
Pessoa sem abrigo: “Noto pelo menos uma falta de referência à ‘escuta e participação’, nas palavras do Papa, “dos de fora, dos da periferia”, diz Fernando Ventura. Foto © Daniel Zgombic.
Na sequência do inquérito acerca do Sínodo, o frade capuchinho Fernando Ventura reage deste modo à notícia publicada pelo 7MARGENS.
Não estive presente em nenhuma iniciativa sinodal de nenhuma das dioceses portuguesas, nem de nenhum grupo ou congregação. Por este motivo, não me posso pronunciar especificamente sobre nenhuma delas.
Dos dados apresentados na notícia dá para perceber que todas as dioceses levaram a cabo encontros sobre o tema. Esta é uma nota positiva.
Como pontos a refletir, há um que salta à evidência, que é a variedade e pluriformidade da decisão (ou ainda a falta dela) quanto à forma de divulgação das reações recolhidas a nível pessoal, paroquial e de grupo.
Trata-se obviamente de um exercício de liberdade que é respeitável, mas fica-me a ideia da possibilidade de perda da variedade de contribuições, sem violar a privacidade de ninguém.
Além disso, a opção de algumas dioceses pela apresentação de uma síntese implica sempre critérios de elaboração de um texto final, “sintético”, que nunca será capaz de dar cabalmente voz a “vozes individuais”.
Ainda sob este aspecto, noto pelo menos uma falta de referência à “escuta e participação”, nas palavras do Papa, “dos de fora, dos da periferia”. Eventualmente terão sido ouvidos, mas à primeira vista, fica a sensação de que na maioria dos casos, senão na quase totalidade, os que foram “ouvidos” foram os “de dentro”, os de sempre.
Seja como for, o Sínodo sobre a Sinodalidade não é um ponto de chegada, mas um caminho e um estilo de ser e estar no mundo que, oxalá, há-de fazer o seu caminho e há-de ir vencendo alguns medos; pelo menos os medos daqueles que vêem na pedagogia da sinodalidade um qualquer “ataque” à hierarquia e não essencialmente um processo de presença pastoral e de sinal de acolhimento e de escuta, num mundo que cada vez mais se vai tornando “inóspito”, atafulhado de gente que fala e desesperadamente à procura de gente que escuta.
Fernando Ventura é frade franciscano da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos