Diários de quarentena
O Espírito surpreende-nos
Este livro não tem índice. Não tem nem precisa. Seria redundante. É uma coleção de diários. Todos os dias, de 24 de março a 29 de maio. Um exercício de diálogo com a Palavra, com os acontecimentos do dia – dos mais próximos e pessoais, aos mais longínquos e de todos conhecidos –, com as inquietações, as esperanças e as alegrias de cada dia.
Diários de quarentena (45): “Da Pacem Domine”, de Alfredo Teixeira
Porque há sofrimento e dor, inquietação e angústia, pedimos que cessem e que possamos viver em tranquilidade e segurança.
Diários de quarentena (44): O mundo pelos meus olhos; e “saudade” de música para dançar
Da minha janela vejo a água que da bica, cai no tanque, provocando um constante e suave expandir de pequenas ondas concêntricas…
Diários de quarentena (43): Fechados em casa com uma janela para o mundo
Guardado na gaveta estava um projeto de um novo site para a paróquia da Vera-Cruz, em Aveiro. As limitações de tempo eram sempre a desculpa para que tal acontecesse mas, em tempo de isolamento social e reunidas as vontades entre o pároco e a equipa de comunicação, a ideia foi sendo concretizada com mais vigor, intensidade e assertividade.
Diários de quarentena (42): O cuidado com o outro” me interpela, mesmo num passeio…
Cá vou” religiosa” e disciplinadamente para a minha caminhada matinal no parque das Conchas. Hoje a manhã apareceu cinzentona, há mais movimento na rua, estamos todos bastante cansados/as de estar confinados/as às nossas casas. Estamos fartos (eu, pelo menos, e os meus olhos…) dos écrans azul metálico dos telemóveis.
Diários de quarentena (41): Inspiração para uma fase difícil
Sei que estes tempos têm sido difíceis para algumas pessoas, que não têm sabido lidar bem com o isolamento social. Mas queria mostrar o lado de quem está a lidar bem com isto para inspirar outros a fazer o mesmo e melhorarem o pensamento.
Diários de quarentena (40): Uma pequena deceção
Tomei o Tomo 2 do Volume IV (Os Livros Sapienciais) da Bíblia traduzida por Frederico Lourenço (FL) com elevada expetativa sobre os salmos reescritos por ele. Apesar de se estar a rir para mim desde o último Natal, ainda não lhe tinha pegado. Pensei que este tempo de recolhimento lhe seria propício.
Diários de quarentena (38): Somos todos frágeis, todos iguais e todos preciosos (uma oração)
Senhor, Ajuda-nos a compreender este tempo, com o céu estrelado na escuridão e o silêncio do dia e da noite. Ajuda-nos a compreender as vezes sem conta em que o dia e a noite envolvem a nossa vida.
Diários de quarentena (37): Insensibilidade político-social? (e uma fotografia do poder da luz)
No meio de tantos atos de solidariedade e dedicação, marcados não raro por verdadeiro heroísmo, seria pouco sensato falar de insensibilidade político-social. Em todo o caso, a persistência de várias lacunas neste domínio – também observadas nas crises económico-sociais anteriores – convidam-nos, pelo menos, a alertar para elas. Registo apenas três, por ora: a informação regular sobre a situação social; a universalização da Rede Social; e a coordenação nacional das intervenções sociais.
Diários de quarentena (35): Por quem os sinos dobram (e a foto de quando podíamos estar juntos)
Muitos europeus, quando tomaram consciência da pandemia do covid-19 e se preparavam para a quarentena, correram a comprar A Peste, de Albert Camus, e Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Os dois romances subiram nos tops de alguns países. Perante uma crise que atrai o adjetivo “inimaginável”, talvez algumas pessoas busquem na ficção, além de um refúgio, uma forma de, recorrendo à imaginação de outros, se prepararem para situações imprevisíveis.
Diários de quarentena (34): O infinito na palma da mão, numa ruína em Sintra
As voltinhas que tenho dado à roda de casa para não dar em doido, essas morrerão por si. Sem história. Das que dei nestes dias de quarentena por carreiros de cabras até perder o sol de vista ficará a visita a São Romão – nome de ruínas de um velhíssimo ermitério do século XIII. Gosto de lá ir por caminhos por onde ninguém anda e de lá ficar sem gente à vista.
