O “caso” frei Bernardo de Vasconcelos: 100 anos da sua vocação monacal e uma carta novidade
Vem isto a propósito de uma efeméride que concerne o jovem Frei Bernardo de Vasconcelos (1902-1932), monge poeta a quem os colegas de Coimbra amavam chamar “o Bernardo do Marvão”, nome pelo qual era conhecido nas vestes de bardo, natural de São Romão do Corgo, em Celorico de Basto, Arquidiocese de Braga, que a Igreja declarou Venerável e que, se Deus quiser (e quando quiser), será beatificado e canonizado. (Pe Mário Rui de Oliveira)
Secularismo e Direitos Humanos novidade
O Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) decidiu, no passado dia 28 de novembro (ver 7MARGENS), que a administração pública de um país pode proibir os seus funcionários de usarem visivelmente qualquer sinal que revele crenças filosóficas ou religiosas, a fim de criar um “ambiente administrativo neutro”. Devo dizer que esta formulação me deixa perplexa e bastante preocupada. É óbvio que todos sabemos que a Europa se construiu sobre ruínas de guerras da religião. (Teresa Toldy)
Viver a Fraternidade: testemunho sobre a Irmãzinha Maria Montserrat de Jesus
Há pessoas que marcam em definitivo a nossa vida. A Irmãzinha Montserrat marcou a minha. Com a sua partida para Deus, a 13 de março do corrente ano, surgiram claras as recordações de tanto caminho andado em conjunto. Aqui fica um pequeno testemunho sobre tão grande amiga e mestra. A Irmãzinha Maria Montserrat de Jesus era catalã e viveu uma grande parte da sua vida em Lisboa, como religiosa da Fraternidades das Irmãzinhas de Jesus de Carlos de Foucauld.
Amor e Sentido
O Sentido talvez consista numa entrega total a algo, causa ou ideia, com amor. Mas não estou certo de que todas as causas suscitem a mesma plenitude de sentido. O que trará essa plenitude? A dimensão ou integridade do amor que se dedica, ou a causa em si, objeto desse amor? É certo que o “muito amar” justifica até a causa aparentemente mais insignificante, contanto seja um amor sincero, até certo ponto desinteressado, e não uma tábua de salvação para a angústia da solidão ou da falta de sentido. (Ruben Azevedo)
O funeral da mãe do meu amigo
O que dizer a um amigo no enterro da sua mãe? Talvez opte por ignorar as palavras e me fique pelo abraço apertado. Ou talvez o abraço com palavras, sim, porque haveria de escolher um ou outro? Os dois. Não é possível que ainda não tenha sido descoberta a palavra certa para se dizer a um amigo no dia da morte da sua mãe. Qual será? Porque é que todas as palavras parecem estúpidas em dias de funeral?
Igreja: não nos serve uma simples administração
Falemos claro, sem personalizar ou localizar, mas pelo que acontece, quase sempre e em toda a parte, nos mesmos cargos, e nas mesmas circunstâncias. Intervenhamos numa atitude conventual, numa expressão que hoje praticamente não se usa e nem sei se se pratica, a chamada “correcção fraterna”. Quero referir-me aos últimos acontecimentos, particularmente, na Igreja; novos Bispos sagrados e novos cardeais purpurados ou investidos e também novas colocações de Párocos. (Serafim Falcão)
O Papa Francisco e a COP28 do Dubai
A COP28 do Dubai que inicia dia 30 de novembro motivou ao Papa Francisco a redação da exortação apostólica Laudate Deum sobre a crise climática, que regista uma intensa carga política: estatisticamente, dos seus 73 pontos, 60 são de natureza exclusivamente política e apenas 13 com conteúdo espiritual, religioso, ou diretamente ligado à vivência da fé cristã. (Dina Matos Ferreira)
“Não me detenhas” | O regresso das impertinentes (I)
Pensava que não voltaria aqui tão cedo, mas continuo às voltas com o tema do lugar das mulheres na Igreja. Seria fácil assumir o papel de demolidora passiva, não propor nada, e mascarar a minha inércia com uma aparente e plácida ponderação. Fui bem-ensinada a desconfiar da afeição a temas difíceis, que acaba por nos domar e toldar o horizonte e, além disso, quem não quer marcar pontos de moderação nestes tempos desbragados? (Marta Saraiva)
Memória como disciplina espiritual
Lembrem-se. “Lembrem-se e não se esqueçam”, assim diz no quinto livro da Torá. A memória é algo que Deus dá à Humanidade para o seu proveito. Esta faculdade mental é tão importante que o verbo “lembrar” tem 232 ocorrências, apenas no Antigo Testamento. A memória é essencial para o processo de aprendizagem, para a adaptação a um ambiente ou a uma cultura, para o cultivo de uma saúde emocional e ainda para a definição de identidade pessoal. (Débora Hossi)
Abraçar o vazio
Enfrentar o vazio é necessário. Abraçar o vazio. Porque é no deserto que a revelação acontece. O homem não foi feito para estar sempre saciado, antes pelo contrário, a insatisfação e o inacabamento são a sua condição. Tal não significa que ele não deva buscar satisfazer-se, contanto que seja a partir daquilo que lhe é próprio, essencial. E o essencial, em nós, nem está dado nem é passível de conquista definitiva.
Enfrentar a superficialidade digital com ocasiológios
Um dia cruzei-me com alguém que disse não conseguir ir à missa de terça-feira onde cantávamos porque tinha uma oração on-line. Fiquei a pensar nessa situação por ter-me sido partilhado um estudo que demonstrava como a comunicação por Zoom afeta o nosso cérebro activando menos os seus sistemas sociais, face a uma conversa presencial, além de não oferecer a mesma profundidade de ligação neuronal como nos encontros de olhos nos olhos. (Miguel Panão)
O Sínodo? A Igreja? Qual a minha esperança?
Jesus foi uma contradição. Contrariou todas as expectativas desde o seu nascimento. Os judeus esperavam um messias à sua imagem e semelhança, todo-poderoso, rei dos judeus (rei deste mundo). Jesus começou por nascer como um sem-abrigo, nem casa teve, nem sequer um quarto. Foi perseguido e teve de fugir. Comeu com todos, era amigo dos mais frágeis, dos excluídos do seu tempo. Acolheu todos, começando pelos últimos, pelos rejeitados, pelos considerados impuros. (Isabel Viseu)
A “clericalização” das mulheres
Ao ouvir certos representantes da Igreja Católica, fica-se com a impressão de que vale quase tudo para afastar as mulheres dos lugares de liderança no interior da instituição. No entender destes senhores, se o que se pretende hoje é proceder à desclericalização da Igreja, a clericalização das mulheres vai acontecer ao arrepio do principal objetivo da reforma.
Dia Mundial dos Pobres
Pobres: “envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão”
Hoje, 19 de novembro, assinala-se o Dia Mundial dos Pobres, instituído há oito anos pelo Papa Francisco. Não é de somenos importância falar de pobres e não de pobreza. Estamos a falar de pessoas e não da pobreza enquanto objeto sociológico, universo de estudo económico ou estratégia de políticas públicas. Pessoas concretas: pais, mães, crianças, jovens, famílias, velhos abandonados à sua solidão, sem-abrigo… Talvez um nosso vizinho num bairro próximo.
Aprender a olhar para as insignificâncias
O António Lobo Antunes acaba por dizer, num dos seus textos, que terminar uma crónica é fácil: “Põe-se o ponto final e deixa-se o resto da página em branco, pronto.” Cá para mim escrever crónicas é a maneira mais dolorosa de dar significado ao insignificante. A crónica – quando se lê Clara Ferreira Alves, António Lobo Antunes, Rui Zink, Miguel Esteves Cardoso – parece a forma literária de mais fácil execução, como se aquilo que se lê sempre tivesse estado lá, assim tão óbvio. (Ana Sofia Brito)
Lembrar o Padre Manuel Antunes
Começo por agradecer ao Professor José Eduardo Franco a iniciativa de fazer regressar aos nossos dias um mestre fundamental. O Padre Manuel Antunes teve um papel essencial, ainda antes de 1974, na preparação da democracia. Os seus textos são exemplo que não podemos esquecer. (Guilherme d’Oliveira Martins)
Guerra é nome de gente
A guerra é conteúdo digital, enquadrado por música, tipos de letra, efeitos surpreendentes, segundo os requisitos de cada rede social.
Escatologia sapiencial não costuma falhar
[xxxii domingo do tempo comum // último dia da semana dos seminários ― a ― 2023] 1. Pudesse hoje proporcionar-vos uma visita especial, para admirar uma das páginas da Escritura acabadas de ouvir, e iríamos à igreja de S. Paulo do Seminário Conciliar, em Braga....
