
Imagem do 4.º encontro de amizade islamo-cristão, na comunidade de Taizé, em julho de 2021. O irmão Aloïs (segundo à esquerda), prior de Taizé, com o imã Chemouini Chemsseddine, da mesquita de Massy (Paris-sud). Foto © Taizé-Communauté.
“É mais fácil do que se poderia imaginar reunir cristãos e muçulmanos”, diz o irmão Luc, de Taizé, a propósito do 5º encontro de amizade entre jovens muçulmanos e cristãos, promovido pela comunidade monástica ecuménica de Taizé (França). Numa entrevista ao jornal La Croix, o responsável diz que “os líderes das mesquitas e os líderes católicos são confrontados com as mesmas questões e desafios: acolher os jovens, acompanhá-los, formá-los e transmitir-lhes a fé numa sociedade pós-crente, onde uma grande parte não tem qualquer referência à fé”. Mas também os jovens se encontram, dos dois lados, em dimensões de serviço, no compromisso social, no resgate ou no acolhimento de refugiados.
O encontro começou nesta quarta, dia 13, com o acolhimento de cerca de uma centena de participantes oriundos de França, Nigéria e Palestina. Até à manhã de domingo, 17, os jovens e jovens adultos entre os 17 e os 35 anos aprofundarão o tema “Descobrir-nos mutuamente na amizade entre jovens muçulmanos e jovens cristãos”.
Durante estes próximos dias, os participantes terão todas as manhãs uma introdução a textos da Bíblia e do Alcorão, apresentados por um irmão de Taizé e um imã, seguidos de partilha em plenário e em pequenos grupos; à tarde, os jovens fazem, em conjunto, pequenos trabalhos e serviços.
“Queríamos dar-lhes tais oportunidades para se conhecerem e partilharem as suas experiências”, explica o responsável de Taizé pelo encontro, na entrevista citada (disponível apenas para assinantes). “As manhãs, momentos de reflexão com a contribuição de um imã e de um irmão, seguirão os passos de Abraão. O seu apelo, a sua hospitalidade e a forma como negociou a terra para enterrar Sara ressoam tanto para cristãos como a muçulmanos. Abraão, o pai dos crentes, é também o ‘amigo de Deus’, que pode inspirar a amizade entre nós.”
Os tempos de oração, por sua vez, são propostos várias vezes por dia: há um lugar para a oração dos muçulmanos, outro para a oração cristã. “Os jovens muçulmanos estão muito interessados em ver jovens cristãos que se encontram três vezes por dia numa igreja para rezar”, diz o irmão Luc. “Eles não têm a impressão de que haja muitos jovens na Europa que dão tempo à oração. Ficam felizes por verem jovens como eles a dar tempo a Deus, através do silêncio, da escuta da palavra e cantando.”
Para esses momentos de oração, a comunidade disponibiliza um espaço aos muçulmanos, e “aqueles que o desejam juntam-se a eles”, diz o irmão Luc. “Isto é o que é comovente: abrem as suas orações aos outros e ficam muito orgulhosos se estivermos com eles.”
Acolhimento e hospitalidade mútua

Os participantes “estão num processo de acolhimento e hospitalidade mútua”, diz ainda o irmão de Taizé, que esteve já no Quénia, onde viveu também uma experiência de encontro com muçulmanos, na pequena fraternidade dos arredores de Nairobi. “Um espírito de escuta e sensibilidade está no cerne das suas respectivas fés. Não vêm a Taizé para um diálogo teológico teórico, mas para uma partilha de vida, para se convidarem uns aos outros às suas orações.”
Sobre a experiência da realização destes encontros, o irmão Luc diz que os jovens muçulmanos ficaram tocados por terem organizado momentos de reflexão, mas “acima de tudo disseram que ficaram tocados pelo simples acolhimento que receberam dos cristãos e que ficaram contentes por se misturarem com jovens de toda a parte”.
Os jovens cristãos, por seu lado, “também ficaram gratos por poderem experimentar e testemunhar que uma fraternidade concreta não é uma utopia”. E exemplifica: “Estamos juntos, partilhamos uma refeição, partilhamos um serviço, escutamo-nos uns aos outros. Isto mostra que um caminho de paz e amizade é possível. Ver que os muçulmanos têm o seu lugar num lugar como Taizé expulsa todas as vozes que brincam com medos e caricaturas, aquelas vozes que gostariam de construir muros.”
Já no ano passado, o irmão Jean-Jacques, outro dos responsáveis da comunidade de Taizé para esta iniciativa, dizia ao 7MARGENS que Taizé aposta neste “método de criar antes de mais conhecimento mútuo e proximidade entre as pessoas de diferentes países, confissões, continentes” desde o pós-Segunda Guerra Mundial, quando a comunidade foi fundada pelo irmão Roger e um pequeno grupo de companheiros.
“Foi assim entre alemães, franceses e ingleses nos anos 1950-60, com os jovens do Leste europeu nos anos 1980-90, com os jovens do Norte e da Ásia, África e América Latina nas últimas décadas e agora lança-se esta ponte com os jovens muçulmanos. Tudo em nome do sagrado dever de hospitalidade que partilhamos”, acrescentava o irmão Jean-Jacques.
O diálogo com o mundo muçulmano e outras realidades próximas dele não fica confinado à pequena colina de Taizé: apesar de ter reunido apenas cristãos, já no final de Abril a comunidade de Taizé promovera um encontro ecuménico em Homs (Síria), que reuniu 750 jovens de várias regiões daquele país devastado pela guerra civil.
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