Diários de quarentena (33): Registar o tempo que passa
Dizem os historiadores que a Guerra da Secessão (1861-64) é a primeira sobre a qual se sabe muito, se pode investigar e conhecer imenso. Porquê? Porque, ao contrário do que se passara em anteriores conflitos, nela muitos soldados e baixas patentes sabiam escrever. E escreveram. Diários, cartas e outros textos. Sobretudo cartas. Durante a guerra e nos anos posteriores. Um enorme registo de emoções, razões, expetativas, interpretações, sofrimentos e alegrias.
Diários de quarentena (32): O que fazemos para ultrapassar esta quarentena? (e um poema de Miguel Torga)
Joana Damasceno, Ana Carapina e Lara Martins, alunas de Educação Moral e Religiosa Católica do Agrupamento de Escolas José Estêvão (Aveiro): O que é a nossa quarentena. “Neste vídeo mostramos o que temos feito para ocupar a nossa quarentena. Pode também servir como ideias de atividades para outras pessoas, há muita coisa que se pode fazer! Em fundo, Joana Damasceno canta Andrà Tutto Bene (Tudo ficará bem), de Cristóvam.
Diários de quarentena (31): Por que não pontos de situação do âmbito social? (e uma homenagem com música aos que curam feridas)
Diariamente, o Ministério da Saúde faz o ponto de situação da covid-19 no país; pelo contrário, não existe informação regular acerca da situação social. A insuficiência de rendimentos, com ou sem pobreza anterior, a dependência (resultante de doença grave, idade avançada, deficiência ou acidente incapacitantes…), o isolamento sem companhia, a falta de habitação condigna, a violência doméstica… são realidades que a pandemia está a agravar e que, publicamente, quase não existem.
Diários de quarentena (28): Como pequenas gotas…; e Juntos somos nós
Como pequenas gotas Nestas alturas nem sempre é fácil conseguirmos aguentar. Somos frágeis, somos expostos, somos testados, somos simples gotas de água à espera de cair da folha. Mas se aceitarmos ajuda e nos mantivermos fortes, unidos, juntos, leais com os outros,...
Diários de quarentena (27): Humor pascal e Jesus Christ Superstar
Com esta pandemia, até Jesus tem de encontrar novas formas de aparecer diante dos seus discípulos. Este ano, todos estão sozinhos em quarentena e ninguém foi ao túmulo, os discípulos não puderam estar juntos, Tomé teve de manter distanciamento social e não pôde tocar nas suas feridas.
Diários de quarentena (26): Se não te abrires, irei à tua procura; Esperança; e uma oração em tempo de pandemia
Não sei porque é que o faço desde domingo passado, a verdade é que acordo todos os dias, cedo, para a ver; para ter a certeza de que está viva. E esta manhã estava e voltei a bendizer a senhora que ma apanhou, fugira eu do fartanço da casa e fora beber um café.
Diários de quarentena (25): A luz como companhia – diariamente a iluminARTE!
Vivemos dias únicos e especiais! Únicos porque nunca vividos e especiais porque, através de um simples clique, chegamos a todo o lado. O espaço contrai-se e o tempo relativiza-se.
Diários de quarentena (24): “In manus tuas” – um violino e um cântico
“É uma das muitas músicas de Taizé, que nos acompanha durante aquela que é, para todos os que lá vão, uma das melhores experiências durante o nosso ano e que nos faz entrar em diálogo connosco próprios e com Deus.”
Diários de quarentena (23): Fonte de Vida e A Última Ceia
Trouxe as palavras e colocou-as sobre a mesa./ Trouxe-as dentro das mãos fechadas (alguns disseram/ que apenas escondia as feridas do silêncio).
