Ensaio
[Leituras de um pontificado – 3]
Quando os escândalos de uma Cúria sem controlo prenunciavam já o fim de um Papa
A Cúria Romana tornou-se um monstro ingovernável que o próprio Papa, de perfil sobretudo intelectual e académico, já não consegue controlar. No Vaticano, nas vésperas do sétimo aniversário da eleição de Bento XVI, parece viver-se já um ambiente de final de pontificado, semelhante ao que caracterizou a última década de João Paulo II.
[Leituras de um pontificado - 2]
Joseph Ratzinger, o paradigma ascético-estático
A religião mais antiga do mundo é, de facto, o polimento do eterno até que o eterno fique imóvel a brilhar num esplendor que é só seu. Foi esta a tentativa de restauração-na-contramão levada a cabo pela dupla Wojtyla-Ratzinger.
A propósito da consulta sinodal
Reino, sim
Seria muito triste que, depois de termos colocado no centro do nosso olhar precisamente aquilo que Jesus colocou no centro do seu olhar ‒ um Reino de paz e de justiça sem verdugos ou vítimas, mas apenas ‘agapê’ (C. Spicq) ‒ voltássemos, neste século XXI, a olhar apenas para o nosso umbigo…
Pré-publicação 7M
Como reconstruir a catedral?
Reconstruir o rumor de Deus – Para uma teologia estética da revelação é o título do livro da autoria do padre Miguel Rodrigues, da Arquidiocese de Braga, cujo prefácio, da autoria do padre Joaquim Félix, o 7MARGENS reproduz. O livro é apresentado nesta quarta-feira na Igreja Matriz de Vila do Conde, às 21h30.
Intervenção de Borges de Pinho na CEP
Sinodalidade como interpelação às Igrejas locais e à colegialidade episcopal
Há quem continue a pensar que sinodalidade é mais uma “palavra de moda”, que perderá a sua relevância com o tempo. Esquece-se, porventura, que já há décadas falamos repetidamente de comunhão, corresponsabilidade e participação. Sobretudo, ignoram-se os princípios fundacionais e fundantes da Igreja e os critérios que daí decorrem para o ser cristão e a vida eclesial.
Passado, presente e futuro são práticas
Desenhar um mundo mais justo, ecológico e solidário
A contemplação e a reflexão sobre o passado, na sua complexidade e nas suas contradições, se é um exercício apropriado não justifica por si só as decisões e as atuações presentes. Se pode existir similitude entre um determinado passado e o presente, os protagonistas e as circunstâncias nem são os mesmos nem se repetem, pois são fruto de pessoas atuais e das suas respetivas motivações.
Ensaio
As armas vistas através do poliedro da guerra
Vem esta reflexão no contexto do desenvolvimento da Guerra da Ucrânia, mas não seria errado dizer que ela poderia e deveria ser feita a todo o tempo, uma vez que a situação de guerra tem vindo a ser uma permanência mundial. Se por vezes dizemos que estamos há...
Ensaio: Dois livros
Da impossibilidade da paz. A guerra molda a humanidade
A invasão da Ucrânia pela Rússia abre um capítulo novo na Europa do pós-Guerra. Pela primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, um Estado soberano é invadido por outro, com o poder russo a pretender aniquilar o país vizinho – Vladimir Putin disse que “a Ucrânia moderna é uma criação da Rússia”. Este novo capítulo de guerra tem como principal consequência uma militarização acentuada da Europa. Um ensaio a partir de dois livros.
Crónicas portuguesas dos anos 80
As causas que sobrevivem às coisas
O Portugal de A Causa das Coisas e de Os Meus Problemas, publicados nos anos 80, fazem sentido neste século XXI? Miguel Esteves Cardoso ainda nos diz quem e o que somos nós? Haverá coisas que hoje se estranham, nomes fora de tempo, outras que já desapareceram ou caíram em desuso. Já as causas permanecem. Pretexto para uma revisitação a crónicas imperdíveis, agora reeditadas.
Ensaio – COP26
Glasgow: soube a pouco, mas ainda resta a esperança
Terminou a 26ª Cimeira do Clima, em Glasgow, na qual a ZERO marcou presença. Se o balanço desta COP26 não é consensual para todas as Partes, há uma coisa em que, pelo menos, todos concordamos: a Escócia e os seus habitantes são de uma simpatia invulgar e uns anfitriões muito acolhedores. Mas enquanto Glasgow aquecia os corações, as negociações na COP continuavam a aquecer o planeta.
