
“Estas obras são um obstáculo visual que nos obriga a ver o que já não vemos”, afirma o autor aleXsandro Palombo. Imagens reproduzidas a partir das redes sociais do artista.
Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie: se a família criada por Matt Groening tivesse vivido em Itália nos anos 40 e fosse judia, teria certamente sido forçada a partir da Plataforma 21, na Estação Central de Milão, com destino aos campos de concentração de Auschwitz. Sobreviveriam? O ativista e artista pop contemporâneo aleXsandro Palombo quer acreditar que sim, mas nunca mais seriam os mesmos. Assim, a propósito do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (que se assinala esta sexta-feira, 27 de janeiro), retratou-os junto a essa mesma estação, num “antes e depois” que não deixa ninguém que ali passe indiferente.
Pintados por Palombo em cada um dos lados da entrada do Memorial Shoah, localizado precisamente na Plataforma 21 da estação de comboios milanesa, os Simpsons surgem primeiro com a estrela amarela presa nos casacos, que os judeus eram forçados a ostentar, e depois com os uniformes listrados que os prisioneiros tinham de usar nos campos de concentração.
As diferenças entre uma imagem e outra não se limitam às roupas. Se na primeira é percetível a expressão apreensiva das personagens, claramente preocupadas em relação ao futuro, na segunda os Simpsons surgem esqueléticos, visivelmente mais abatidos, privados de dignidade.
“Estas obras são um obstáculo visual que nos obriga a ver o que já não vemos – explica o artista, citado pelo jornal italiano La Reppublica desta quinta-feira. “As coisas mais terríveis podem tornar-se realidade e a arte tem o dever de lembrá-lo porque é um poderoso antídoto contra os riscos do esquecimento”.
aleXsandro Palombo, que no passado já tinha associado os Simpsons ao tema do Holocausto no seu projeto “Nunca mais”, pretende dirigir-se em particular aos mais jovens. “O horror do genocídio judeu deve ser transmitido sem filtros às novas gerações para proteger a humanidade de outros horrores como a Shoah”, sublinha o artista de rua. “Às vezes, as palavras não são suficientes para contar os horrores do Holocausto”, escreveu em 2015 (por ocasião do 70º aniversário da libertação de Auschwitz) ao publicar outra das suas obras em que os Simpsons são retratados junto à entrada do campo de extermínio nazi, dominada pela inscrição “Arbeit macht frei” (frase em alemão que significa “o trabalho liberta”).