
Papa de visita a Chipre. Foto © Vatican News
Diálogo, numa ilha dividida em duas repúblicas e onde se cruzam os povos e as culturas; mas um diálogo que vá beber às bem-aventuranças, “a verdadeira constituição dos cristãos”. Esta pode ser a síntese das duas intervenções nesta quinta-feira feitas pelo Papa Francisco em Chipre, na primeira etapa da sua 35ª viagem pastoral.
O avião aterrou no aeroporto de Larnac a meio da tarde. Passou à história o tempo em que era a Alitália a fazer os voos papais. A nova companhia começou por chegar pontualmente. Os rituais de sempre no acolhimento e, de imediato, a viagem de automóvel de escassas dezenas de quilómetros até Nicósia, a capital.
Primeiro ato: na catedral maronita da Senhora das Graças, um encontro com o clero, diáconos, ordens religiosas, catequistas, movimentos laicais.
Os anfitriões recordam a figura de S. Barnabé, o apóstolo fundador da Igreja em Chipre. Hoje a ilha é esmagadoramente cristã ortodoxa, sendo os católicos uns escassos sete mil fiéis. Para eles, a presença do Papa é, “na difícil situação da região, uma mensagem forte”, por vir apelar a que “os valores da paz e da reconciliação prevaleçam sobre a divisão, o ódio e a guerra”, sublinha Boutros-Haï, patriarca maronita, no discurso de boas-vindas.
Seguem-se cânticos e testemunhos de religiosas e, a encerrar, a intervenção de Francisco. Inspirando-se em S. Barnabé, “o filho da consolação”, segundo o Evangelho, destaca do seu testemunho duas palavras: paciência (“porque sabe esperar”, depois de semear, e também, porque é capaz de “deixar crescer”) e fraternidade (porque vai ao encontro do recém-convertido Paulo de Tarso, “toma-o consigo”, e ambos consolidam um percurso de trabalho conjunto, não isento de tensões).
A propósito, e fazendo a ligação com o contexto em que se encontra, Francisco traduz: “O caminho da paz, que sara os conflitos e regenera a beleza da fraternidade, está marcado por uma palavra: diálogo. Devemos ajudar-nos a crer na força paciente e serena do diálogo, haurindo-a das Bem-aventuranças”.
“Sabemos – adverte – que não é uma estrada fácil; é longa e tortuosa, mas não há alternativa para se chegar à reconciliação. Alimentemos a esperança com a força dos gestos, em vez de esperar gestos de força”.
Francisco dirigiu-se, depois, ao Palácio Presidencial de Nicósia, para o encontro com autoridades, sociedade civil e corpo diplomático, não sem parar, pelo caminho, junto à estátua do arcebispo Makarios III, uma figura-chave da história recente do país, que lutou, inclusive como presidente da República, pela unificação da ilha.

Chipre no Médio Oriente
Num discurso de tom mais político, Francisco começou por recordar que foi nesta ilha “onde se começou a primeira grande inculturação do Evangelho no continente”. Realçou, depois, o papel de Chipre como ponto de encontro do oriente e do ocidente, “encruzilhada de civilizações”, que “traz em si a vocação inata para o encontro, favorecida pelo caráter acolhedor dos cipriotas”.
O diálogo voltou ao primeiro plano, nesta intervenção. Francisco manifestou apreço pelo Caminho Religioso do Processo de Paz de Chipre, que vem sendo promovido pela Embaixada da Suécia, que visa promover precisamente o diálogo entre os líderes religiosos, procurando curar as feridas, sem esquecer a situação das pessoas desaparecidas.
Sem o diálogo, “crescem a suspeita e o ressentimento”, acrescentou o Papa, dando como exemplo o Mediterrâneo, agora lugar de conflitos e tragédias humanitárias.
Nesta linha desejou que, com o contributo de todos, Chipre se possa assumir como “um estaleiro de paz aberto no Mediterrâneo”.