Dia das Pessoas com Deficiência: Igreja e país precisam de ser mais inclusivos
O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), da Igreja Católica, divulgou uma mensagem na qual diz que esta deve ser “uma Igreja mais inclusiva”. A propósito do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, assinalado esta segunda-feira, 3 de dezembro, acrescenta o texto: “Desejamos ser uma Igreja de todos e com todos. Uma Igreja que acolha a todos como irmãos, cada vez mais inclusiva, que derrube barreiras físicas e psíquicas, que esteja atenta para ouvir cada um na sua singularidade.
Desejamos ser uma Igreja que permaneça companheira, pela vida fora, no calor da amizade e do abraço inclusivo.”
Como exemplo concreto, o SPPD diz que se deve “continuar a aprender Língua Gestual Portuguesa”. E refere dificuldades: “Temos boa vontade, mas ainda temos receios”, por vezes “quer-se apertar a mão e falta o jeito” e os reponsáveis da Igreja ainda falam “de forma complexa”.
Nessa missão de tornar a Igreja mais inclusiva, o Serviço Pastoral dirige-se às pessoas com deficiência, acrescentando: “Precisamos da vossa experiência de vida e conhecimento, da vossa persistência e resiliência, da vossa sabedoria de fazer acontecer o impossível, como possível.” E sublinha ainda que já há experiências positivas de acolhimento e inclusão “na catequese e em movimentos”, em instituições e em famílias “que, mesmo com limitações acentuadas, têm gosto por viver e nos agarram e levam pela mão”.
Este dia internacional foi proposto pelas Nações Unidas desde 1992 e tem o objetivo de apelar a uma maior sensibilidade para as questões da deficiência, promovendo a defesa da dignidade, dos direitos e do bem estar das pessoas. Este ano, o tema escolhido foi Capacitar pessoas com deficiência e assegurar a inclusão e igualdade.
Em Portugal, não há estatísticas oficiais. A nota do SPPD fala em um sexto da população, mas a TSF dizia que se estima que a percentagem de população com algum tempo de deficiência pode chegar a 10 por cento, mas que há ainda limitações básicas que impedem a igualdade de oportunidades.
A propósito do dia, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses enviou uma carta à ministra da Justiça, denunciando a falta de capacidade dos tribunais para receber cidadãos portadores de deficiência: 57 por cento dos edifícios não tem rampas de acesso nem condições de deslocação, no interior, para cadeiras de rodas; 87 por cento não tem condições de atendimento adaptadas; 67 por cento não tem instalações sanitárias adaptadas; e 28 por cento não tem elevadores.
Em Portugal, uma das iniciativas que marcou o dia foi a assinatura de 21 contratos de criação de Centros de Apoio à Vida Independente para as pessoas com deficiência. Estes centros estarão espalhados pelo país e são um projeto-piloto, que custará 27 milhões de euros e apoiará 722 pessoas.
Sábado, dia 1, o Papa Francisco recebera em audiência, no Vaticano, membros do Movimento Apostólico para Cegos, que comemoravam os 90 anos do nascimento da associação. O Papa argentino destacou que o carisma do movimento se baseia na “partilha entre os cegos, como fruto da solidariedade, em vista a um fecundo processo de inclusão eclesial e social, e na escolha dos pobres, que é própria da Igreja”.
O Papa já se pronunciou várias vezes acerca da importância de incluir pessoas com deficiência na Igreja Católica; o mais recente episódio ocorreu na passada quarta-feira, 28 de novembro, quando um menino autista invadiu o palco da Sala Paulo VI, durante a audiência geral. Francisco brincou com a situação, mostrou-se encantado com a liberdade indisciplinada da criança e aproveitou para recordar, a propósito, que Jesus afirmava que “devemos ser livres como as crianças”.
Breves
Boas notícias

Iniciativa da Assembleia da República
Plataforma PAJE e associação ProChild distinguidas com o Prémio Direitos Humanos 2023
Duas organizações que têm trabalhado na área da proteção das crianças foram as escolhidas pela Assembleia da República para receber o Prémio Direitos Humanos 2023: a P.A.J.E. – Plataforma de Apoio a Jovens ex-Acolhidos e o ProChild – Laboratório Colaborativo. Será ainda atribuída a Medalha de Ouro Comemorativa do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos aos membros da extinta Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, adianta um comunicado divulgado pelo Parlamento.