Religiões, conflitos e diálogo
Ao ler as opiniões que se vão publicando a respeito da trágica situação que vive hoje a Terra Santa, nota-se nelas a tendência para tomar partido. O cardeal D. Américo Aguiar disse que esse é um grande perigo e parece-me que tem razão. Contrária a essa visão “partidária” é a de quem procura colocar-se no lugar do outro. [A opinião de Pedro Vaz Patto]
O próximo Sínodo da Igreja de Inglaterra e os clérigos homossexuais
Como noticiado pelo 7MARGENS, em Fevereiro deste ano o Sínodo Geral da Igreja de Inglaterra aprovou a bênção a casais do mesmo género, garantindo a salvaguarda do entendimento quanto à noção de casamento (apenas entre homem e mulher). Nesse mesmo Sínodo também foi...
Nunca afastes de algum pobre o teu olhar - V
A solicitude pelos pobres
S. Paulo VI, na Mensagem da Quaresma de 1978, afirmou: «Já se disse alguma vez que existe uma arte de dar e uma arte de receber; os cristãos não têm senão um termo para uma e outra: a compartilha fraterna.»[1]. Em suma, dar e receber é uma arte e, na perspetiva cristã, esta arte tem um nome, chama-se “partilha fraterna”. Cristãos ou não, nem todos, têm esta arte. (Eugénio Fonseca)
Haverá outro caminho?
Temo que o preço a pagar para eliminar o Hamas venha a ser demasiado alto. Já está a ser. Em vidas humanas inocentes. Não haverá outra forma de resolver o problema que não implique o continuar dos bombardeamentos e uma invasão em larga escala, que só trará mais mortandade de ambos os lados? Como é que se extirpa uma ideologia radical e uma organização cujo braço armado atinge os 100 mil homens? (Ruben Azevedo)
Estas lutas infrutíferas, estas guerras ruinosas…
Já não bastava a guerra que se prolonga na Ucrânia. Agora temos outra guerra na Terra Santa. E nos meios de comunicação, nas redes sociais surgiu uma nova avalanche de notícias, imagens e comentários sobre este conflito. Foi a barbárie dos massacres de 7 de outubro, é a violência dos combates que se têm seguido, é o sofrimento e o desespero de todos os inocentes; tudo isto nos perturba. (Marco Oliveira).
Deus e a sociedade perfeita
Neste texto do Novo Testamento S. Paulo cita o salmista para dizer que as pessoas vivem na impiedade, por palavras e actos. Não há pessoas perfeitas. Logo, não há famílias perfeitas. Não há comunidades cristãs perfeitas, nem escolas, nem empresas, nem fábricas, nem cidades, nem vizinhanças, nem lideranças políticas, nem governos, nem sociedades perfeitas. (José Brissos Lino)
Que padres… para a Igreja?
[xxxi domingo do tempo comum // 1º dia da semana dos seminários ― a ― 2023] 1. Como sabereis, neste e no próximo fim de semana, os seminários arquidiocesanos de Braga deslocam-se às comunidades do arciprestado de Celorico de Basto. Estamos em saída e garantimos...
Exigir e ousar no “caminhar juntos”
O último mês de outubro de 2023 marcou uma nova etapa do processo sinodal em curso, depois da auscultação do Povo de Deus, dos encontros locais, diocesanos e nacionais e das assembleias continentais que reuniram e continuaram o discernimento em redor da problemática sinodal: como assumir a identidade sinodal que a Igreja já comporta desde os tempos primitivos?
Cristianismo: humanismo e dignidade integrais num mundo cindido
Numa das minhas viagens no Metro no Porto, uns estudantes conversavam entre si sobre os malefícios do cristianismo para a sociedade. Pessoas enganadas por outras pessoas enganadas. Não se ser fiel aos princípios professados é uma realidade em qualquer grupo social. Creio que não vale a pena negar que, ao longo de séculos, os contraexemplos de cristãos a não serem cristãos são abundantes.
A quem pertence a “Casa Aberta”
Esta tinha sido a casa da sua mulher, Dália, de uma família de judeus vindos da Bulgária em 1948, em plena época do Êxodo da Europa central para a Palestina, logo após a II Grande Guerra. A versão oficial era a de que Ramle e outras cidades próximas, como Jafa e Lidah, tinham sido abandonadas pelos seus próprios habitantes, que fugiam diante do exército israelita vitorioso – e tanto bastava para que estes imigrantes pobres, acossados pela memória do Holocausto, as ocupassem de consciência tranquila, como sendo a “sua” Terra Prometida.
Nunca afastes de algum pobre o teu olhar - IV
Agir com e pelos pobres
São muitíssimo diferentes as causas que estão na origem das condições em que vivem as pessoas em situação de pobreza. Já não é suficiente o critério dos três “Ds” – desemprego, divórcio e doença. Na verdade, não é bem assim. Basta vermos que 1/3 dos trabalhadores vivem no limiar da pobreza e o crescente número de famílias monoparentais, que não resultam de divórcios, assim como o risco em que se encontram os grandes agregados familiares e, ainda a baixa escolaridade de muitos portugueses.
Do crisântemo branco com a cigarra verde
Este ano, numa tarde de agosto, contemplei uma imagem, que conservo na memória visual e sonora, a qual, por nada, desejaria que fosse apagada ou emudecida. Sim, vi, não «um anjo que subia do Nascente» (cf. Ap 7,2), mas uma cigarra verde subindo à corola de um crisântemo branco. E demorei-me naquela paisagem-icónica, pensando neste dia, ― o da Solenidade de Todos os Santos ― tantos são os crisântemos que, nos cemitérios dos cristãos,
cobrem de cor e de perfume as campas e os jazigos.
Talentos pela paz
Bernard Shaw, escritor irlandês, nobel da Literatura em 1925, disse «A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos.» E eu diria, de que nos fazemos ser. Somos produto da nossa história, mas não reféns ou vítimas dela, se assim não o permitirmos.
Viver em casa dos pais e sem perspectivas de futuro
A vida não está fácil para os jovens portugueses. São dos mais mal pagos, mais tarde se emancipam da casa dos pais e têm mais baixos salários. Cerca de metade dos jovens até aos 34 anos vive com os seus pais. Estes são os dados de um recente estudo, um retrato bem negro que nos revela, de um modo cabal, como a juventude portuguesa se situa na nossa sociedade e encara a sua vida futura. (Florentino Beirão)
Saúde mental e ócio
Num artigo do DN do último domingo sobre saúde mental, a psicóloga Inês Barroca escreve que «As crianças e adolescentes parecem já não saber aborrecerem-se. Várias vezes prescrevi, em consulta, como receita, “não fazer nada” e, até agora, não tive ninguém que o tivesse efetivamente conseguido.» (DN, domingo 15/10/2023, artigo “Não há saúde sem saúde mental”) (Ruben Azevedo)
Jesus, o Nazareno: o Filósofo esquecido de Jerusalém
Clarifico desde já: Não estou a falar no Cristo, o Messias, o Profeta. Refiro apenas o homem, o jovem, que diz de si próprio ser o Nazareno. O rapaz que passava horas no templo a conversar com os “doutores” e de quem admiravam o conhecimento e a sabedoria. Do homem que, como Sócrates em Atenas, andava “por ali”, com gente atrás que gostava de o ouvir e a quem ele falava.
Comunhão Anglicana: os “Apelos” de Lambeth
A Conferência de Lambeth, de bispos anglicanos, convocada de dez em dez anos reuniu a última vez em julho de 2022, para analisar dez tópicos, contendo questões sobre a “igreja segura”, relações ecuménicas, ambiente e desenvolvimento sustentável, sob o lema “A Igreja de Deus para o Mundo de Deus – caminhar, ouvir e testemunhar juntos”. (Joaquim Armindo)
As preferências de Francisco – “C’est la confiance”
No dia que a Igreja Católica Romana celebra liturgicamente Santa Teresa de Ávila (no passado dia 15 de outubro), o Papa Francisco deu ao mundo uma exortação apostólica denominada C’est la Confiance (“É a confiança”), por ocasião do 150º aniversário do nascimento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, que considera ser “um fruto maduro da reforma do Carmelo” (nº 4). (Dina Matos Ferreira)
A Face Feminina de Deus (2)
Nas religiões abraâmicas, Deus tende a ser descrito com atributos que tradicionalmente consideramos masculinos, apesar do Criador ser considerado uma realidade transcendente, sem um corpo físico. As representações artísticas clássicas atribuíram-lhe uma figura masculina. Vivemos e moldámos as nossas culturas com essas imagens masculinas da divindade. (Marco Oliveira)
Nunca afastes de algum pobre o teu olhar - III
A promoção integral da pessoa em situação de pobreza
O Papa Francisco, no número 5 da sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, agradece a Deus a existência de «tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento.»