Ensaio
Direitos humanos, paz e casa comum: como se reescreve um Papa?
As intervenções de um Papa na Assembleia Geral das Nações Unidas (AGONU) aconteceram em cinco momentos da História e resultaram de um estatuto jurídico reconhecido internacionalmente ao líder máximo da Igreja Católica, incomparável quer relativamente aos líderes das outras religiões, quer aos das nações. Isto, por si só, é relevante a nível da política e das relações internacionais.
A origem do mal
De onde vem o mal, se só a alma é real? De onde vem o mal, se só o Ser é real? O mal parece existir no nosso mundo, apenas porque o bem não está garantido. Quer dizer, no plano humano, o bem exige um luta e conquista permanentes. O nosso mundo, o mundo humano, o mundo que é a existência humana em projeto, está incompleto, inacabado como o próprio ser humano. Mas o sentido é o bem, é sempre essa, em última análise, a intenção, a finalidade do agir humano.
“Dar espaço às consciências”: de Afonso Maria de Ligório ao Papa Francisco (ensaio)
Como evitar desenvolver “uma moral fria de escritório, quando nos ocupamos dos temas mais delicados”, como escreve o Papa na exortação Amoris Laetitia? No século XVIII, Afonso Maria de Ligório propôs uma reflexão que toma a consciência como instância constitutiva de moralidade. Jerónimo Trigo, professor de Teologia Moral, enuncia aqui alguns dos seus postulados, que viriam a exercer influência no cardeal John Newman, no Concílio Vaticano II e no Papa Francisco.
Inquisição em Portugal: Erasmo entre a Contra-Reforma e a Reforma
A presença dos judeus na Península Ibérica é muito antiga, sendo impreciso o momento em que eles aqui se estabeleceram. A certeza é que os judeus sefarditas desempenharam “notável papel” na sociedade medieval peninsular: “é a Idade de Ouro do Judaísmo na Diáspora”. Com a invasão árabe, os judeus viveram em plena liberdade de culto e incrementaram um grande desenvolvimento económico com o Oriente.
O tempo da Visitação (Pré-publicação do novo livro de Tomáš Halík)
Durante o tempo da Quaresma e Páscoa de 2020, o padre Tomáš Halík, responsável da paróquia universitária de Praga e um dos mais importantes pensadores católicos contemporâneos, foi gravando as homilias relativas aos textos bíblicos da liturgia católica dos domingos e datas festivas. Essas homilias eram depois colocadas na página da paróquia universitária. Do conjunto, resultou o livro O Tempo das Igrejas Vazias. O 7MARGENS apresenta, em pré-publicação, excertos do texto de abertura.
Imunização – A Terceira Via? (ensaio)
A pandemia provocou um certo embaraço à teologia e à própria experiência religiosa e parece tê-las tornado irrelevantes no debate intelectual público e na doação de um “plus” de sentido à simples vida biológica. Numa “terceira via”, o cristianismo católico poderá, enquanto instituição universal, deveria ser capaz de orientar o devir das sociedades para a imunização do vírus dos exclusivismos, através de uma inteligência espiritual crente e com o melhor pensamento lúcido secular e as artes de sentido disponíveis para o resgate do humano.
Um livro que nos ajuda a resistir
Um dos aspectos positivos (se é que os há) desta pandemia é o facto de termos tempo para ler, escrever e pensar sem o stress habitual. E um dos livros que mais apreciei enquanto confinada foi A Resistência Íntima. Ensaio de uma filosofia da proximidade, de Josep Maria Esquirol.
A vida, o sofrimento e Jesus
Dois autores, ambos presbíteros com profundas experiências e preocupações pastorais – Valdés é biblista argentino, Bermejo é especialista na pastoral da saúde em Espanha – oferecem em Peregrinar a Jesus um contributo notável para aprofundar as difíceis e exigentes questões relacionadas com a saúde, o sofrimento e a relação de fé.
Nos inícios da contraceção: artificial “versus” natural (Ensaio)
Há 90 anos, a 31 de dezembro de 1930, o Papa Pio XI publicou uma encíclica que deu e dá origem a muita controvérsia. É a Castii Connubii, “sobre o matrimónio cristão”. O pretexto foi a celebração dos 50 anos da encíclica de Leão XIII, Arcanum Divinæ Sapientiæ, de 10 de fevereiro de 1880, cujo objetivo fundamental era a crescente introdução do divórcio na legislação dos Estados.
