Economista social ou socioeconomista?
Assim, dá a entender que a “economia social”, na sua aceção mais ampla, não abrange só um conjunto de atividades, mas sim todas as atividades humanas na perspetiva económica; aliás, este conceito havia sido desenvolvido consideravelmente no século XIX. Talvez que, para se evitarem confusões, se devesse substituir “economista social” por “socioeconomista”: no entanto, a adjetivação é secundária; importante é que toda a economia esteja comprometida “na humanização do mundo” ou, por outras palavras, na solução dos seus diferentes problemas, incluindo a sustentabilidade ecológica.
Entendida neste sentido, o grande objetivo da economia deveria ser não tanto a otimização económica no sentido tradicional, mas sim a otimização sustentável na aplicação dos recursos e na satisfação das necessidades. Também se deveriam rever alguns conceitos como, por exemplo, pleno emprego, procura e oferta de trabalho, população ativa, produto nacional bruto… Deveriam, ainda e nomeadamente, ser abrangidas, com forte ênfase, áreas temáticas tão fundamentais como, por exemplo: a sustentabilidade socioeconómica, ecológica e política; as relações sociais; a erradicação da pobreza e das desigualdades excessivas; o desenvolvimento integral de todas as pessoas, sem exclusões, e de toda a humanidade em todas as dimensões, salvaguardando a sustentabilidade.
Esperemos que o encontro de Assis, sobre a “economia de Francisco” [previsto para novembro, depois de adiado devido à pandemia], aborde estas e outras questões prementes.
Católicos nas contingências de abril/74
Em 2014, a revista Povos e Culturas, da Universidade Católica Portuguesa, dedicou um número especial a “Os católicos e o 25 de Abril”. Entre os vários testemunhos figura um que intitulei: “25 de Abril: Católicos nas contingências do pleno emprego”. No artigo consideram-se especialmente o dr. João Pereira de Moura e outros profissionais dos organismos por ele dirigidos; o realce do “pleno emprego”, quantitativo e qualitativo, resulta do facto de este constituir um dos grandes objetivos que os unia.
No texto, assinalam-se quatro “linhas de orientação” adotadas por estes quadros técnicos e dirigentes: a “inserção na realidade”; a “dupla vinculação” – à “procura de soluções para os problemas de emprego-formação” e à doutrina social da Igreja; a “confessionalidade não explicitada”; e as “redes sem rede”.
Eles integraram-se, naturalmente, em várias redes, mas não formaram uma “rede para afirmação comum (…)”. Por este motivo, quando ocorreu o 25 de Abril mantiveram e, nalguns casos, aprofundaram as mesmas relações; contudo, souberam evitar a constituição de um grupo de autodefesa ou pressão e, por isso, muito deles sofreram alterações dolorosas nos seus percursos profissionais. Acresce que o facto de variarem bastante as respetivas posições políticas reforçou a tendência para cada um se inserir, o melhor possível, nos novos grupos e oportunidades que foram surgindo. Nunca se notou qualquer tentativa de o dr. João P. de Moura liderar um movimento de ação conjunta.
Estes profissionais – em pé de igualdade com todos os outros – seguiram os seus rumos pessoais, preservaram as suas amizades e continuaram a prosseguir os mesmos objetivos de natureza socioeconómica e humanista. O livro do Dr. João Moura, antes referenciado, testemunha em boa hora o seu percurso pessoal, mas não deixa de retratar, indiretamente, os outros profissionais que seguiram um caminho semelhante ao seu.
Acácio F. Catarino é consultor social
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