Diários de quarentena (22): Um cartaz em Sintra e um poema de Drummond
Obrigado como todos nós a ficar em casa, Luís mandou estendeu uma bandeirola na varanda do seu apartamento, em Sintra: “Separados mas juntos!” Quem passa pela pequena praceta onde ele mora, sorri ao abraço. Não sabe é que o autor do bom grito, um jovem técnico de iluminação, 28 anos, desempregado, mandou o seu recado ao mundo quando também perdia a namorada
Diários de quarentena (21): “Modinha”, uma suite ao piano; uma lua sagrada; e uma Semana Santa ressurrecional
Esta é uma das variadas formas que tenho arranjado para tentar ocupar da melhor forma o meu novo dia-a-dia. Acredito que podemos aproveitar este aparentemente interminável tempo para nos dedicarmos àquilo que nos desculpamos de falta de oportunidades para fazer noutras ocasiões.
Diários de quarentena (20): Coronam Vitae e Quando chovia em abril
Quando chovia em abril, o cheiro da terra molhada era tão forte como a cor da mimosa amarela, naqueles dias da Semana Santa, em que eu corria a abrigar-me debaixo do seu tronco, a chorar a Paixão de Cristo e os pecados do mundo.
Diários de quarentena (19): Confinamento, Domingo de Ramos e a beleza do grupo (um poema e duas fotos)
Sim, há medo./ Sim, há isolamento./ Sim, há compras de pânico./ Sim, há a doença./ Sim, há mesmo a morte./ Mas, dizem que em Wuhan depois de tantos anos de barulho,/ Se podem agora ouvir os pássaros.
Diários de quarentena (18): Pessah judaica – agradecer que vivemos
Estamos a poucos dias da celebração da festa judaica de Pessah (“passagem”, Páscoa). Celebração esta em que o foco fundamental é fazermos o relato da história da libertação do Povo de Israel da escravatura no Egipto. E a “passagem” pode ser como alusão ao milagre que D-us* Bem Dito fez ao abrir o Mar Vermelho.
Diários de quarentena (17): Manual de sobrevivência e treinar a mente em casa
Isto assim não pode ser! Após poucos dias de quarentena forçada estou mais cansado do que andava com a rotina habitual de trabalho-netos-amigos-casa. A agitação máxima atingiu as redes sociais. Toda a gente fechada em casa está possessa de enorme vontade de comunicar. Mais é impossível. A todo o segundo um novo toque: SMS, WhatsApp; mail.
Diários de quarentena (16): Labirinto sem saída
Por estes dias em que se começam a ouvir algumas queixas por este confinamento a que estamos sujeitos, tenho pensado no que será estar preso “a sério”.
Diários de quarentena (15): Uma pandemia, um desafio à solidariedade
Parecemos regressados a outros tempos, os das pestes medievais ou das epidemias de há cem anos. Este facto faz-nos refletir na ilusão a que nos conduz o excesso de confiança nas capacidades humanas e na ciência. O ser humano continua a ser vulnerável diante da doença e da morte e deve reconhecer humildemente essa sua vulnerabilidade.
Diários de quarentena (14): Tudo ao contrário? Em tempos de “des-samaritanização”
A ação social básica, própria das relações de família, vizinhança e amizade, tem sido bastante descurada: ao longo da história, relevaram-se mais as diferentes instituições que foram sendo criadas, seguindo-se-lhes a consagração e desenvolvimento do Estado social. Deste modo, o patamar básico da ação social foi menosprezado, a favor do intermédio, ou institucional, e do estatal.
Diários de quarentena (13): Um “Va, pensiero” através da música, gravado em casa de cada um dos membros do coro
A música começa com os violinos e a flauta e só depois se junta a orquestra e, finalmente, todo o coro: Va, pensiero sull’ali dorate… “Vai, pensamento, nas asas douradas. Vai, pousa nas falésias, nas colinas… Do Jordão saúda a costa, de Sião…”
Diários de quarentena (12): Entre a solidão e o medo só o amor nos liberta
Os dias parecem-nos intermináveis e as noites demasiado longas para um descanso que se torna desassossego. As rotinas sucedem-se mais iguais do que nunca por se confinarem a um espaço que, sendo o nosso, parece querer sufocar-nos. Terrível experiência esta, nunca antes vivida, em que, sendo livres, nos sentimos aprisionados no lugar que ainda há dias era de acolhimento.