Israel-Palestina: Um horizonte de unidade para uma terra perpetuamente dividida
O impasse do diálogo para a paz entre Israel e Palestina parece insuperável, e não será por certo a continua verberação, nos palcos internacionais, desta proposta obsolescente e politicamente correta que será capaz de ultrapassá-lo…
Ensaio de Dimas Almeida (10/fim): A carne das palavras do Evangelho de João
Os Evangelhos são “textos fortes que têm resistido e continuam a resistir à usura do tempo”. Com esta afirmação, o pastor presbiteriano Dimas de Almeida dá forma à sua palavra final ao comentário sobre a nova tradução da Bíblia – Os Quatro Evangelhos e os Salmos – publicada no ano passado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), cuja edição experimental pede sugestões, críticas e comentários.
A Caixa de Correio de Nossa Senhora
Quando, durante vários anos, antes de 25 de Abril de 1974, o Natal se aproximava, a RTP incluía na sua programação uma espécie de tempo de antena que muitas famílias portuguesas aguardavam com desmedida ansiedade. A partir de várias zonas das então designadas “províncias ultramarinas”, a televisão portuguesa dava um módico de voz aos soldados que para lá tinham ido combater.
Ensaio de Dimas Almeida (9): As revelações de Jesus no Evangelho Segundo João
Neste nono capítulo do ensaio de Dimas Almeida, inicia-se a reflexão sobre a tradução do Evangelho de João, centrando-se em algumas passagens que remetem para pormenores acerca da revelação de Jesus e do génio do autor deste Quarto Evangelho.
Ensaio de Dimas Almeida (8): Lucas, da mulher pecadora a Zaqueu e à refeição de peixe do Ressuscitado
No ensaio de Dimas de Almeida sobre a nova tradução católica da Bíblia, concluiu-se aqui a abordagem do Evangelho Segundo Lucas, com episódios como a mulher pecadora em casa de Simão, a confissão messiânica de Pedro, o encontro com Zaqueu ou a refeição do Ressuscitado à beira do lago, entre outros.
Eduardo Lourenço (1923-2020): O pensador levantou-se mais cedo para tentar apanhar Deus
Ficou por entregar pessoalmente o Prémio Árvore da Vida, que lhe foi atribuído pela sua busca de uma “sabedoria trágica da vida porventura conciliável com a vivência eclesial da Fé” e a “incomensurável Transcendência divina”. O pensador, ensaísta e professor Eduardo Lourenço morreu na madrugada de dia 1, em Lisboa. O funeral é nesta quarta-feira. Portugal, a Europa, a literatura e a poesia, a música e o cinema foram objectos da sua atenção fina e crítica. Como também o cristianismo, experiência e matriz da qual nunca de desligou e que considerava a “grande revolução humana que se operou na história” cujos efeitos ainda “nem sequer começaram.”
“Portugueses no Holocausto”: o “descarinho” que acabou em Auschwitz
A autora dedica a obra “Portugueses no Holocausto” a “todos os portugueses expulsos pela Inquisição e que se refugiaram em Amesterdão, Istambul e Salónica. Acreditaram que eram portugueses, mas Portugal não os reconheceu como tal. No momento em que precisavam desesperadamente da nacionalidade portuguesa, esta foi-lhes negada.
A revolução da misericórdia e um novo ecumenismo (ensaio de Tomáš Halík)
Há pessoas entre os evangélicos e os católicos ultra que se tornam numa espécie de robôs, sem razão nem consciência, logo que alguém carrega no botão “criminalizar o aborto” ou “fora com os homossexuais, os imigrantes e os estrangeiros”. Ao contrário, é preciso recordar que a identidade do cristianismo não se radica no imobilismo, mas sim nos sinais do Espírito que trabalha na história. Propostas do padre Tomáš Halík num ensaio sobre a revolução da misericórdia proposta pelo Papa Francisco e o necessário “novo ecumenismo”. Texto que o 7MARGENS publica, em Portugal, cedido pelo autor.
