Diários de quarentena (16): Labirinto sem saída

Madalena Matoso, Labirinto sem saída
Deixei de rezar.
Nas paredes
rabiscadas de obscenidades
nenhum santo me escuta.
Deus vive só
e eu sou o único
que toca a sua infinita lágrima.
Deixei de rezar.
Deus está numa outra prisão.
[Mia Couto in Versos do Prisioneiro (1)]
Por estes dias em que se começam a ouvir algumas queixas por este confinamento a que estamos sujeitos, tenho pensado no que será estar preso “a sério”.
Foi-nos imposto um isolamento de dias, semanas. Pensar que possam vir a ser meses assusta… A nossa vida está como que suspensa e queremos voltar ao “normal”. Já nos parece estar a perder noção do tempo e o que aconteceu “antes” parece ter sido há tanto…
Estamos nas nossas casas, melhores ou piores, mas conhecidas, feitas ao nosso jeito, tendo os nossos objectos, podendo fazer escolhas, fazer isto ou aquilo ou não fazer…
E quem está preso? Sabemos de sentenças de prisão de anos, por vezes 10,14, 20… E pensamos “fizeram alguma coisa de errado têm de pagar”, e o justiceiro que há em nós fica descansado…
Mas como será viver sem poder gerir o tempo e onde cada hora passa longa… e ainda faltam tantas.
Neste momento, estamos confinados para nosso bem e para o bem da sociedade. Embora isolados, sentimo-nos em rede e parte de um todo com o mesmo objetivo.
Quais serão os efeitos positivos para quem passa anos onde rareia a beleza e a bondade e o horizonte fica muito, muito longe?
Lucy Wainewright
[related_posts_by_tax format=”thumbnails” image_size=”medium” posts_per_page=”3″ title=”Artigos relacionados” exclude_terms=”49,193,194″]