Contra o fanatismo
Estou a ler um livrinho pequenino chamado Contra o Fanatismo, do escritor israelita Amos Oz. Ele diz que o fanatismo começa na superioridade moral que o fanático supõe deter em relação ao Outro. E isto encontra-se até nas coisas mais comezinhas. [Um artigo de Ruben Azevedo]
Renovamento Carismático Católico: corrente de graça rumo à unidade
Devido às grandes divisões ocorridas ao longo dos séculos no seio da Igreja, existem hoje diferenças tão marcantes nas diversas doutrinas e eclesiologias que, por vezes, se torna praticamente difícil, senão quase impossível, propor uma união entre as diferentes Igrejas cristãs existentes.
Uma sombra de gente a olhar a morte
Quando uma guerra se instala – seja em que parte for – falhamos todos. Falhamos enquanto espécie. Falhamos por acreditar que vivemos em linha recta quando negligenciamos a evidência dos ciclos.
A “Laudate Deum” e a Inteligência Artificial
Um estudo publicado no passado dia 10 de outubro discute a crescente pegada energética da inteligência artificial (IA) e seu potencial impacte ambiental. A rápida expansão e ampla aplicação da IA nos últimos anos, especialmente com o lançamento do ChatGPT da OpenAI, aumentou a preocupação sobre o consumo excessivo de eletricidade para suportar estas ferramentas.
Apontamento sobre a necessidade de ver claro
Sejamos claros: Cada vida conta. Todas as vidas contam. Não há vidas melhores ou piores. Não as há certas ou erradas. Nada justifica a sua supressão. Seja numa manifestação cruel de desespero e impotência. Seja às mãos de um estado terrorista que, desde há anos, a morte serve e, diligente, a organiza e a propaga.
A Face Feminina de Deus (1)
Quando se fala de religião com portugueses, quase inevitavelmente fala-se de Fátima. E muito naturalmente os Bahá’ís são questionados: “Mas vocês acreditam em Fátima e nas aparições?”. Costumo dizer que este é aquele tipo de pergunta onde devemos evitar respostas simplistas, pois há várias formas de olharmos os cultos marianos.
“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” – II
Ir ao encontro do pobre
A história do mundo está repleta de gente que pelas suas convicções ideológicas ou outro tipo de motivações sofreram provações de toda a espécie e muitíssimos até se deixaram matar por se colocarem do lado dos mais frágeis da sociedade e de reclamarem mais justiça e solidariedade. Muitos desses fizeram-no em nome da sua fé; entre eles, está um número incontável de cristãos católicos.
Onde está o progresso social?
No que à regulação da prostituição diz respeito, confrontam-se hoje na Europa dois regimes radicalmente diferentes. Um deles é o que encara essa atividade como qualquer outra atividade laboral (“trabalho sexual”), que como tal e com os inerentes direitos do...
Acerca do conceito de “depósito da fé”
Na teologia “oficial” católica usa-se amiúde a expressão “depósito da fé” para expressar o conteúdo da fé cristã (a doutrina), tal como a Igreja Católica o entende. A expressão reveste-se, contudo, de grande ambiguidade e remete para uma conceção doutrinal redutora e estática. O que é um depósito senão uma espécie de arrecadação onde guardamos objetos que queremos preservar intactos e sem a menor modificação?
O amor é descendente
Fui a um hospital privado para uma consulta. Na sala de espera, apesar de não estar muito cheia porque era mês de Agosto, encontravam-se pessoas com as mais variadas dificuldades. Umas em cadeira de rodas, outras de máscara de oxigénio para respirar, outras ainda com a debilidade estampada no rosto, nas mãos ou na marcha incerta.
Dia Mundial dos Pobres: A essência do testemunho
“Nunca afastes de algum pobre o teu olhar”
Nos últimos três anos escrevi um livro/guião, por cada ano, com os objetivos de despertar as comunidades cristãs e movimentos eclesiais e, com toda a humildade, ajudar os que neles participam a prepararem-se para melhor viver o Dia Mundial dos Pobres. Não sei se atingi o que pretendia.
“Laudate Deum”, um apelo à ação
Oito anos depois da publicação da carta encíclica Laudato si’, o Papa Francisco assinou no dia de S. Francisco de Assis a exortação apostólica Laudate Deum, onde regressa ao cuidado do maltratado planeta, exprimindo profunda preocupação pela nossa casa comum. No fundo, o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias. Estão em causa a saúde, o emprego, o acesso aos recursos, a habitação e as migrações forçadas.
O Globo da Garota: Obrigado, Cátia
A Garota é um fenómeno que nos resgata meia esperança do fundo do poço. Não se trata do Globo (mero objecto), trata-se de um povo rendido a uma mulher que fascina pelo pensamento, que fala dos abusos sem rédeas e sem vergonhas.
Discernimento sinodal e as mulheres no diaconato
Argumentar contra a restauração do diaconato de mulheres é discordar do próprio ministério diaconal. O Povo de Deus perguntou. O Sínodo pode responder. Que dizem de mulheres diáconas?
Somos o que fazemos ao mundo
Com o seu texto, o Papa assume uma ampla perspetiva universal. Dito de outro modo, a sua origem não europeia permitiu-lhe uma experiência de vida, rica e diversa, onde naturalmente não se paga tributo ao pecado venial do eurocentrismo, que tende a identificar-se, de modo arrogante e redutor, com a universalidade inteira. [A opinião de Viriato Soromenho-Marques]
Uma exortação a sermos mais exigentes e interventivos
A novíssima exortação apostólica sobre o “não-cuidado” da casa comum dá alguns puxões de orelhas, mostrando a grande preocupação do Papa com tanta inoperância perante os problemas que se adensam. Mas o título – Laudate Deum –, citando mais uma vez S. Francisco de Assis, está no modo imperativo, dirigido de novo a todas as pessoas de boa vontade, propondo uma atitude humilde, confiante e grata, porque, alerta, “um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo”.
Mentalidade cristã
O Novo Testamento apresenta-nos um texto do apóstolo Paulo, dirigido à comunidade cristã de Roma, que trata da necessidade de renovação da mente, ou seja, de adquirir uma mentalidade cristã. Esta capacidade constituirá talvez a consequência mais directa da conversão a Jesus Cristo.
Lei da Mordaça
Fico a saber da imposição da lei da mordaça aos delegados do Sínodo dos Bispos, pela reportagem de António Marujo, da abertura dos trabalhos sinodais. Recordou Marujo que o Papa já pedira “um certo jejum da palavra pública” e, a seguir, o nosso enviado especial brindou os leitores do 7MARGENS com um naco da prosa pardacenta, própria de regulamentos autoritários:
Um choque em cadeia
Imagine que está na rua à espera do seu filho que o vem buscar de carro, e, de repente, vê um choque em cadeia. Vários carros embatem uns nos outros, o do seu filho incluído, e algumas pessoas sofrem lesões graves. O trânsito é intenso, e os carros que vêm da rua adjacente não sabem ao que vêm. Certamente vão ficar presos neste congestionamento e, na pior das hipóteses, poderão chocar contra os automóveis já no meio do desastre, sobretudo se vierem com muita pressa.
Um murro na mesa
Uma imagem que pode nos ajudar a interpretar a exortação apostólica Laudate Deum do Papa Francisco é a de “um murro na mesa”. O Papa adverte que já se passaram oito anos desde a sua carta encíclica Laudato si’, e “não estamos a reagir de modo satisfatório,
“Laudate Deum”: a exortação no momento certo
Vale a pena lembrar o contexto em que a carta encíclica Laudato Si' surge em 2015. Foi um ano marcante, com o Papa Francisco a marcar a agenda da sustentabilidade no final de maio, com a aprovação pelas Nações Unidas em setembro dos objetivos de desenvolvimento...
Presa ao passado
Ninguém vai contar a tua história, Joana. Vi o telejornal da primeira à última notícia e nem uma palavra sobre ti. Sejamos sinceros, nem viva se interessaram por ti, quanto mais agora. Só mais uma vítima de violência doméstica, espancada, humilhada e violada pelo companheiro, com os filhos constantemente a assistir, convenhamos, já não é notícia.
Qual o nosso olhar sobre os activistas climáticos?