Diários de quarentena (11): Quando vier a Primavera, poema de Alberto Caeiro
Quando vier a Primavera – um poema de Alberto Caeiro, escolhido por J. Lopes Morgado
Diários de quarentena (10): E nós aqui tão perto
Depois de jantar, quando não há ninguém nas ruas, saio e vou até ao jardim público. Procuro não tocar em nada. Caminho durante meia hora. Cruzo-me à distância com três ou quatro pessoas. Cumprimentos com acenos de cabeça, cada qual numa borda do passeio. Um rente às casas, outro na borda da rua. Passamos.
Diários de quarentena (9): Corvida 20 e um vírus discriminatório
De repente o dia acordou sem cor / O olhar fechou-se entre o chão e o tecto / O som da rua é o da gota de água da torneira da cozinha / E a Terra encolheu-se num simples quadro…
Diários de quarentena (8): Viver confinado – (Part)Ida, poema de Daniel Faria e música de Alfredo Teixeira
Viver confinado é, também, uma experiência simbólica. Os primeiros cientistas socias, que estudaram o fenómeno urbano moderno, explicaram como nós, os humanos, usamos estratégias de distanciamento psíquico quando nos falta espaço.
Diários de quarentena (7): Precisamos de uma mão – Semear, plantar, construir, edificar, tecer
Em 1985, Maria de Lourdes Pintasilgo publicou o livro Dimensões da Mudança. O primeiro capítulo, “Tempo de Mudança”, é um comentário ao capítulo 32 do livro bíblico de Jeremias: Jerusalém é invadida, Jeremias anuncia a queda e é preso. Deus diz-lhe que compre um campo, o que faz com todas as formalidades, dentro da prisão.
Diários de quarentena (6): Redescobrir sentido e os mocassins dos outros
Vivemos uma época de muita preocupação. Quem vive com profissionais de saúde, tem familiares já idosos com outros problemas de saúde, alguns à distância de uma viagem, anda com o coração um pouco apertado. (…) tenho-me lembrado das descrições sobre a vida nas leprosarias que lia nos almanaques das missões na casa da minha avó.
Diários de quarentena (5): Dá-nos a esperança numa vida nova, uma oração cristã de José Mattoso
Ensina-nos o que são os Direitos Humanos, o que é a verdadeira liberdade, o que é a fraternidade, o que é a paz, o que é a Natureza, o que é o Amor. Diz-nos por onde devemos começar. Orienta-nos na nossa caminhada. Acende alguma luz nas trevas que temos de atravessar.
Diários de quarentena (4): Uma sensação de espera, o espaço público vazio…
Saindo à varanda oiço silêncio… Uma sensação de paragem, de suspensão, de espera…
Estranha esta condição do espaço público se ter tornado um local vazio. A avenida, vista da minha janela, é um risco silencioso.
Diários de quarentena (3): Uma pequena flor, um hamster com asas e um vírus que não nos isola
Esta manhã bem cedinho, enquanto andava em passo estugado no parque da Quinta das Conchas e dos Lilases (perto de minha casa, um privilégio!), bem “protegida” e saboreando esta primavera verde e irradiante que brota por todos os lados, veio-me à mente um poema de Sophia.
Diários de quarentena (2): Jacintos e narcisos que brotam, a comunidade, e o tempo ganho
Os jacintos e os narcisos brotam, apesar desta vida com silenciador (texto de Laura Pisanello) Desde as férias do carnaval, a Itália parou. E não foi por piada. Escolas, bares, restaurantes, muitas lojas, todos aqueles que podem trabalhar a partir de casa em...
Diários de quarentena (1) – É agora o tempo
Estamos a viver uma época extraordinária. Um tempo único. Convém não o encher de coisas ordinárias. No futuro, não poderemos olhar para este tempo apenas como um tempo cinzento em que nada de notável nos aconteceu, para além do confinamento domiciliário sobressaltado por tristes notícias. Temos de fazer agora coisas marcantes.