
Presépio na paróquia de Marcel Callo em Flers (França), usando o logotipo do Sínodo: “Lá caminhei, em grupo, da melhor forma possível, até chegar ao fim (esticado)…” Foto: Direitos reservados (https://www.synodresources.org/2546/)
O surgir da hipótese sinodal (com as características anunciadas para este caminho 2021-23) apareceu-nos como que o acender de um facho de luminoso gás (Ar-Sopro-Espírito) na imensa escuridão das noites desiludidas, por comuns pseudo-vivências, afinal queridas cristãs.
E não nos negámos ao chamamento.
Mas normalmente nos sonhos, muito sonhados, quando se aterra, revela-se-nos a paisagem que pisamos, nua e crua, bem distinta da que se queria e esperava, para rebolar, em crescendo, a força imaginada.
Também agora, por aqui, e em alguns outros lados, assim tem sido, segundo sei. Na digestão da nossa pobreza.
Como as notícias anunciam, propaladas como vento áspero, e talvez gélido, quando a intermédia meta desta primeira etapa já se vai mostrando, afinal na sua-nossa natural rudeza.
Claro que também se notam vislumbres da aurora. No meio dos naturais descuidos, se lhe quisermos assim chamar.
É que isto é, e creio será mesmo, um princípio do novo, ou, renovado. Imparável, pois, embora, neste início, toscamente exercitado. Como o queremos e esperamos! Apesar de…
Mas atentemos em factos concretos.
Quando vi o primeiro questionário elaborado para os grupos a constituir na minha diocese (digerida que foi a prelecção apresentativa, que admiti a dobrar) a minha primeira reacção foi escrever ao secretariado responsabilizado pela conduta:
“Acabei de ter acesso ao módulo II.
Considerando também o módulo I, as temáticas a aprofundar não estarão compostas por generalismos a mais, que pouco mais motivarão que bla bla bla de boas intenções?
Será lógico um genérico, mas não deveriam depois apontar objectivamente a coisas concretas que todos sabemos são sentidas nas ‘comunidades’ cristãs?”
E a resposta, de imediato e agradecida, trouxe-me mais generalidades, embora referindo-as abertas, mas efectivamente numa casa com portas, mas sem janelas arejantes.
Eu sei que houve outras dioceses bem mais profícuas e motivadoras. Vi e recomendei mas, por cá, o mote era assim e estava lançado.
Lá caminhei, em grupo, da melhor forma possível, até chegar ao fim (esticado), sempre notando e anotando, para que constasse e lá chegasse.
E por relatórios que já vi, pelas nossas incapacidades de beber a frescura basicamente proposta e exigida, avolumam-se-me os receios de que querendo fazer um trabalho tão bem feito, “deitemos fora o bébé com a água do banho”.
Eu acredito que o Espírito accionou a sua força. Mesmo nas nossas tertúlias ainda escuras e húmidas. Mas, e depois…
De tão bem querermos resumir, de resumo em resumo, não iremos cair em palavras gastas, ocas e sensaboronas, sem força e sem futuro?
Do grupo, à paróquia/vigararia, e desta à diocese, seguindo-se o âmbito nacional; para depois prosseguir da Congregação ao Papa… resumindo… resumindo… filtrando e deixando cair…
Não seria importantíssimo seleccionarmos os “ditos” nus e crus como se manifestaram, registando-os e divulgando-os com as marcas de origem, ainda que (claro) anonimamente?
Apenas catalogando-os por espécies e temas. Mas não olvidando as genialidades, simples, mas profundas, que, por decerto, não deixaram de surgir…
Não querendo ser mais papistas que o Papa.
Tenho grande pavor, que quando Francisco vier a ler, se pergunte se é isso, afinal e assim, a nossa humanidade manifesta, na (sua/nossa) Igreja periférica deste século.
José Gonçalves é Licenciado em Sociologia e em Gestão de Património e Organizações Culturais