Lembramos Aristides de Sousa Mendes…Como criminoso? Não, não, como herói. Embora tenha ido contra a lei e ordens superiores do Estado para salvar milhares de Judeus. Olhamos para Martin Luther King Jr. e os seus companheiros como alguém que, com as suas marchas pela Paz, interrompiam o trânsito de quem queria ir para o trabalho? Não, não, como aqueles que trouxeram a igualdade para negros e brancos. Ainda que irrompessem pelas cidades impedindo a normal rotina diária dos residentes.
Caminho da justiça
Na ponta final das vindimas, constatamos que há muita uva. Felizmente estão a verificar-se excelentes produções, ao ponto de algumas adegas terem de adiar a receção das entregas dos produtores, tal é o ‘milagre das uvas’. É o que sucede, por exemplo, em Vila Real, que, por causa do aumento diário do afluxo de uvas, ― na ordem das 850 pipas, isto é, mais 200 do que o habitual ―, foram suspensas as vindimas até amanhã, dia 2 de outubro. Este texto corresponde à homilia do passado domingo, dia 1 de outubro, XXVI Domingo do Tempo Comum na liturgia católica, 2023.
Humanizar a Educação (em todos os sentidos)
“Todo o professor, seja qual for a sua especialidade, é acima de tudo um mestre de humanidade”. Esta frase de Georges Gusdorf, professor e filósofo francês, autor de um livro extraordinário que todos os professores deviam ler (Professores para quê?, Livraria Morais Editora, Lisboa, 1967), diz bem acerca do ideal a que qualquer professor deve aspirar, ao serviço da educação integral do ser humano, e não apenas do ensino em sentido estrito.
O vagabundo em dia de festa da cidade
A cidade está em festa. As luzes banham histéricas o céu anoitecido sobre a dança comum. Os senhores de fatos, os feitores – os grandes feitores – sobem ao palco, como se de um altar se tratasse, para a habitual gabarolice. E o povo dança entre os aplausos enquanto o artista exibe os dotes, de boca colada ao microfone e acordeão rente ao peito.
Pontes para o divino- Calendário Litúrgico Ortodoxo
No Cristianismo o calendário litúrgico é uma importante ferramenta para organizar e estruturar os eventos e celebrações religiosas ao longo do ano, com base em acontecimentos significativos dos Evangelhos, dos santos e da história das igrejas locais e universais. Na ortodoxia o ano litúrgico inicia-se a 1 de Setembro, tendo como primeira festa, a 8 do mesmo mês, a Natividade da Virgem Maria (Esta comemoração é como uma fonte para celebrar todas as festas do Senhor abrindo a história do Evangelho – Metropolita Epifânio).
Que mistério este, o coração humano
Acreditamos na paz, na humanidade, em nós próprios, em Deus, em deuses, no diabo, na ciência. E é legítimo. Sem dúvida. Somos livres, e livres de buscar a verdade conforme nos apraz. Assim, deixamo-nos levar por normas, por credos, por mestres de todas as cores e feitios; submetemo-nos livremente a uma entidade, a uma ideia, na perspetiva de que isso nos aproxima do grande mistério do universo.
As prisões e as suas falácias – alguns contributos
O conhecimento da realidade do sistema prisional em Portugal está longe de estar patente em muitos responsáveis políticos e, ainda menos, na opinião pública em geral. Assiste-se, de vez em quando, à propalação de indicadores e comentários baseados em elementos superficiais falaciosos. [A opinião de Manuel Hipólito Almeida dos Santos]
Humanizar a partir da educação integral
Neste artigo procurarei enunciar algumas ideias muito gerais acerca do que considero ser necessário para a humanização do Humano do ponto de vista da educação integral. Ou seja, para essa tarefa sempre inacabada de elevar o Humano à sua verdadeira dignidade, na liberdade e pela liberdade.
À procura de um Reencontro
Nestes dias que correm velozes, plenos de interrogações no mundo, parto… a pé. Seguimos pela nova ponte sobre o rio Trancão e o Caminho pedonal ribeirinho, que vem complementar o Caminho do Tejo, rumo a Fátima ou a Santiago. Aconselho vivamente este Caminho do Tejo, pois desenvolve-se na sua maior parte em belos trilhos, caminhos e estradas rurais.
Uma outra revolução sexual
Um pouco por todo o lado, ouvem-se vozes a sugerir mudanças no âmbito da ética sexual católica. Nota-se a vontade de “atualização”, no sentido de adaptação à mentalidade e práticas correntes, sem a qual qualquer proposta da Igreja neste campo estará condenada à irrelevância. É o que se verifica nas conclusões do chamado “Caminho Sinodal” alemão, mas não apenas.
Estrangeiros em nossa casa
O substantivo casa é abundantemente usado como sugestiva imagem por diversas religiões. Casa como símbolo do cosmos, isto é, da ordem cósmica. O Egipto construiu túmulos em forma de casa, aludindo ao significado de última morada do homem. O budismo remete para o corpo-casa, sugerindo que o corpo é abrigo da alma. [A opinião de António Ribeiro]
A mudança a acontecer
Vivemos tempos exigentes e instáveis, que colocam novos desafios à forma como nos organizamos enquanto sociedade e como pensamos e estruturamos as instituições e formas de trabalho, mas também novas oportunidades e formas de pensarmos a vida em comunidade. [artigo de Afonso Borga]
Do clima exterior ao clima interior
As estradas de Madrid num vídeo enviado por uma amiga pareciam rios. Os carros circulavam como se estivessem no meio de um dilúvio em pleno Verão. Num recente relatório de avaliação do progresso dos Acordos de Paris em 2015 sobre os compromissos dos países de agir em relação às alterações climáticas mostra que tudo está a acontecer com grande lentidão.
O desafio da liberdade
No passado, o grande desafio foi o de conquistar direitos e liberdades civis, como a liberdade de pensar e manifestar livremente opiniões políticas ou outras, ou o direito à segurança pessoal e dos bens, ou o direito a um julgamento justo, ou à presunção de inocência, ou de escolher livremente os seus representantes políticos, etc. – tudo direitos e liberdades que pressupõem que cada indivíduo é dotado incondicionalmente de certos direitos, liberdades e garantias inalienáveis.
Timidez ou arrogância
Desde sempre que engenho esquemas para camuflar a timidez; acho que me tenho saído bem, ninguém desconfia. Ontem à noite uma simpática senhora aproximou-se do meu colega, sem reparar que eu estava logo atrás, e disse-lhe para dar os parabéns à menina do fogo, que gostou muito do espetáculo mas que a achava antipática, que fugia logo e nem sequer ficava um bocadinho ali no final a dar atenção ao público.
Precisamos mesmo de milagres?
Fez-se uma pausa. Não era a primeira vez que falávamos de milagres nas nossas conversas sobre religião. Ele, defendendo os milagres como prova da presença divina ou da santidade de alguém; eu, questionando os milagres como sinal de intervenção divina. Numa conversa anterior sobre este tema, tinha dito que há coisas que pareciam impossíveis há alguns séculos e que hoje são perfeitamente normais.
Por uma esperança que não seja ingénua
Estou persuadido de que cada comunidade precisará de uma teia e de um crivo, com Jesus no centro: ora na resistência paciente, que resolve certos problemas com o tempo, ora em redobrados esforços, no cuidado do grão a limpar de impurezas. Ganhemo-nos uns aos outros pelo amor, que só faz bem. (Este texto, do Padre Joaquim Félix, corresponde à homilia do passado domingo, dia 10 de setembro, XXIII Domingo do Tempo Comum na liturgia católica, 2023.)
Um bispo da estrada, junto das pessoas
A nomeação de D. Rui Valério como novo Patriarca de Lisboa constitui motivo de alegria e de esperança num momento especialmente importante e exigente na vida da Igreja entre nós, perante inúmeros desafios marcados pelo período sinodal e pela necessidade de mobilizar energias no sentido de superar graves dificuldades recentes, de aproveitar o impulso das Jornadas Mundiais da Juventude e de apresentar à sociedade um sentido de renovação e de responsabilidade.
O “monstro” de Frankenstein
O meu filho mais velho ofereceu-me, há já algum tempo, o romance “Frankenstein”, de Mary Shelley. Agradeci, mas guardei-o no escaparate que destino aos volumes em lista de espera para uma eventual melhor oportunidade. Entretanto, o tempo foi passando, a pilha em espera foi aumentando, outras prioridades foram surgindo, até que nas presentes férias de verão, já cansado de tantas leituras ensaísticas, resolvi recuperar do limbo esse volume meio esquecido.
