
A participação de dois bispos da China Continental é vista como “um compromisso muito positivo” entre o vaticano e a China. Foto © Vatican Media.
Dois bispos da China foram adicionados à “lista completa e definitiva” de participantes na primeira sessão da assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade, divulgada esta quinta-feira, 21 de setembro. O cardeal Luis Ladaria, que concluiu recentemente o seu mandato como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, já não estará presente, ao contrário do que havia sido anunciado em julho.
Giuseppe Yang Yongqiang, bispo de Zhoucun, na província de Shandon, e Antonio Yao Shun, bispo de Jining, na Região Autónoma da Mongólia Interior, foram os bispos chineses nomeados pelo Papa Francisco a partir de uma lista aprovada pelo governo daquele país. Nenhum deles constava da lista inicialmente divulgada.
“Este é um compromisso muito positivo entre o Vaticano e a China. Graças à paciência e à visão do Papa Francisco”. A afirmação, citada pelo jornal Religión Digital desta sexta-feira, 22, foi feita por um padre de Pequim à Agência Fides após a divulgação da lista de participantes atualizada.
Antonio Yao Shun, 58 anos, foi o primeiro bispo consagrado após o Acordo Provisório assinado pela Santa Sé e pela China sobre a nomeação de bispos chineses em 22 de setembro de 2018. Giuseppe Yang Yongqiang, 53 anos, foi ordenado bispo coadjutor da diocese em 2010 com a aprovação do Vaticano e assumiu a liderança da mesma em 2013.
Shun e Yongqiang juntam-se, assim, ao arcebispo Stephen Chow, de Hong Kong, e ao bispo Norbert Pu, de Kiayi, Taiwan, que já figuravam na lista como representantes da China (não continental).
À nova lista foi ainda adicionado um padre igualmente oriundo da China continental: Andrea Ding Yang, da arquidiocese de Chongqing, no sudoeste do país.
A emoção do Papa
A primeira vez que dois bispos da República Popular da China participaram numa assembleia do Sínodo dos Bispos foi em 2018, após a assinatura do acordo com o Vaticano. Na altura, os dois delegados foram John Baptist Yang Xiaoting, bispo de Yan’an, e Joseph Guo Jincai, bispo de Chengde. Os meios de comunicação registaram que o Papa Francisco “quase chorou” de emoção, ao dar-lhes as boas-vindas.
Recorde-se que o Papa João Paulo II havia convidado dois bispos chineses para participarem na Assembleia Especial para a Ásia de 1998, mas eles não puderam participar. Mais tarde, em 2005, o Papa Bento XVI convidou, também sem sucesso, quatro bispos chineses para o Sínodo sobre a Eucaristia.
Já no início deste mês, aquando da viagem apostólica de Francisco à Mongólia, as autoridades de Pequim proibiram os bispos e quaisquer outros católicos da China continental de viajar até Ulan Bator para acompanhar a visita do Papa.
Ladaria “pediu licença” para sair

Foram ainda adicionados à lista de participantes na assembleia, que se realiza entre 4 e 29 de outubro, o arcebispo Vincenzo Paglia, que lidera a Pontifícia Academia para a Vida, o cardeal Paulo Cezar Costa, da Conferência Episcopal do Brasil, a irmã Mary Theresa Barron, recentemente eleita presidente da União Internacional das Superioras Gerais, a irmã Maria Nirmalini, superiora-geral das Irmãs do Carmelo Apostólico, e Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares.
No total, serão 464 os participantes: 365 votantes (“como os dias do ano: 364 mais o Papa”), 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-geral do Sínodo, e outras 57 pessoas que vão participar como peritos ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
Ausente da lista está o cardeal Luis Ladaria, que concluiu recentemente o seu mandato como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e que afinal não participará na assembleia sinodal, confirmou Luis San Martín, subsecretário da Secretaria-geral do Sínodo. observando que Ladaria pediu diretamente “licença ao Papa” para não estar presente.
A substituição de Ladaria – um dos grandes opositores ao Caminho Sinodal alemão – por Víctor Manuel Tucho Fernández à frente da Doutrina da Fé é vista como uma uma das reformas mais relevantes propostas por Francisco nos últimos tempos. Na carta com que oficializou a nomeação de Fernández, Francisco lembrava que a Igreja “precisa de crescer na interpretação da Palavra revelada e na compreensão da verdade”, mas isso não pode implicar “a imposição de um único modo de a exprimir”.