Não podemos ignorar
Há muitas razões que tornam este pequeno livro maior do que a sua dimensão física. A bibliografia sobre a luta antifascista é já extensa, mas este ensaio é diferente. Ao fazer a história da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (CNSPP) nos seus cinco anos de existência (1969-1974), Edgar Silva escolhe retratar a sociedade portuguesa daquele período a partir do conceito de medo.
Ensaio de Dimas Almeida (7): “A solidez das coisas” do Evangelho Segundo Lucas
O 7MARGENS publica hoje o sétimo capítulo do estudo do pastor presbiteriano Dimas de Almeida sobre a nova tradução da Bíblia – Os Quatro Evangelhos e os Salmos –publicada no ano passado pela Conferência Episcopal Portuguesa, cuja edição experimental pede sugestões, críticas e comentários. Neste sétimo capítulo, inicia-se a abordagem do Evangelho Segundo Lucas.
Bonhoeffer, teólogo e resistente ao nazismo
O autor desta obra, escritor e historiador italiano, descreve pormenorizadamente o processo espiritual de um homem religioso do luteranismo alemão, Dietrich Bonhoeffer (1906-1945). Viveu na trágica situação da Europa antes da II Guerra Mundial, a ascensão do nazismo e do racismo anti-semita que colocou como objectivo final o extermínio total dos judeus: cerca de seis milhões de judeus foram massacrados; ciganos sinti e rom – entre 250 a 500 mil, além de muitos milhares de outros homens e mulheres.
Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano
Fazer corresponder a cada dia do ano uma breve história ocorrida nesse dia em tempos mais ou menos recentes ou mais ou menos remotos é o propósito de Eduardo Galeano em “Os filhos dos dias”. Protagonizadas por todo o tipo de gente, anónima ou famosa, desprezível ou admirável, de múltiplos cantos do planeta (incluindo Portugal), as histórias oferecem um testemunho quotidiano, que pode ser também um ensinamento ou uma interrogação.
Ensaio de Dimas Almeida (3): Critérios de tradução e anúncio do evangelho
Nesta terceira parte do seu ensaio, Dimas Almeida debate os critérios de tradução do grego – nomeadamente no uso das partículas – que, em alguns casos, põe em causa a própria forma do evangelho que se anuncia e a adptação qeu dele se faz na liturgia católica.
A resposta do cardeal Tolentino ao secretário-geral Guterres (e o livro como sonda apontada ao futuro)
“Os livros fizeram a Europa”, disse Tolentino Mendonça, ao receber o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva. Guterres interpelou o bibliotecário da Santa Sé através de vídeo e o cardeal respondeu com três palavras. E disse que os livros são “telescópios e sondas apontados...
Ensaio de Dimas Almeida (2): Evangelho e evangelhos
Nesta segunda parte do ensaio sobre a nivatradução da Bíblia, Dimas Almeida aborda, entre outras questões, o problema da pluralidade de leituras, a partir do facto de haver quatro evangelhos e não apenas um. Com o risco, que transparece de algumas expressões da introdução à edição em análise, de “fazer da uniformidade exigida à nova tradução uma espécie de altar onde se imola a pluralidade”.
O capitalismo não gosta da calma (nem da contemplação religiosa)
A editora Relógio d’Água prossegue a publicação em Portugal dos ensaios de Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano radicado na Alemanha. O tom direto e incisivo da sua escrita aponta, num registo realista, as múltiplas enfermidades de que padece a sociedade contemporânea, que o autor designa como sociedade pós-industrial ou sociedade da comunicação e do digital, do excesso de produção e de comunicação. A perda dos referentes rituais – análise que o autor refere como isenta de nostalgia, mas apontando o futuro – é uma dessas enfermidades, com as quais a vivência religiosa está intimamente relacionada.
Uma obra que fazia falta
Dois anos após a sua publicação, a exortação Amoris laetitia permanece como um dos documentos mais significativos do magistério de Papa Francisco. A “redução” da mensagem da exortação à questão sobre o acesso de católicos divorciados à comunhão eucarística (ainda que uma questão profundamente vital) contribuiu de certo modo para a criação de um ambiente de polémica em torno ao documento, distraindo o público daquele que seria o seu contributo mais fundamental.
Alegria e Misericórdia: as revoluções de Francisco
Inflexão na doutrina e mudança nas práticas pastorais são os dois temas mais polémicos associados à exortação apostólica Amoris Laetitia que o Papa Francisco publicou há quatro anos e meio. Mas os especialistas reunidos por Miguel Almeida, sj, no livro Alegria e Misericórdia – A teologia do Papa Francisco para as famílias mostram que as revoluções operadas por Francisco na exortação não se limitam àqueles dois aspetos. E estas são para a Igreja desafios tão grandes ou maiores do que aqueles.
Um sentido para a vida humana (2)
O que podemos então esperar? Talvez não aquilo que virá, mas aquilo que já cá está. O Reino, escreveu São Lucas, “não vem de modo ostensivo. Ninguém poderá afirmar ‘Ei-lo aqui ou ali’, pois o reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 18 20-21). O Reino – a plenitude ilimitada da liberdade, do amor, do conhecimento, da justiça, da verdade, da beleza. A expressão do infinito na finitude.
A nuvem do não-saber: “Quanto mais o leres, melhor o compreenderás”
No Prólogo, o Autor anónimo desta obra enumera quem não deve ler o livro: “os bajuladores, os tagarelas carnais, os linguareiros, os detractores, os que espalham boatos, e toda a espécie de críticos e de curiosos”. Exceptuam-se “os activos (…) tocados pelo espírito de Deus”.
Do prazer da leitura como exercício espiritual – as comunidades de leitores como um outro modo de ser crente? (ensaio)
Por todo o lado se constituem comunidades de leitores de literatura universal, de pessoas que encontram nos livros o motivo para a hospitalidade da alteridade. Como é sabido, a prática da leitura comunitária e pública da Torah era fundamental para o judaísmo rabínico em torno do Talmude. A chamada lectio divina (meditação orante da Palavra), praticada primordialmente nos mosteiros, assume essa linha da tradição hebraica e amplia-a como modo de ser fundamental da experiência cristã do evento originário crístico.
Theodor W. Adorno contra o radicalismo
Um dos mais influentes pensadores do século XX, o alemão Theodor W. Adorno, que durante a II Guerra Mundial se tinha refugiado nos Estados Unidos da América para escapar ao nazismo, analisou numa palestra, que decorreu no dia 6 de Abril de 1967, na Universidade de Viena, os “aspectos do novo radicalismo de direita”. Publicada em Portugal no início deste ano pelas Edições 70, com tradução de Marian Toldy e Teresa Toldy, a intervenção, como recorda Volker Weiß no posfácio, reflecte sobre a ascensão, na República Federal da Alemanha, do Partido Nacional-Democrático da Alemanha (NPD), fundado em 1964.
Infinito
Ser crente é acreditar que duas linhas paralelas se cruzam necessariamente no Infinito, e que esse ponto onde se cruzam é Deus. É acreditar que no fim, como no princípio de Tudo, há um ponto sem extensão nem duração, que é Deus. E que esse ponto está em toda a parte, inteiramente, absolutamente, sem estar todavia em parte nenhuma, pois ele não pode estar num sítio em detrimento de outro.
A carne, a história e a vida: uma viagem fascinante
A tradição espiritual cristã, radicada na Boa-notícia gerada pelo Novo Testamento, permanece ainda um continente a explorar para muitos dos discípulos de Jesus. A expressão mística contém uma carga associada que não ajuda a visitar o seu espaço: associamo-la a uma elite privilegiada, a fenómenos extraordinários, a vidas desligadas dos ritmos e horários modernos.
Afinal, Jesus era branco, negro ou assim-assim? – entre a influência semita e a indo-europeia (ensaio)
Tem-se falado muito da cor da pele de Jesus. Vai-se formando um consenso entre clérigos e leigos de que Jesus não seria branco, mas algo mais aparentado com o mestiço típico de um semita do Médio Oriente. Não que a questão seja minimamente relevante do ponto de vista teológico ou espiritual. De facto, não o é, embora possa ter a sua importância social e política, admito.
Um exercício lento e sólido de teologia bíblica
No deserto pleno de ruídos em que vivemos – de notícias e conferências, de estradas engarrafadas e redes sociais saturadas –, é possível ver surgirem vozes de pensamento, de sabedoria sobre o que nos rodeia e nos habita. As páginas deste livro constituem uma dessas vozes. Cabe-nos escutá-la.
Teologia bela, à escuta do Humano
Pensar a fé, a vivência e o exercício do espírito evangélico nos dias comuns, é a tarefa da teologia, mais do que enunciar e provar fórmulas doutrinárias. Tal exercício pede atenção, humildade e escuta dos rumores divinos na vida humana, no que de mais belo e também de mais dramático acontece na comunidade dos crentes e de toda a humanidade.