Da necessidade de uma “nova” gramática do Evangelho
É genericamente consensual que uma boa gramática, além de ser parte importante da nossa linguagem e de desempenhar um papel eficaz na comunicação que temos uns com os outros, é fundamental para a construção, leitura e compreensão de qualquer texto. Uma gramática consiste essencialmente num conjunto de regras e estruturas que estipulam a melhor maneira de organizar as palavras em frases e sentenças.
Apenas servos
Servir Deus não tem que ver com a ideia de mera submissão ou o exercício duma tarefa árdua e difícil, mas sim com uma atitude de amor. Aliás, não há outra forma de prestar serviço a Deus a não ser servindo as pessoas.
De um louco que não orbitava
Claro que, de todos os discursos que o Papa pronunciou em Portugal, aquele que em mim mais ressonância provocou foi o proferido no centro paroquial do bairro da Serafina. Sobretudo porque, apesar de não o ter feito em voz alta, quando li o discurso, me dei conta de que estava a “ouvir” a história da vida apaixonada do fundador da minha família religiosa, o louco de Granada.
O adeus ao tio Maga
Há dias, na minha oração, pedi à avó que pusesse mais um prato na mesa do céu porque nos mentem quando nos ensinam que a esperança é a última a morrer – mas que grande mentira. Acreditei até que a esperança só morria depois de morta, mas é o contrário. A esperança morre assim que nasce.
Desbloqueia a tua paróquia
Temos de apostar seriamente na transformação das nossas paróquias, e com isto, criar uma cultura de paróquia. Deixarmos uma cultura de manutenção e passarmos a uma cultura virada para a missão. Não podemos continuar, apenas e só, a cuidar do rebanho, é fundamental irmos atrás da ovelha perdida, dos que estão fora. Este é um trabalho árduo que se chama Nova Evangelização.
Ite, Missa Est (Ide, envio-vos a evangelizar)
O 7Margens publicou, a 22 de agosto 2023, um texto em que referia um artigo de Cettina Militello sobre a urgência das alterações litúrgicas nas missas que considero muito importante no contexto actual do catolicismo.
Fadados para quê?
Este foi, é e será sempre o nosso fado: Futebol. Fátima e Fado. A questão é que eu também sou desses. Estou nesse grupo, constituído por milhões de portugueses que se reveem, senão nos nossos três elementos identitários, pelo menos em algum ou alguns deles.
Irá o bolor da Igreja Católica desaparecer?
Tenho lido e refletido sobre a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que aconteceu em Lisboa, não tendo encontrado pareceres negativos sobre a mesma, a não ser de pequenos grupos identificados por “extremistas”, tantos seguindo ideologias pró-fascistas. Com admiração encontro agnósticos e ateus que estiveram presentes ou não, mas louvando as homílias/discursos do bispo de Roma e Papa Francisco.
A noite é dia para tanta gente
A noite é dia para tanta gente; até para mim, amante de manhãs cedo e despertares preguiçosos. Mas foi a madrugada que me escolheu a profissão; as paredes negras, as luzes de fundo a desmentir o escuro das pistas, o fumo a fingir-se de nuvem como que para esconder quem dança mal, e a música alta, ah… altíssima como se de um bando de surdos se tratasse, em plena pista.
A riqueza da inatividade
Hoje comecemos por, em primeiro lugar, nos debruçarmos numas seguras ‘guardas do terraço’, isto é, sobre as palavras de S. Paulo, à imagem da menina ‘observadora’ de Paula Rego (Watcher 1944). Na breve passagem ― como se fosse uma medida de agosto ―, Paulo começa por dar asas ao seu inebriado espanto. (Este texto corresponde à homilia do passado domingo, dia 27 de agosto, XXI Domingo do Tempo Comum na liturgia católica, 2023.)
As últimas palavras do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude
As últimas palavras do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, já no voo de regresso a Roma, foram estas: “Recomendo que não vos esqueçais: Hermanito, Fratellino, o livro do migrante.” Procurei-o. Não existe ainda a versão traduzida para o português. Li-o então em espanhol.
A JMJ e a paz na Ucrânia
Uma das mais comoventes imagens da Jornada Mundial da Juventude que haveremos de reter na memória é a da multiplicidade de bandeiras dos mais diversos países, das mais familiares às mais desconhecidas, de países mais ou menos longínquos, ricos e pobres. Mais até do que o número de participantes, foi esta imagem de universalidade (que mostra como a mensagem do Evangelho chegou mesmo a todos os cantos da Terra, de um modo que só a ação de Deus pode explicar) que distinguiu este extraordinário evento.
Alegria com raízes – Raízes de alegria
A Alegria está quase omnipresente nos escritos do Papa Francisco, talvez por isso não seja de admirar que tenha desafiado os jovens reunidos em Lisboa à alegria e a perceberem onde é que ela está enraizada. Dos muitos desafios lançados pelo Papa, na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, este parece-me particularmente provocatório, pelo que tem de exigência e pelo desafio que acarreta.
Lembra-te que a cama é o altar…
Talvez por uma fixação mediática, o celibato tornou-se o tema monocromático quando se aborda o sacerdócio ministerial. Parece-me, sendo assim, que se cai num reducionismo colossal, na medida em que, e olhando para outras Igrejas e confissões religiosas em que os animadores das comunidades não são celibatários, encontramos frequentemente as mesmas questões que se colocam na Igreja Católica.
“Síganse manteniendo en las olas del amor, en las olas de la caridad”
O meu sonho de ser voluntária na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) começou em 2019, quando o Papa Francisco, no Panamá, anunciou que a edição seguinte seria em Portugal. Depois de ter participado como peregrina em duas JMJ – Madrid em 2011 e Cracóvia em 2016 – senti que tinha chegado o momento de contribuir de alguma forma para um evento que tanto me marcou.
A propósito da JMJ
A realização da JMJ e a presença do Papa em Lisboa são uma oportunidade para refletir sobre o lugar e a importância da religião na sociedade.
Continuamos a pensar a religião sobretudo a partir da pergunta “Deus existe?” e do conflito entre a religião e a ciência como fontes de conhecimento do mundo. A primeira, já o sabemos, é uma pergunta sem resposta de conhecimento e a segunda é uma questão sem sentido.
Escrituras e Violência (1)
Existem imensas passagens da Tanah (Bíblia hebraica) cuja leitura cuidadosa suscita em nós algum desconforto e até dificuldades de interpretação. Ao longo dos séculos, desde a época da Patrística, muitos têm vindo a tentar conciliar as práticas (ética) e imagens acerca do Deus descrito em muitas das passagens do Velho Testamento com os ensinos e pensamento de Jesus acerca do Seu Pai.
Terminou a Jornada Mundial da Juventude. E agora?
Depois destes banhos de multidão, de excelentes palavras proferidas, ao país, aos políticos, à igreja e aos jovens e de tantos gestos, o que fazer? Que caminhos a percorrer? Que coisas a mudar? Que atitudes e comportamentos a ter? Das duas uma: ou cai tudo em saco roto e continuamos a colocar vinho novo em odres velhos, ou então, arregaçamos as mangas, tomamos consciência do que nos foi exortado e vamos ser agentes de mudança de um país, de uma sociedade e de uma igreja renovada e com compromissos de mudança para um mundo melhor.
Cuidar dos mais idosos – um retrato cinzento
Nesta altura do ano, os jovens ocupam o palco da nossa vida social. Numerosos concertos e festivais, onde a música é rainha, organizados pelo país fora, reúnem os jovens em enormes multidões ao redor dos seus fãs. Não importa o preço das entradas para os verem e aplaudirem, em radioso delírio. É vê-los, em longas filas, de manhã à noite, a aguardar por um bilhete que lhes garanta o melhor lugar no espectáculo.
A JMJ e as reformas de Francisco
Mais de um milhão de jovens do mundo inteiro responderam ao apelo do papa para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa. Um evento realmente memorável. Este papa é, de facto, um grande mestre da palavra e da ação. Na linguagem simples de um pregador notável, vai traduzindo o evangelho para os tempos que correm. E fá-lo não apenas com palavras, mas também com gestos de impressionante humanidade.
Agosto no Algarve
Quis a princesa Gilda que nevasse no Algarve e os árabes embelezaram os campos com flores de amendoeira. O céu ao fundo, espelhava a suave transparência da casa dos peixes plantados por Deus. Depois os peixes e as amêndoas encheram as alfaias nos caminhos da sobrevivência. Os séculos, sempre os séculos pendurados nas asas das andorinhas.
