior número possível de crentes em todo o mundo e, mesmo ultrapassar as fronteiras da Igreja Católica.
Nessa avaliação, o conselho considera ainda que se verifica “a necessidade de encontrar novas formas de melhorar a participação dos jovens” e de promover “o envolvimento daqueles que vivem à margem das instituições da Igreja”.
Em Portugal, entretanto, o conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que esteve reunido em Fátima nesta terça-feira, 8 de Fevereiro, regista o “entusiasmo” e seriedade na escuta de todos que se verifica nas dinâmicas criadas, mesmo em relação “aqueles que não andam nos espaços habituais dos ambientes eclesiais”.
O padre Manuel Barbosa, secretário da CEP, disse a propósito ao 7MARGENS que as jornadas pastorais da CEP, em Junho próximo, irão avaliar as sínteses que, entretanto, serão elaboradas pelas dioceses. “O processo continua e a escuta é também para os que estão fora da Igreja”, diz. No entanto, os bispos portugueses não se debruçaram sobre a avaliação feita pelo conselho do Sínodo, que chegara na segunda-feira de manhã, véspera da reunião do conselho permanente da CEP. “Iremos depois analisar esses elementos”, garante Manuel Barbosa.
Na avaliação referida, de acordo com a informação enviada também ao 7MARGENS, o conselho do Sínodo considera ainda outros dois “desafios recorrentes”. O primeiro respeita à “necessidade de formação, especialmente na escuta e discernimento, para que o Sínodo seja autenticamente um processo espiritual e não seja reduzido a um debate parlamentar”. O segundo alerta para a necessidade de “evitar a autorreferência nas reuniões de grupo porque a escuta mútua, que encontra o seu fundamento na oração e na escuta da Palavra de Deus, só pode levar à abertura aos outros na óptica do anúncio do Evangelho”. E acrescenta: “Uma igreja sinodal é uma igreja missionária onde cada baptizado se sente corresponsável pela missão da Igreja.”
A reunião do conselho do Sínodo, cuja síntese foi agora divulgada, decorreu dia 26 de Janeiro de 2022, e pretendeu analisar “o andamento do processo sinodal” e a realização dos relatórios das dioceses, conferências episcopais, sínodos das igrejas orientais ou de outros corpos eclesiais. O conselho “expressou grande satisfação com o progresso do processo a nível local”, uma vez que 98% das conferências episcopais e sínodos das igrejas católicas orientais de todo o mundo nomearam já uma pessoa ou uma equipa para animar o processo sinodal.
Onde estão os mais entusiasmados

“Os leigos, organizados ou não, e a vida consagrada em particular, estão a mostrar grande entusiasmo, o que se traduz numa miríade de iniciativas para promover a consulta e o discernimento eclesial”, diz a avaliação do conselho, que remete para numerosos testemunhos reunidos na página dos recursos sinodais, precisamente onde foi referido o caderno editado pelo 7MARGENS com as notícias acerca dos dois inquéritos promovidos entre o Verão e o Outono de 2021.
A abertura, as modalidades de consulta e a participação “variam de uma região do mundo para a outra”, verifica a avaliação. “Em particular, o processo sinodal é acolhido com alegria e entusiasmo em vários países de África, América Latina e Ásia.” E o alargamento da fase de escuta até 15 de Agosto deste ano foi acolhido positivamente.
Também há iniciativas ecuménicas que têm sido integradas na dinâmica sinodal católica, de acordo com indicações da própria organização. “As outras confissões cristãs estão também a demonstrar a nível local um certo entusiasmo e o desejo de contribuir para o caminho percorrido pela Igreja Católica”, considera o conselho do Sínodo. “No que diz respeito à dimensão inter-religiosa, esta impõe-se naturalmente em países onde os cristãos estão em minoria. Também aqui se espera uma contribuição significativa.”
Para lá das notas positivas e das chamadas de atenção, a situação pandémica tem sido um “grande obstáculo, limitando em grande medida os encontros presenciais”. Até porque esta consulta “não pode ser reduzida a um simples questionário, uma vez que o verdadeiro desafio da sinodalidade é precisamente a escuta mútua e o discernimento comunitário”.
Em conclusão, diz o conselho, “pode dizer-se que a novidade do processo sinodal suscita certamente muita alegria e dinamismo, mas também um certo número de incertezas que precisam de ser afrontadas”. A conversão sinodal a que cada baptizado é chamado “é um processo longo que levará mais tempo do que o próprio processo”. E muitos manifestam o desejo “de que o caminho iniciado a nível local prossiga durante todo o processo e para além dele, de modo a que a comunidade eclesial possa cada vez mais tornar tangível a sinodalidade enquanto dimensão constitutiva da Igreja”.