
Documento da PIDE-DGS, polícia política da ditadura, onde consta a informação sobre Dimas Almeida (PROC-INF-50011SR-NT4207_c0003).
A última vez que o ouvi falar foi através do Zoom, esclarecendo e fazendo perguntas pertinentes ao meu amigo David Rodrigues, sobre o tema inclusão. Duma vivacidade que encontrei nas certeiras perguntas, me fez trazer à consciência as suas intervenções, para que foi convidado, como orador, juntamente com os já falecidos bispo Luís Pereira, Frei Bernardo Domingues e Padre Rui Osório, em 10 de fevereiro de 1974, sob o tema “Ser Cristão Hoje”, organizado pelos “Jovens do Torne”, e onde ele se referiu à “Alemanha Nazi e à perseguição dos judeus, etc”, como se encontra descrito no Relatório da Direção Geral de Segurança (PIDE) n.º 89/74/DI, de 10/2/1974. Foi aí, e com ele, que aprendi a ler o grande teólogo, morto num campo de concentração, Dietrich Bonhoeffer, por isso, talvez Dimas de Almeida, falasse tanto sobre os crimes do holocausto nazi. O Pastor Dimas de Almeida, presbiteriano, não era, no entanto, pessoa que não se dava ao diálogo constante com outras religiões cristãs ou não cristãs, era um modelo de cristão embrenhado no estudo dos tempos de hoje, à sombra daquilo que era fundamental na sua vida: as Escrituras.
A sua vida e contribuição para o estudo e desenvolvimento do que o seu Jesus ensinou, era de uma gentileza sem par, mas, também, de uma persistência no que toca à Fé que desde cedo abraçou. O teólogo Dimas de Almeida foi de uma colaboração extrema: veja-se uma das suas últimas importantes obras sobre a tradução dos Evangelhos que a Conferência Episcopal Portuguesa nos fez chegar e ele com um sentido lucido e colaborante enviou à mesma conferência. Publicaria, em vários números deste jornal, 7 Margens, esse contributo, cuja leitura se recomenda porque baseada num conhecimento que poucos teólogos em Portugal possuem.
O Reverendo Dimas de Almeida era uma pessoa simples e atenciosa, ouvia o parecer dos outros, mesmo que não concordasse, com a reverencia dos simples, com um subido olhar de quem escuta sempre para aprender; ele sabia ser dos “homens grandes” de porque sabem, sabem que ainda não sabem nada. O seu olhar sedento da água-viva do conhecimento, era de quem se sente inquieto, sabe que não tem a verdade, e isso inquieta-o, e levava-o à procura dela nos outros, para se sentir mais perto de Deus.
Tive o privilégio de o ouvir, escutar e aprender, com um Homem que conheci na minha juventude e que, embora, não partilhasse da mesma tradição religiosa, reconheci sempre nele um Grande do nosso Século, que nos vai fazer muita falta, porque, embora tenha deixado escritos, não substituem o que ainda esperávamos dele.
Dimas de Almeida que alguém lhe chamava, com clara admiração, um “rato de biblioteca”, permanece nos nossos corações como um dos maiores teólogos portugueses.
Obrigado, meu Deus, por nos teres dado Dimas de Almeida!
Joaquim Armindo é diácono católico da diocese do Porto, doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental.