Economista social ou socioeconomista?

| 4 Jul 20

O livro do dr. João Pereira de Moura, que serviu de base a um artigo anterior, intitula-se Testemunho de um Economista Social comprometido na humanização do mundo. Acontece, porém, que a economia social consagrada na legislação portuguesa respeita basicamente a atividades de natureza privada sem fins lucrativos. Por essa razão ou, mais provavelmente para afirmar uma opção pessoal, João Pereira de Moura entendeu conveniente acrescentar no título, depois de “economista social”: “comprometido na humanização do mundo”.

Assim, dá a entender que a “economia social”, na sua aceção mais ampla, não abrange só um conjunto de atividades, mas sim todas as atividades humanas na perspetiva económica; aliás, este conceito havia sido desenvolvido consideravelmente no século XIX. Talvez que, para se evitarem confusões, se devesse substituir “economista social” por “socioeconomista”: no entanto, a adjetivação é secundária; importante é que toda a economia esteja comprometida “na humanização do mundo” ou, por outras palavras, na solução dos seus diferentes problemas, incluindo a sustentabilidade ecológica.

Entendida neste sentido, o grande objetivo da economia deveria ser não tanto a otimização económica no sentido tradicional, mas sim a otimização sustentável na aplicação dos recursos e na satisfação das necessidades. Também se deveriam rever alguns conceitos como, por exemplo, pleno emprego, procura e oferta de trabalho, população ativa, produto nacional bruto… Deveriam, ainda e nomeadamente, ser abrangidas, com forte ênfase, áreas temáticas tão fundamentais como, por exemplo: a sustentabilidade socioeconómica, ecológica e política; as relações sociais; a erradicação da pobreza e das desigualdades excessivas; o desenvolvimento integral de todas as pessoas, sem exclusões, e de toda a humanidade em todas as dimensões, salvaguardando a sustentabilidade.

Esperemos que o encontro de Assis, sobre a “economia de Francisco” [previsto para novembro, depois de adiado devido à pandemia], aborde estas e outras questões prementes.

Católicos nas contingências de abril/74

Em 2014, a revista Povos e Culturas, da Universidade Católica Portuguesa, dedicou um número especial a “Os católicos e o 25 de Abril”. Entre os vários testemunhos figura um que intitulei: “25 de Abril: Católicos nas contingências do pleno emprego”. No artigo consideram-se especialmente o dr. João Pereira de Moura e outros profissionais dos organismos por ele dirigidos; o realce do “pleno emprego”, quantitativo e qualitativo, resulta do facto de este constituir um dos grandes objetivos que os unia.

No texto, assinalam-se quatro “linhas de orientação” adotadas por estes quadros técnicos e dirigentes: a “inserção na realidade”; a “dupla vinculação” – à “procura de soluções para os problemas de emprego-formação” e à doutrina social da Igreja; a “confessionalidade não explicitada”; e as “redes sem rede”.

Eles integraram-se, naturalmente, em várias redes, mas não formaram uma “rede para afirmação comum (…)”. Por este motivo, quando ocorreu o 25 de Abril mantiveram e, nalguns casos, aprofundaram as mesmas relações; contudo, souberam evitar a constituição de um grupo de autodefesa ou pressão e, por isso, muito deles sofreram alterações dolorosas nos seus percursos profissionais. Acresce que o facto de variarem bastante as respetivas posições políticas reforçou a tendência para cada um se inserir, o melhor possível, nos novos grupos e oportunidades que foram surgindo. Nunca se notou qualquer tentativa de o dr. João P. de Moura liderar um movimento de ação conjunta.

Estes profissionais – em pé de igualdade com todos os outros – seguiram os seus rumos pessoais, preservaram as suas amizades e continuaram a prosseguir os mesmos objetivos de natureza socioeconómica e humanista. O livro do Dr. João Moura, antes referenciado, testemunha em boa hora o seu percurso pessoal, mas não deixa de retratar, indiretamente, os outros profissionais que seguiram um caminho semelhante ao seu.

 

Acácio F. Catarino é consultor social

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