
O Papa nas celebrações de Natal deste ano. Foto © Vatican News/Facebook
Com o horizonte das eleições legislativas, que decorrerão a 30 de janeiro, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) veio defender a necessidade de exercitar o diálogo, que “podia ser um passo importante para, nas diferenças que são próprias da democracia, se poder falar de ideias, projetos e propostas sem se pôr em causa as pessoas”.
Numa nota deste órgão consultivo dos bispos portugueses sobre a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz de 2022, cujo título é “Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para se construir uma paz duradoura”, a CNJP recupera as palavras de Francisco na referida mensagem para defender que é tempo de uma “política sã, que não se contenta em administrar o existente «com remendos ou soluções rápidas», mas se presta, como forma eminente de amor pelo outro, à busca de projetos compartilhados e sustentáveis”.
Neste quadro, a Comissão aponta um caminho para os temas que devem ser chamados a debate nestas eleições: “Abrir um diálogo sério entre as gerações sobre a falta de perspetivas laborais dignas, a ameaça constante do desemprego, as cidades que escorraçam as pessoas para as periferias, as implicações do acentuado envelhecimento da população, o baixíssimo número de nascimentos como se estivéssemos em estado de guerra.”
A paz não passa apenas pela ausência de conflitos entre nações, sinaliza a CNJP, antes “depende também das ações, opções e corações dentro das nossas portas lusas através de um diálogo transparente ao nível político, económico e social”, aquilo a que o Papa chama na sua mensagem de “empenho compartilhado”.
O primeiro instrumento para esta “paz duradoura”, na leitura da Comissão, é “o diálogo entre as gerações, baseado na realização de projetos compartilhados como resposta alternativa à «indiferença egoísta e [a]o protesto violento»”. É por isto que “urge uma mudança de rumo diante «da atual crise ética e sócio-ambiental» para se encontrarem verdadeiras respostas dialogadas entre o mundo do trabalho e o mundo da educação”.
A educação “como motor da paz” é o segundo instrumento apresentado pelo Papa, por se tratar de um “fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento”. Como aponta o bispo de Roma, “investir na instrução e educação das novas gerações é a estrada mestra que as leva, mediante uma específica preparação, a ocupar com proveito um justo lugar no mundo do trabalho”.
O diálogo neste campo, insiste o Papa, deve traduzir-se num “pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras” e que sejam promotoras da ecologia integral.
O terceiro instrumento para a construção da paz é o trabalho como “plena realização da dignidade humana”. Lembra o Papa Francisco que o trabalho deve ser remunerado de forma justa e não depender de artimanhas legais que o tornam precário.
A CNJP sinaliza ainda que “assume um papel cada vez mais relevante” em Portugal “a necessidade do trabalho dos imigrantes, mão de obra quase sempre mais barata, vivendo «em condições muito precárias para eles mesmos e suas famílias, expostos a várias formas de escravidão e desprovidos dum sistema de previdência que os proteja»”. Como aponta o Papa, é necessário “unir as ideias e os esforços para criar as condições e inventar soluções a fim de que cada ser humano em idade produtiva tenha a possibilidade, com o seu trabalho, de contribuir para a vida da família e da sociedade”.