Francisco e o futuro da Igreja
Chegou ao fim a JMJ de Lisboa. Se acontecimento de tal ordem não significar uma mudança individual e colectiva para o futuro, de pouco serviu. As palavras do Papa chegam aos ouvidos de católicos, cristãos não católicos, crentes de outras religiões e mesmo ateus. Encontrei várias vezes no Facebook comentários de ateus a louvar as palavras do Bispo de Roma.
Assunção de Maria na ‘Porta da morte’
Este texto, do Pe Joaquim Félix, corresponde à homilia da passada terça-feira, dia 15 de agosto, Assunção da Virgem Santa Maria – Solenidade 2023. Depois da avalanche de acontecimentos e de imagens, que as Jornadas Mundiais da Juventude proporcionaram, com músicas, palavras e coreografias extraordinárias, e gestos que jamais esqueceremos e nos levam à gratidão a tanta gente, sentimo-nos como que a descer o «monte muito alto» (cf. Mt 17,1), onde nos encantámos com várias ‘transfigurações’.
“Todos, todos, todos”
Muitas foram as mensagens do papa, nas JMJ de Lisboa, dignas de ser recordadas. Porém, gostaria de ressaltar a que mais me tocou, porque, a meu ver, se refere ao âmago da mensagem de Jesus de Nazaré. Refiro-me ao já célebre apelo do papa: “Na Igreja há espaço para todos” e à sua dimensão inclusiva e universal, sem exclusões de espécie alguma.
Europa, corredor da morte
Neste fim-de-semana, mais um barco, mais sonhos, mais vidas destruídas, mais famílias a chorar a morte dos seus entes queridos pela desesperada busca de paz, harmonia e subsistência, que os leva a pagar, a dar tudo o que têm em muitos casos, a contrabandistas aceitando as condições mais arriscadas em barcos de borracha rumo ao Reino Unido.
JMJ – Um pau de dois bicos
Terminou a Jornada Mundial da Juventude de 2023 em Lisboa. Os jovens (um milhão de jovens, vamos admitir) regressam agora às suas localidades cansados, eufóricos, esperançosos em uma Igreja que escuta as suas “preces”. Muitos deles experimentando sensações nunca antes vividas. Um sem número de histórias.
Simples e profundo
No momento em que escrevo este texto o avião onde segue o Papa Francisco [de regresso de Lisboa a Roma] encontra-se em território espanhol, a sobrevoar Madrid. Digo-o apenas para que fique datado ou, talvez melhor, enquadrado no tempo com alguma exatidão. Não...
Como uma casa pintada se pode confundir com o acto de pintar uma casa
Não conheço D. Américo Aguiar, nem sequer nunca privei com ele. A seu favor tenho dois argumentos: a minha plena crença na inteligência e no ministério do Papa Francisco, que agora o nomeou cardeal e a afirmação proferida pelo próprio de que a JMJ só teria sentido se depois tudo for diferente. Neste tempo especial em que ocorreu a JMJ, surgiu uma pretensa polémica que nos quer desviar o olhar do essencial. Afinal o que se pretende com a JMJ? Dar uma pintura na nossa casa ou habitar uma casa pintada?
À flor da pele, uma imensa comoção; por debaixo, a prudência e os desafios
À flor da pele nestes dias que se assemelham a revolucionários, sobrevém uma tal comoção geral que não deixa de ser surpreendente. Parecem revolucionários porque em Lisboa as ruas e os jardins estão (muito) cheios e as igrejas estão (muito) cheias de jovens de todas as idades, cores, géneros e feitios, de muitas línguas e bandeiras respirando-se uma insólita atmosfera de festa, de grande alegria e de esperança.
Todos, tu e eu, fomos chamados: Levantemo-nos!
Este texto não tem uma espinha dorsal. É um daqueles que pretende espelhar a alegria de viver a fé e a esperança que senti, ao assistir e ouvir excertos de notícias sobre a visita do Papa Francisco a Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Agosto de 2023. Recordei-me da minha ida à Taizé (Comunidade de fé em França), num mesmo mês, há 16 anos.
Sinéad de Dublin
Algures a meio da primeira pilha de leituras de verão, livros sobre mulheres, maternidades, presenças e ausências, chegou a notícia que Sinéad O’Connor/Shuhada’ Sadaq morreu a 26 de julho de 2023, aos 56 anos. Desde então, tenho pensado nela todos os dias – leio uma entrevista, vejo um vídeo, penso e repenso. Há coisas que quero dizer sobre o assunto, mas tardam a organizar-se no texto.
Uma Igreja para “todos”… até para os reclusos
A Fundação JMJ Lisboa 2023 fez um protocolo de colaboração com Direção-Geral de Reinserção e os Serviços Prisionais (DGRSP) para a construção de 150 confessionários, construídos por reclusos dos estabelecimentos prisionais de Coimbra, Paços de Ferreira e Porto. Amanhã o Papa Francisco irá encontrar-se com seis jovens reclusos da Prisão-escola do Estabelecimento Prisional de Leiria.
A grande hospedaria
Por estes dias, pode dizer-se de Portugal, com propriedade, que é uma enorme, englobante e comovente hospedaria. Disponibilizaram-se e quiseram vir até nós, milhares de jovens, provenientes de quase todas as nações que existem debaixo do céu, para connosco, partilharem a sua vida, cultura, tradições e fé. Uma bênção dos céus, uma construção de homens e mulheres!
Os pontos nos ii sobre o eterno problema dos abusos sexuais
A análise sociológica dirá que a JMJ se esgota em si mesma. Mas entretanto, há uma imensa alegria no ar, formidável, magnífica, contagiante, extremamente comovente pela esperança que transporta, algo ingénua mas tão-tão real que mobiliza a cidade e os cidadãos. Acredito que mau grado as referidas debilidades, algumas sementes há, e flores haverão. Como prescindir da esperança?
Chamar à razão
Agradeço-lhe os múltiplos convites de aprofundamento e de missão conjunta. Obrigado por nos fazer encetar caminhos novos, por provocar a reflexão, por nos escutar, por nos responsabilizar, por nos encorajar e depositar confiança em nós, jovens membros da Economia de Francisco.
Aproximar mundos
E um casal de uma aldeia do Douro a morrer de saudades de dois rapazes de Cabo Verde. Dois filhos que lá têm agora.
Américo Aguiar: um caminhante
Há poucos anos ouvia de um padre responsável pela pastoral dos jovens de uma diocese de Portugal, quando questionado sobre a “ideologia de género” e os gays, que tal estava fora da Igreja. Fiquei com a noção de que na Igreja Católica portuguesa não tinha lugar uma larga faixa de jovens existentes em Portugal e no mundo.
Nada e Criação
Neste artigo, o que procuro discutir não é tanto a questão do tempo, mas antes a questão da suposta criação ex-nihilo do universo, isto é, a partir do absoluto nada. Ora, o que é o absoluto nada? É isso mesmo, tal como o nome sugere: nada, coisa nenhuma, nulidade irredutível. Sabe-se hoje que nada há no universo que não esteja pleno de alguma coisa; o vazio absoluto não existe.
Só em Deus tem descanso o coração humano
Por mais adultos que julguemos ser, seremos sempre crianças à espera de um colo onde pousar a nossa inquietação. Pretender alcançar a completa autossuficiência é esquecer quem somos e renunciar à humilde condição de quem se sabe finito e contingente. Jamais seremos, pela força estrita da nossa vontade, deuses, libertos de todas as peias que nos mantêm reféns das coordenadas espácio-temporais em que a nossa vida decorre.
JMJ 2023: Há pressa no ar!
Em contagem decrescente para a tão aguardada chegada do Papa Francisco a Portugal, acompanhado de peregrinos de todo o mundo, tenho a admitir que me parece ainda um pouco irreal que seja desta vez Lisboa o palco das Jornadas. Talvez a génese deste sentimento venha dos tempos difíceis que temos vivido enquanto Igreja, quer a nível interno, quer a nível externo.
Ciganos há 500 anos no país: uma etnia marginalizada
Está inscrito na nossa Constituição que “todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”. Só que na realidade o grupo étnico dos ciganos permanece como uma comunidade que ainda não usufrui de uma vida perfeitamente equilibrada e integrada dentro da nossa sociedade. Os ciganos apesar de viverem em Portugal há cerca de 500 anos, continuam a ser a etnia mais perseguida e marginalizada.
Em busca da fraternidade mundial na Coreia do Sul
Na semana em que milhares de jovens se juntam em Lisboa para a JMJ, outros milhares de todo o mundo rumam à Coreia do Sul, para participar no 25º Jamboree Mundial, o acampamento mundial de escuteiros, que terá lugar entre os dias 1 a 12 de agosto.
