É preciso cuidar mais do planeta, a nossa “casa comum”, e “incrementar a consciência de uma origem comum”, disse o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, numa conversa sobre espiritualidade e pandemia, inserida num ciclo denominado “O Mundo de Amanhã”, promovida pelo Público, a propósito dos 31 anos do jornal.

O patriarca de Lisboa, cardeal Manuel Clemente, na celebração da Vigília Pascal, 11 de Abril de 2020. Foto © Diana Quintela, cedida pela autora.
O patriarca tomou como referência da sua reflexão a encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, afirmando que a espiritualidade é “aquilo que nos impele”.
Citado na edição deste domingo do jornal, o cardeal Clemente afirmou: “A paz interior das pessoas tem muito que ver com o cuidado da ecologia e do bem comum.” E referindo o Papa Francisco, acrescentou que é relevante haver um equilíbrio entre o ambiente exterior e o sentido interior, ligado à “profundidade da vida”.
O ex-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e Prémio Pessoa 2009 referiu que “um antídoto” para o consumismo assenta nas “capacidades de estar e usufruir”, no cultivo da relação com os outros. Afirmou ainda que quem desenvolve estas competências e a “capacidade de contemplar”, em época de confinamento, consegue mais facilmente encontrar um equilíbrio entre o estado físico-psíquico e o espiritual.
Referindo-se ainda à pandemia – que “não tem fronteiras”, tal como a espiritualidade –, o patriarca considerou que a União Europeia “se tem comportado muito bem” no que à distribuição das vacinas se refere.
Para o pós-pandemia, o cardeal Clemente considerou que em primeiro lugar o foco deverá estar na reabilitação da economia e na “sobrevivência económica de muitas pessoas e famílias”. Logo que o “problema sanitário” melhore, o essencial é “atender imediatamente ao trabalho”.
Ainda de acordo com o relato do Público, o patriarca mantém o optimismo em relação ao futuro, referindo que a “espontaneidade social em termos filantrópicos e solidários” e a sua “enormíssima actividade, apesar das limitações do confinamento”, o levam a crer que “com tudo isto vamos ter futuro, porque o futuro somos nós”.
“Quando estamos perante questões de sobrevivência, pensamos duas vezes”, disse Manuel Clemente, julgando que, em relação ao combate à covid-19, o sistema de saúde português se tem “mostrado muito resiliente”, tanto no sector público como no privado”. E sendo também a religião uma resposta à incerteza do mundo, o cardeal afirmou que “o desenvolvimento interior”, que “também passa pela religião para quem é crente”, é um caminho para “a paz, sossego e esperança”.