Yves Congar, uma viva fonte de inspiração
O dominicano Yves Congar foi um dos maiores teólogos do século XX e continua a ser o eclesiólogo incontornável pela grande viragem que provocou nas abordagens da história e da vida da Igreja. Muito lutou e sofreu por publicar as suas investigações que punham em causa tabus, doutrinas e apologéticas que sufocavam a revisão teológica da sua história e impediam as reformas de que precisava para se abrir às outras Igrejas cristãs, ao universo das outras religiões e ao mundo contemporâneo.
Diálogos com Paulo Freire
Trata-se de dois livros inspirados na filosofia de Pauloreire, a quem de há largos anos chamo meu “Mestre”: o primeiro, de Christopher Damien Auretta, Diz-me TU quem EU sou: Diálogo com Paulo Freire. O segundo, do mesmo autor com João Rodrigo Simões: Autobiografia de uma Sala de Aula: Entre Ítaca e Babel com Paulo Freire (Epistolografia).
Muhammad Yunus: “Começar do zero” e aproveitar os “horizontes ilimitados” que a pandemia abriu
O economista Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank (“banco de aldeia”) no Bangladesh, impulsionador do conceito de microcrédito e dos negócios sociais e Prémio Nobel da Paz em 2006, chama a atenção para “os horizontes ilimitados” que a crise da covid-19 abriu. Esta é a oportunidade para “começarmos do zero”, diz, num texto publicado esta terça-feira, 5 de maio, na página digital do jornal francês Le Monde.
As igrejas vazias podem esconder o vazio de algumas respostas cristãs, diz Tomáš Halík
Os cristãos têm de fazer “uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do cristianismo completamente diferente”, se não quiserem que este tempo de igrejas vazias coloque “simbolicamente em evidência o vazio escondido nas igrejas e o seu possível futuro”, escreve o padre e teólogo checo Tomáš Halík, num texto a propósito da pandemia, que as edições Paulinas divulgaram em formato de livro electrónico, que pode ser descarregado gratuitamente.
Iconografia cristã primitiva, nascida no confinamento
A edição em português de Os Primeiros Cristãos – as histórias, os monumentos, as figuras, da autoria do historiador italiano Fabrizio Bisconti, constitui um acontecimento muito significativo. Magnificamente apetrechada de imagens ilustrativas, a obra conduz o leitor na descoberta da arte cristã primitiva, presente em catacumbas, monumentos e vestígios arqueológicos.
Humanidade e civilização: o que a pandemia pode dizer de nós mesmos e do nosso futuro? (Ensaio)
O mundo tal qual o conhecemos parou por um momento. De uma maneira abrupta e inesperada, as engrenagens materiais e humanas precisaram de interromper a sua produção mecanizada e aparentemente incessante. Os humanos se recolheram e tudo aquilo que girava em torno do seu movimento também foi obrigado a parar.
O desejo de ir além dos confins
A cidade dos desejos ardentes é fruto das meditações orientadas pelo monge italiano Bernardo Gianni no retiro de 2019 da Cúria Romana, no qual participou o Papa Francisco. Este acontecimento é o cenário que permite agora, ao público português, aceder a uma proposta de aprofundamento espiritual densa de sentido e de beleza.
Acolher, dar e tratar: os mecanismos de assistência aos pobres e doentes na Idade Média (ensaio)
Devemos à Idade Média o aparecimento dos hospitais, que evoluíram no sentido dos nossos, da prática da quarentena, atualmente na ordem do dia, e das universidades e escolas médicas, que nos permitiram chegar onde chegámos no campo da saúde e da medicina. Uma viagem pelas noções e práticas da assistência dos tempos medievais em Portugal.
Eduardo Lourenço, “o mais reputado pensador português da actualidade”, é Prémio Árvore da Vida, da Igreja Católica
O ensaísta Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes 2020, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, para destacar um percurso ou obra que, além de atingirem elevado nível de conhecimento ou criatividade estética, reflectem o humanismo e a experiência cristã.