Eu estive lá! (Crónica de uma viagem ao inferno)
Quando aludia ao meu desejo de visitar esse lugar, ouvia quase sempre os mesmos comentários: “Eu não iria! Não teria coragem. Que horror, acho que morreria ao ver aquilo!”. Mas esse era um sonho antigo, meu e do meu marido, pois ele também gostaria de ter podido ir Lá. Então, fui. Sem ele, a não ser no pensamento.
Uma religião “light”?
Vivemos tempos estranhos. Nem piores nem melhores do que os vividos noutras épocas da nossa História. Contudo, observamos sintomas preocupantes sobre a forma como as sociedades estão organizadas e os princípios e valores em que baseiam as suas condutas e as propostas que são feitas às pessoas. [A opinião de António Caseiro Marques]
“Ad Gentes” – Fé Imatura
(Este texto foi-me sugerido pela leitura de um artigo de João Valério, publicado no 7MARGENS, em 09/07/2023, do qual cito algumas expressões e que, julgo, se entenderá como espécie de diálogo fraterno.)
Do conhecimento de Deus
Se tivermos de definir o que é teologia, podermos afirmar que é a procura do conhecimento de Deus. Desde tempos imemoriais, o ser humano se tem embrenhado na procura de si mesmo e da realidade última, absoluta e divina a que chama Deus.
A passadeira da Rua das Pretas
Estamos a preparar esse momento tão importante que é a realização da Jornada Mundial da Juventude. Ironicamente temos um país envelhecido, cada vez mais envelhecido, mas seja qual for a idade, este acontecimento não é indiferente para os que somos católicos e, eu diria, para todos. Temos de transformar a nossa cidade num bom lugar para existir; num verdadeiro local de encontro, num sítio de esperança para todas as gerações. Não existem peões e condutores, já que todos, em algum momento, andamos a pé. Temos é de saber respeitar as regras implícitas. Como alguém disse, “ética é a obediência ao que não é obrigatório”.
“Faça-me o trabalhinho, que eu pago o que for necessário”
O telefone tocou aflito. Do outro lado da linha, uma voz masculina angustiada, com sotaque do norte do país: “O senhor padre venha depressa que a minha mulher diz que vai morrer.” Do lado de cá, ainda sem peso pastoral, respondeu-lhe o pároco substituto: “Nesse caso, talvez seja melhor chamar o médico.”
Sobre a esperança cristã
A minha actual experiência de vida, com o apoio à Ucrânia, tem feito emergir no mais profundo de mim, valores que poderia ter perdido com o tempo, mas que guardo cuidadosamente como parte da minha Fé.
A urgência de uma nova evangelização
Sim, esta é a maior urgência para a nossa Igreja Católica de hoje. Não tenhamos ilusões! Andamos já há alguns anos em serviços mínimos e apenas em cuidados paliativos. Ainda não tivemos a coragem de acordar para a vida e para o que é urgente. Estamos fartos de reuniões e mais reuniões. [A opinião de Nuno Miguel Rodrigues]
José Mattoso: História e contemplação
Recordo a memória de José Mattoso (1933-2023), amigo e mestre, referência fundamental da moderna historiografia e da cultura portuguesa. Deixo uma breve citação, na qual recordo o seu espírito: “A minha visão da História humana, da História-vivida, é contemplativa.
Não chega já?
A organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e o bispo que a coordena receberam no passado dia 11 uma delegação do Chega. Publicou nas redes sociais o acontecimento sem qualquer nota crítica. Permitiu que o líder desse partido descerrasse uma placa comemorativa em algum muro (da desmemória?) das Jornadas.
Como poderei suportar o que vi…?
Uma suspeita que tenho, a partir da observação reflexiva que vou fazendo sobre as diversas comunidades cristãs que conheço, é que muitas delas parece apresentarem sintomas inquietantes de linfedema litúrgico.
O descanso como princípio de eternidade
A época revela-nos o cansaço, próprio e alheio. O cansaço da rotina, de todos os pesos que levamos sem nos apercebermos e sem questionarmos, e que, a dada altura, são tão pesados que nos fazem doer os ossos e a alma. “Vinde aqui e descansai um pouco” (Marcos 6, 31), diz Jesus.
Psicodélicos: chave para o potencial espiritual?
A psilocibina, um composto psicoativo encontrado em certos tipos de cogumelos, tem sido usada em práticas religiosas e espirituais por séculos. Num artigo focado no efeito de substâncias psicodélicas no encontro com Deus, um grupo de investigadores fez uma revisão de tudo o que sabemos sobre o potencial dessas substâncias induzirem experiências místicas e espirituais.
José Mattoso, um demandador de sentido
Confesso que escrevo este texto com temor e tremor, face à recente partida do Prof. José Mattoso. Talvez porque tantos outros o fizeram já com mais propriedade e saber ou por me sentir, tal como no Evangelho, como um dos trabalhadores da hora última, entre os que tiveram o privilégio de o conhecer e de o ter como orientador.
Jesus e a saída da sociedade do cansaço
O texto que se publica, do Padre Joaquim Félix, corresponde à homilia do passado Domingo, dia 9 de julho, XIV Domingo do Tempo Comum na liturgia católica, 2023.
José Mattoso: a pessoa que morava naquele professor
Um belo dia, deu-se um acontecimento singular. Um estimado professor do Curso de História que vários de nós frequentávamos apresentou-se a provas de doutoramento (sim, na altura, eram duas as provas, em dias subsequentes). Mais pelo professor do que pelo ato – ainda que esse tipo de atos fosse então facto raro – lá fomos ver o espetáculo.
“Ad Gentes”, a todas as gentes
O afastamento que alguém pode experimentar em relação à Igreja, como reacção à imperfeição do corpo que a compõe é, por um lado, compreensível – já que se abrem brechas que põem em causa a autoridade moral da instituição e revelam problemas complexos e enraizados. Mas é, ao mesmo tempo, expressão de uma imaturidade de fé que confunde situações específicas com um todo mais abrangente.
O que não é sinodalidade
Desde que começámos a falar em “sinodalidade” na Igreja Católica que este termo saltou para o comum das reflexões quotidianas e, tendo um sentido oposto aos poderes do clericalismo, que se tentou e tenta – na minha opinião – o essencial de viver em comunhão, de viver em Sínodo.
Do autocarro 736 eu cheguei ao campo
Cidade Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas, Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta, Saber que existe o mar e as praias nuas, Montanhas sem nome e planícies mais vastas Que o mais vasto desejo, E eu estou em ti fechada e apenas vejo Os muros e as paredes, e não...
Cartas Vivas
Durante séculos a fio, antes de a escrita ter sido inventada, os homens comunicavam essencialmente de forma oral. Depois os sumérios, os egípcios, os hebreus e os gregos, entre outros, criaram ou desenvolveram formas de registo escrito. Nos tempos do Novo Testamento as cartas eram a forma mais expedita de enviar uma mensagem um pouco mais longa.
“Bread and roses”
Frei Bernardo nasceu em 7 de julho de 1902 e morreu a 4 de julho de 1932, prestes a cumprir 30 anos. No dia em que morreu, domingo, estava prestes a chegar o seu livro de poemas místicos Cântico de Amor. Toda a sua vida foi marcada pela dor e doença. Em Lovaina, Belgica, já monge beneditino, foi-lhe diagnosticado o Mal de Pott, uma espécie de tuberculose óssea, que o massacrou e moeu como trigo para pão.
JMJ, um Oásis de juventude e esperança que importa descobrir
A menos de um mês para o início do maior encontro de jovens do mundo a convite do Papa atrevo-me a listar, pelos dedos de uma mão, cinco palavras que fundamentam a razão pela qual este encontro não pode deixar de nos interpelar.
Humanidade para a paz
Como encontrar a verdade? Como garantir que possamos compreender a importância de podermos ter robôs como instrumentos capazes de nos tornarmos mais humanos?
A primeira maravilha
Recordo bem um vídeo intitulado A Vida Humana, a Primeira Maravilha, que foi exibido em muitas sessões de esclarecimento realizadas aquando do primeiro referendo sobre a liberalização do aborto, já lá vão vinte e cinco anos. Ainda estão por aí espalhadas muitas cassetes desse vídeo (um suporte que entretanto se tornou obsoleto), mas penso que será sempre bom revê-lo.
Meditação sobre o Espírito Santo, a partir de uma vela
Meditar a descida do Espírito Santos sobre os seguidores de Jesus. No Livro dos Provérbios (20:27), o rei Salomão diz que “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor (eterna), a qual esquadrinha todo o mais íntimo do coração.”
