
O Lar de São Francisco de Assis vai ser a nova casa de idosos e pessoas com necessidades especiais, muitos deles “em situações limite” e para as quais o apoio domiciliário não é suficiente. Foto: Direitos reservados.
Chama-se Lar de São Francisco de Assis e nasceu “do milagre da partilha”: a casa que irá acolher entre 20 a 40 idosos em regime de residência na ilha do Príncipe, foi inaugurada esta quinta-feira, 8 de dezembro, e construída a partir do “apoio de centenas de pessoas, que dos cinco continentes fizeram chegar a sua ajuda”, assinala frei Fernando Ventura, um dos mentores deste projeto. Na fachada do edifício, fez questão que se escrevesse “Dos pobres para os pobres”, por ter sido “da pobreza de quem partilha, a partir do seu muito ou do seu pouco” que se conseguiu fazer “o milagre de dividir para multiplicar e de somar sem subtrair nada a ninguém”.
Milagre, sim, até porque tudo parecia conjugar-se para que o projeto não se concretizasse, conta o franciscano capuchinho ao 7MARGENS: “Lançámos a primeira pedra no dia 13 de março de 2020… A ilha fechou no dia 17 por causa da covid… Quando [a casa] ficou concluída, rebentou a guerra na Europa… Agora que está a dar os primeiros passos, o mundo vive uma situação económica de aflição a todos os níveis…”.
Ainda assim, com a generosidade e empenho de muitos, o que parecia impossível aconteceu. Com seis quartos, cinco casas de banho, um refeitório que é também sala de convívio, cozinha, dispensa, lavandaria, e ainda um espaço previsto para enfermaria, gabinete médico e gabinete de enfermagem, o Lar de São Francisco de Assis vai ser a nova casa de idosos e pessoas com necessidades especiais, muitos deles “em situações limite” e para as quais o apoio domiciliário não é suficiente.
No edifício junto ao novo lar, pertencente à Santa Casa da Misericórdia de São Tomé e Príncipe, eram já confecionadas perto de 100 refeições diárias, umas entregues no local, outras ao domicílio. Agora, com a nova casa, haverá capacidade de acolhimento para 20 pessoas, podendo duplicar em caso de necessidade.
“A casa contará ainda com um espaço polivalente que funcionará também como capela, esta dedicada a S. José, a quem desde o início confiei a construção deste espaço familiar. Ele que cuidou da Sagrada Família, cuidará da sacralidade familiar de todos aqueles que como usuários, benfeitores, voluntários e funcionários, habitarão estes espaços”, destaca frei Fernando Ventura.
“Mudar o mundo de muitas pessoas”

Estiveram presentes na inauguração perto de 200 “usuários, benfeitores, voluntários e funcionários” do Lar. Foto: Direitos reservados.
E foram perto de 200 destes “usuários, benfeitores, voluntários e funcionários” que se juntaram esta quinta-feira a frei Ventura para uma dupla festa: a celebração da solenidade da Imaculada Conceição e a inauguração do novo espaço. Estiveram também presentes o bispo emérito de São Tomé e Príncipe, Manuel dos Santos, e o delegado apostólico António Bengui, bispo auxiliar de Luanda, bem como diversas autoridades locais.
O Lar de São Francisco de Assis ainda não tem, no entanto, todas as suas valências operacionais. “Estamos ainda a aguardar alguns móveis para abrir a parte residencial, mas a urgência do atendimento sanitário que podemos oferecer bem como as condições em que estão a ser confecionadas as já quase 100 refeições diárias, não permitiam esperar mais”, assume frei Fernando Ventura.
“Vamos abrir o ambulatório, a cozinha e a lavandaria bem como a nova zona do centro de dia. A zona residencial e a enfermaria/internamento deverão ser abertas em janeiro ou fevereiro, tendo em conta a logística e o preço do transporte dos móveis e equipamentos oferecidos pelo Lions Club de Famalicão e de Roissy”, explica, lembrando que “tudo nesta ilha, que é uma ilha de uma ilha, tem preços exorbitantes. O isolamento e a falta de ligações regulares, além de criar situações, muitas vezes, de falta de bens essenciais durante semanas, quase duplica o preço de tudo.”
Ao todo, o lar envolveu “um investimento de 380 mil euros”. E “quando estiver tudo em funcionamento temos calculado um gasto mensal global de quatro a cinco mil euros”, afirma o frade capuchinho, que não se cansa de agradecer “a todos os que permitiram e continuarão a permitir este milagre”.
Na placa comemorativa que mandou fazer para assinalar a inauguração, fez questão de deixar gravados “os nomes de todas as pessoas e entidades que com os seus gestos de partilha não conseguiram mudar o mundo, mas conseguiram e hão de continuar a conseguir mudar o mundo de muitas pessoas nestas ilhas, onde às vezes só mesmo a esperança e as partilhas que fazem connosco nos permitem resistir”, afirma.

A bênção apostólica do Papa Francisco foi entregue em mão a frei Ventura. Foto: Direitos reservados.
Entre os que tornaram possível a concretização deste sonho, está também o Papa Francisco, que, através da Esmolaria Apostólica, ofereceu recentemente um donativo de 30 mil euros. Numa das paredes do lar, está também a sua benção apostólica, entregue em mão a frei Fernando Ventura.
Em missão nas ilhas de São Tomé e Príncipe já há 12 anos, o franciscano capuchinho é também o responsável pelo projeto do Banco de Leite, que em Portugal é representado pela Associação Amparo da Criança, e que tem contribuído para dar resposta ao problema da carência alimentar em crianças até aos seis anos.
Poder alargar o apoio à terceira idade era um sonho antigo, que está feliz por finalmente concretizar. E não será certamente o último. “Aqui iremos tão longe quanto a generosidade e o empenhamento de todos nos permitir”, conclui.