
“Há alguém por aí” Foto © Ana Cordovil
Senhores governantes, senhores jornalistas
Há mais vida para além das notícias de guerra.
Eram 11h da manhã, naquele café onde estava pela primeira vez, a conversa na mesa do lado era para se ouvir… cinco senhoras, todas vizinhas de lotes próximos e “evitados” pela cidade.
Naquele bairro as ruas não ganham chão de passeio, as portas não se acertam a fechar, as entradas dos lotes numerados não ganham cor, são antes lugares de encontros combinados e rápidas passagens.
Na rua onde teimosamente aprendo a estar, há olhares de desafio e solidão que evitam viver.
Mas, teimosamente as vizinhas no café falam e não querem desistir.
“Sabes como o filho da Maria? Aquele que ficou sem emprego e sem casa com esta… da covid, agora que tudo se parecia compor com promessas da segurança social e da Santa Casa, vem agora esta gente… sim, sei que vêm da guerra que não é boa, mas vêm ‘roubar’ de novo as casa e os nossos empregos”…
“Isto é sempre para os mesmos! E quem não tem e precisa vai ficar outra vez na rua ou a dividir camas ou chão na casa da mãe?…”
“Querem ajudar, muito bem! mas aqui a malta que estava já sem forças depois de dois anos com a covid, como é que é?”
“Eu queria ver essa gente do governo a viver aqui! Isso sim!”
“E a polícia só apanha quem não devia… os que roubam andam aí à grande e até se riem da gente.”
A televisão sempre ligada! O rol de imagens e notícias sobre a guerra invade e cruza a conversa das vizinhas.
Senhores Governantes
Não esqueçam a quem devem servir e cuidar.
A vida dos mais desprotegidos tanto pela guerra como pela miséria que geramos nos regimes que temos deve ser sempre a nossa prioridade. Esquecer alguns ou adiar os projetos mais urgentes socialmente é um erro demasiado pesado para o futuro.
e Senhores Jornalistas
Por favor, não queremos só notícias da guerra quase em direto a entrar nas nossas cabeças.
A solidariedade organizada para responder ao drama da guerra não pode ser esquecida mas procurem outras notícias! e divulguem boas iniciativas e outras necessidades que vos chamam a dar voz!
Ao decidir escrever esta crónica no 7MARGENS, é também como católica que o faço pois para mim o Deus em que acredito tem o mesmo olhar pelos que sofrem as guerras e as senhoras que conversam com amargura no café. A todos somos chamados a olhar, cuidar e respeitar.
Saiba eu, em primeiro lugar, ser mais útil onde posso ajudar.

“Queres vir?” Foto © Ana Cordovil
Ana Cordovil