
Alguns elementos do comité internacional e da comissão nacional da rede Juntos pela Europa durante uma reunião de preparação do encontro que decorrerá no Porto. Foto: Direitos reservados.
Portugal acolhe pela primeira vez o encontro internacional da rede ecuménica Juntos pela Europa (JpE), que arranca ao final do dia desta sexta-feira, 11, e decorre até domingo, na cidade do Porto. São esperados perto de 150 participantes, vindos de 18 países diferentes, e representando diversas igrejas e movimentos cristãos. O grande objetivo é pô-los em diálogo e a pensar no “contributo que, juntos, podem dar para os desafios que a Europa está a atravessar”, desde a guerra às alterações climáticas.
“Não podemos contar só com o que é feito ao nível institucional, não podemos esperar pelos tempos das hierarquias. Temos, neste encontro, um sentido de premência, justamente devido à guerra, aos desafios sociais, ecológicos, climáticos, económicos…”, explica ao 7MARGENS Júlio Martín da Fonseca, membro da comissão nacional do JpE e um dos responsáveis pela organização do encontro em Portugal.
Depois de um período de pandemia, que impediu a realização de encontros presenciais nos últimos dois anos, e face ao contexto da guerra na Ucrânia e da aceleração das alterações climáticas, “é tempo de os cristãos estarem mais presentes, de dar mais visibilidade às experiências e dinâmicas nos quais têm estado envolvidos, e de pô-los a todos em diálogo fraterno para que daí possam sair sinergias”, defende o professor e membro do Movimento Católico de Profissionais (Metanoia).
Até porque “respeitar e celebrar a diversidade do cristianismo, vendo-a como uma riqueza” é o que está na génese do Juntos pela Europa, assinala Júlio Martín da Fonseca. “E é trágico que estejam a lutar cristãos contra cristãos. É trágico que esta guerra seja, de alguma forma, consequência da separação entre os cristãos”, sublinha, recordando o que dizia Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant’Egidio: “se foi na Europa que os cristãos se separaram, é na Europa que devem voltar a encontrar-se”.
Dar “um novo fôlego” ao movimento
Por estes dias, na Associação Católica do Porto, onde decorrerá o encontro do JpE, essa união tornar-se-á, de facto, uma realidade, sendo esperados, inclusivamente, participantes ucranianos e russos.
O programa começa com uma apresentação de Portugal e, em particular, da cidade do Porto, porque “é importante os participantes terem conhecimento desta realidade mais ibérica”, justifica Júlio Martín da Fonseca, lembrando que as jornadas internacionais anteriores se realizaram sempre em cidades do centro da Europa.
E enquanto nos encontros passados o foco esteve essencialmente no “ultrapassar de séculos de alguma conflitualidade entre os cristãos” e na sua “reconciliação”, agora o objetivo “é dar um passo à frente para que se comece a projetar uma visão de futuro, é dar um outro fôlego, outro ânimo” ao movimento.
O tema escolhido para o encontro no Porto, “Uma nova missão para a Europa” é a prova disso mesmo. Ao longo do dia de sábado, haverá dois painéis para ajudar a refletir sobre ele: “A Europa de hoje – desafios e oportunidades” e “Que Europa sonhamos e o que fazemos para a construir?”.
Júlio, que será um dos moderadores, destaca a presença de oradores como o teólogo português João Manuel Duque, a historiadora alemã e religiosa evangélica Nicole Grochowina, ou jornalista espanhola Victoria Martín de la Torre, porta-voz no Parlamento Europeu do Grupo Parlamentar Socialista e Sociais Democratas.
A palavra aos jovens

Alguns jovens da Missão País darão o seu testemunho durante o encontro. Foto: Direitos reservados.
Em destaque estarão também os movimentos e dinâmicas juvenis, nomeadamente o projeto universitário Missão País, e o evento 3 Milhões de Nós, organizado pela Família Missionária Católica Verbum Dei. “A regularidade, intensidade e variedade destas dinâmicas em Portugal é de salientar, e os outros países ficaram muito interessados em conhecer os nossos exemplos” neste encontro, afirma Júlio Martín da Fonseca.
O dia de sábado terminará com uma oração ecuménica pela paz, às 21h, na Igreja da Cedofeita, a qual “será aberta a todos”, e não apenas aos inscritos no encontro.
Domingo será tempo de pensar e preparar os “próximos passos”. Falar-se-á da Assembleia Continental do Sínodo, que acontece em fevereiro de 2023, das iniciativas para a Jornada da Europa do próximo ano, e do encontro alargado dos Amigos do JpE, que já está agendado para 16 a 19 de novembro em Timisoara, na Roménia.
Todas as intervenções contarão com tradução simultânea nas cinco línguas oficiais JpE (alemão, italiano, francês, inglês e português).
Criada há mais de 20 anos, a rede Juntos pela Europa preocupa-se com a ideia de construir dinâmicas ecuménicas a partir das bases, congregando movimentos e associações cristãs que extravasam os limites geográficos da própria União Europeia.
Tem sido uma “experiência muito rica de construir uma rede de relações”, diz Júlio Martin, desde que, em 31 de Outubro de 1999, líderes católicos e evangélicos alemães assinaram uma “Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação” em Ausburgo, no mesmo local em que, segundo a tradição, Lutero formalizou a sua ruptura com a Igreja Católica.
Mais de 300 movimentos e comunidades cristãs, de todo o continente europeu, juntaram-se entretanto à rede durante estas duas décadas, com a proposta de um “pacto de amor recíproco” inspirado pelo Evangelho que os une estreitamente. A ideia de indivíduos e povos diferente que se podem acolher, conhecer-se, reconciliar-se e aprender a estimar-se e apoiar-se mutuamente está também presente nesta dinâmica. Periodicamente, várias cidades acolhem jornadas europeias com o lema “Juntos pela Europa”.