Outras margens
Cultura e artes
Ora Vê #3 novidade
o cair da folha prepara um caminho sobre as águas
[o jordão sempre separa os testamentos]
o tombar do profeta anunciará ao verbo o tempo da conjugação
— uma foto de Miguel Cardoso, com texto de Pedro Benino
“O valor simbólico da sacristia”
Dois personagens, um espaço, uma exposição
O Museu Nacional Machado de Castro continua apostado em ancorar algumas das propostas que nos faz «nas “funções fundamentais dos museus”[2], como sejam a preservação do património, a investigação|estudo dos acervos, a comunicação (interpretação e disseminação ativa do conhecimento sobre as coleções) e a educação». Propõe-nos, desta vez, e até 31 de dezembro, uma revisitação d’O Valor Simbólico da Sacristia, centrando o olhar no conjunto de painéis sobre madeira que Simão Rodrigues executou, nos alvores do século XVII, para a nova sacristia da Sé Velha, mandada construir havia poucos anos por D. Afonso de Castelo Branco, então bispo de Coimbra. (João Marujo)
O génio dos Pogues (1957-2023)
Há bar aberto nos céus da música — morreu Shane MacGowan
Dois nomes maiores irlandeses da música deixaram-nos em 2023. Depois da morte de Sinéad O’Connor, em julho, agora foi Shane MacGowan, o poeta de dentes podres e de voz inconfundível que, entre copos de whiskey, cerveja preta e muitos cigarros, compôs com a sua banda The Pogues belas canções rock de travo folk irlandês.
Filme “O Pub The Old Oak”
Como da desesperança nasce a esperança
Com os seus 87 anos, Ken Loach está tentado a dar por concluída a carreira de realizador com esta película que representou um duro esforço ao longo de dois anos e meio. Contudo, como admite em recente entrevista (Revista do Expresso, 24 novembro), talvez o exemplo de Manoel de Oliveira o leve a prosseguir ainda.
Pessoas
Arcebispo de Barcelona cria associação canónica
Beatificação de Antoni Gaudí conhece novos desenvolvimentos
O arcebispo de Barcelona, cardeal Juan José Omella, criou a associação canónica para a canonização de Antoni Gaudí, a que preside, substituindo a associação civil pró beatificação que até agora vinha promovendo a beatificação do conhecido arquiteto, autor, entre outras obras da igreja da Sagrada Família, em Barcelona.
Sete Partidas
Se o Evangelho não é migração, então é o quê?
Jornada extensa. Temporã. Três da manhã. Viagem longa. Escalas. Fuso horário. Reuniões à chegada. Demasiadas. Oito da noite. O cansaço a impor-se. A fome a acusar negligência. Ingredientes de sobra para encerrar o dia. Pausar. Parar mesmo. No entanto insuficientes para ignorar os relatos que começáramos a escutar.
Visto e Ouvido
Agenda
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Entre margens
Secularismo e Direitos Humanos novidade
O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) decidiu, no passado dia 28 de novembro (ver 7MARGENS), que a administração pública de um país pode proibir os seus funcionários de usarem visivelmente qualquer sinal que revele crenças filosóficas ou religiosas, a fim de criar um “ambiente administrativo neutro”. Devo dizer que esta formulação me deixa perplexa e bastante preocupada. É óbvio que todos sabemos que a Europa se construiu sobre ruínas de guerras da religião. (Teresa Toldy)
Viver a Fraternidade: testemunho sobre a Irmãzinha Maria Montserrat de Jesus
Há pessoas que marcam em definitivo a nossa vida. A Irmãzinha Montserrat marcou a minha. Com a sua partida para Deus, a 13 de março do corrente ano, surgiram claras as recordações de tanto caminho andado em conjunto. Aqui fica um pequeno testemunho sobre tão grande amiga e mestra. A Irmãzinha Maria Montserrat de Jesus era catalã e viveu uma grande parte da sua vida em Lisboa, como religiosa da Fraternidades das Irmãzinhas de Jesus de Carlos de Foucauld.
Amor e Sentido
O Sentido talvez consista numa entrega total a algo, causa ou ideia, com amor. Mas não estou certo de que todas as causas suscitem a mesma plenitude de sentido. O que trará essa plenitude? A dimensão ou integridade do amor que se dedica, ou a causa em si, objeto desse amor? É certo que o “muito amar” justifica até a causa aparentemente mais insignificante, contanto seja um amor sincero, até certo ponto desinteressado, e não uma tábua de salvação para a angústia da solidão ou da falta de sentido. (Ruben Azevedo)