Editora francesa oferece “panfletos” sobre a crise
Sendo certo que as doações essenciais neste período de pandemia dizem respeito a tudo o que nos pode tratar da saúde física, não há razão para negligenciar outras dádivas. É o caso de uma das mais famosas editoras francesas, a Gallimard, que diariamente oferece textos que pretendem ser uma terceira via entre a solenidade da escrita de um livro e o anódino da informação de um ecrã.
O testamento espiritual de Mardones: para uma verdadeira imagem de Deus
Este livro póstumo do padre católico José Maria Mardones, investigador do Instituto de Filosofia de Madrid e doutor em Sociologia e Teologia, foi concluído dois dias antes da sua morte e é considerado, por muitos, o seu testamento espiritual.
“No meio do caminho”: pedras, sombras, maridos e mulheres da noite
Há um fenómeno de índole espiritual, o marido ou a mulher da noite, de que se fala, em surdina, em Moçambique. Trata-se de um cônjuge invisível, com o qual um parceiro não estabelece um pacto, mas existe entre ele e uma outra pessoa, homem ou mulher, uma ligação marital.
Uma história do universalismo cristão
The Devil’s Redemption: A New History and Interpretation of Christian Universalism (Baker Academic, 2018) foi classificado em 2018 pelo The Gospel Coalition, uma organização de Igrejas Evangélicas de tendência Reformada, como o Livro de Teologia do ano.
José Veiga Torres – um rio de águas profundas
José Veiga Torres (JVT), professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, editou, em Abril de 2013, o livro Ser cristão? Porquê? Para quê? Que discurso, que projecto? (ed. Lápis de Memórias), obra com mais de quatrocentas páginas, em formato de bolso. Trata-se de um exaustivo “tratado de teologia e história” que esmiúça pormenorizadamente somente isto: todos os documentos do Novo Testamento, vários testemunhos pós-apostólicos e toda a História da Igreja desde o século I até ao século XXI (Bento XVI). Merece a expressão: “É obra!” É, de facto, uma obra única, ímpar em língua portuguesa de Portugal, vademécum para catecúmenos e cristãos curiosos.
Livro sobre “o facto” Simão Pedro apresentado em Lisboa
Um livro que pretende ser “um testemunho, fruto de uma meditação” sobre a vida do apóstolo Pedro, será apresentado nesta segunda-feira, 2 de Dezembro, em Lisboa (Igreja paroquial de Nossa Senhora de Fátima, Av. Berna, 18h30). Da autoria do padre Arnaldo Pinto Cardoso, Simão Pedro – Testemunho e Memória do Discípulo de Jesus Cristo pretende analisar o “facto de Pedro” que se impôs ao autor, fruto de longos anos de estadia em Roma, a partir de diferentes manifestações.
“Aquele que vive – uma releitura do Evangelho”, de Juan Masiá
Esta jovem mulher iraniana, frente ao Tribunal que a ia julgar, deu, autoimolando-se, a sua própria vida, pelas mulheres submetidas ao poder político-religioso. Mas não só pelas mulheres do seu país. Pelas mulheres de todo o planeta, vítimas da opressão, de maus tratos, de assassinatos, de escravatura sexual. Era, também, assim, há 2000 anos, no tempo de Jesus. Ele, através da sua mensagem do Reino, libertou-as da opressão e fez delas discípulas. Activas e participantes na Boa Nova do Reino de Deus.
Levar o cristianismo de volta ao seu moinho, através do entendimento da História
A propósito de “Moinho da Memória” (ed. Paulus), de Carlos A. Moreira Azevedo: Este livro, que traduz o “processo de fazer da história” referido na introdução e traduzido no título, ajuda a ganhar consciência do reino de Deus como utopia que deve ser “actuada”, concretizada.
Livro: Papa Francisco Debaixo de Fogo
O arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio do Vaticano nos Estados Unidos da América, protagonizou em Agosto do ano passado um invulgar caso com um fortíssimo impacto mediático, político e eclesial ao acusar o Papa Francisco de conhecer situações de assédio sexual cometidas pelo então cardeal Theodore McCarrick e de não ter agido contra o prelado com o vigor que a gravidade da situação requeria.
O armário de Frédéric Martel
A tese central do livro, desdobrada em 14 regras, é a de que a Igreja Católica está a ser destruída pela doutrina moral que impõe o celibato e a castidade, ao mesmo tempo que abomina a homossexualidade, mas convive com uma enorme tolerância disciplinar perante práticas homossexuais, incluindo o encobrimento de abusos sexuais.