Oh! teu nome faz-se à fome com rochedo e mel
Que fonte de prazer é para nós celebrar neste ponto de encontro, na confluência dos ribeiros, ao ar livre, aberto às fragâncias de eucalipto… com a sonoridade da água em fundo contínuo! Fizemos a procissão desde a igreja paroquial até ao alto de S. João, como quem sobe às antigas raízes da nossa comunidade, Fragoso, à ermida de S. Vicente e à fonte de Santa Isabel. Este texto corresponde à homilia Nascimento de S. João Baptista.
Liberdade, consumação e vontade de Deus
Se Deus é a nossa mais íntima verdade – mais íntima a nós mesmos que nós a nós próprios (Santo Agostinho) –, e se a verdadeira liberdade consiste em realizá-la, então não há contradição entre a Vontade de Deus e o livre-arbítrio humano. Muito pelo contrário, estarmos alinhados com a nossa mais íntima vontade e vocação, é estarmos alinhados com a Vontade de Deus.
A história de Mohamed, que sobreviveu ao mar mas não tem lugar na terra
Como se estivessem numa prisão. Um abraço entre grades é tudo o que é concedido a estes dois irmãos sírios, Fadi e Mohamed, vindos de longe até ao porto de Kalamata, na Grécia. Mas a história que carregam até essa barreira fria de metal é um banho de realidade que merecia bem mais respeito.
O autor e a obra de arte
Sem nunca minimizar o efeito nefasto do inaceitável comportamento sexual de que é acusado o padre Rupnik, parece-me que se deve manter a obra estritamente separada do autor. Não é a bondade ou maldade do autor que torna a obra de arte boa ou má. — a opinião de Jorge Paulo
Em busca de escutadores de histórias
Dos documentos saídos da etapa diocesana preparatória para o Sínodo [da Igreja Católica] de 2024 que consegui ir lendo, e das várias discussões e depoimentos que fui ouvindo, atordoou-me muito o vazio e ensurdeceu-me deveras o silêncio em relação ao que considero ser a provocação central do Evangelho, a saber, a hospitalidade incarnada, concreta, pessoalizada e actuante no mundo, qual sal da terra, qual luz do mundo, qual fermento da massa.
Catarina de Sena, uma mulher pela reforma
Por iniciativa da Província Portuguesa da Ordem Dominicana e do Instituto S. Tomás de Aquino (ISTA) foi publicada em abril a biografia de Santa Catarina de Sena (1347-1380), da autoria de Sigrid Undset. A obra foi editada na Biblioteca Dominicana – uma coleção surgida no âmbito das comemorações dos 800 anos da fundação da Ordem dos Pregadores – e que tem publicado livros fundamentais de, e sobre, autores dominicanos.
Aristides de Sousa Mendes, a coragem da desobediência
Para a primeira das quatro Conferências de Maio deste ano, organizadas pelo Centro de Reflexão Cristã, de Lisboa, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, enviou um curto depoimento sobre Aristides Sousa Mendes, o cônsul português que, em Bordéus, salvou milhares de judeus em fuga do nazismo, desobedecendo deliberadamente às ordens do ditador Salazar.
A minha paróquia está morta
Há dias, numa assembleia de vigararia duma determinada diocese de Portugal, onde estava o bispo diocesano, alguns párocos e membros do povo de Deus, faziam-se grandes reflexões sobre como viver hoje a fé e como dinamizar a nossa Igreja. Entre bonitos discursos e palavras de ocasião, tentava-se olhar para o futuro e ver o que se podia melhorar.
Criatividade do Amor: A Arte da Contemplação na Era Digital
O mundo não evolui pela sobrevivência dos mais fortes, mas através dos comunicadores mais aptos. Sob esta nova chave de leitura, a evolução biológica que deu origem à evolução cultural com o nascimento do pensamento, adquire um significado profundo, sobretudo na actual Era Digital.
Assumir a vida do coração
Uma dimensão silenciosa da vida é um mapa que nos permite encontrar o espanto primordial diante da razão de ser das coisas. Este gesto de nos colocarmos diante das coisas, é em si, um movimento poético, que nos permite conceber formas inéditas daquilo que nos chega como mistério.
Maior que a nossa teologia
Deus é maior que a nossa teologia. Esta é, possivelmente, uma verdade difícil de engolir, pois temos o desejo de conseguir explicar a nossa fé de forma sistemática. Gostamos de ter respostas para todos os fenómenos espirituais, e de preferência que esses fenómenos sejam facilmente explicados pelo sistema teológico que defendemos. Felizmente, Deus não se deixa circunscrever pelos nossos ideais sobre ele.
O que queremos realmente?
O que é que nós queremos realmente? Confusamente, nebulosamente, sabemos que queremos muito ser. Humanamente – e talvez não haja nada mais humano – desejamos algo que nos resgate deste nada em que, sem saber como, mergulhámos, como se, algures pelo caminho, tivéssemos perdido algo de absolutamente essencial.
O que se pode aprender num dia
Neste último ano, muitas destas mágoas e sofrimentos tornaram-se costumeiros e indiferentes, sendo que o estridente informativo tende a banalizá-los. Estas situações que cinicamente se justificam e se consideram ser o reconhecimento do realismo necessário para uns e outros sobreviverem. — a opinião de António Matos Ferreira
António Sousa, um padre interventivo na ação social da Igreja
O padre António Sousa foi presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra entre os anos de 1982 e 2005. Conheci-o quando comecei a participar nos conselhos gerais da Cáritas Portuguesa, como representante da Cáritas Diocesana de Setúbal. Era das pessoas mais interventivas, sempre muito incomodado com o panorama social do país e com a pastoral social da Igreja em Portugal. Pode-se ou não concordar com tudo o que ele fez, mas tem de se reconhecer que o padre Sousa marcou uma época da Cáritas.
Hildegarda de Bingen & livro Cânticos de Rothschild: narrar a Trindade segundo a criatividade feminina
Nem mais! Vou solicitar o engenho criativo das mulheres para que narrarem o grande mistério que hoje celebramos na liturgia. Após a ‘queima dos medos’ e as ‘inaugurações’ pelo Pentecostes, a solenidade da Santíssima Trindade reabre-nos, na nona semana, para dar continuidade ao tempo comum. — um texto de Joaquim Félix
O Espírito Santo protagonista da missão
Falar sobre o Espírito Santo não é fácil; contudo, há muitas maneiras de o abordar. Há abordagens muito interessantes sobre as quais vale a pena debruçarmo-nos. Depois, há abordagens muitos simplistas e com uma linguagem demasiadamente piedosa que acaba por empobrecer o que é o Espírito Santo e o que Ele faz nos cristãos e na vida da Igreja.
Sentido de missão ou imperioso apelo ao indevido destaque
Muito recentemente estava a enviar uma nota biográfica – curricular resumida para facilitar a minha apresentação, pelo moderador, numas jornadas de saúde mental e dei por mim, no fim de tudo, a acrescentar – não tem redes sociais. E, sim, fi-lo pela primeira vez num registo oficial ou que virá a ser público. Como preferirem.
Quando recebemos uma graça de Deus, devemos repeti-la em voz alta
É importante que cada pessoa encontre as formas que ressoam com a sua própria espiritualidade, procure orientação e dedique algum tempo ao estudo e aprofundamento do seu conhecimento e prática no cristianismo.
O que se traz em nós depois de entrar em Auschwitz e em Birkenau
Entrei pela primeira vez no Campo de Auschwitz, na Polónia, no passado dia 5 de maio. Na viagem de autocarro que começara na belíssima Cracóvia aumentava a minha ansiedade e não conseguia abstrair-me das minhas perguntas de há tantos anos: como se entra num lugar como aquele, sabendo hoje o que sabemos? O que se sente? O que se traz em nós quando depois fazemos o trajeto de regresso que milhares de outros não puderam fazer?
Liberdade e verdade
As religiões, enquanto se consideram guardiãs da verdade, tendem a conviver mal com a afirmação da liberdade individual. Nas suas fileiras, coartam-na, limitam-na, enquanto apelam permanentemente à obediência férrea a uma autoridade que se considera incontestável, porque garante da verdade.
Lançar os próximos 100 anos, fiéis à promessa
Neste fim-de-semana, comemoramos os 100 anos do CNE (Corpo Nacional de Escutas). E de forma a tentarmos projetar os próximos anos deste nosso movimento, é necessário voltar atrás e olhar para os passos que já foram dados.
O escutismo católico português no seu centenário: três segredos, um desafio e o futuro
O Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português atingiu a 27 de maio de 2023 a bonita idade de 100 anos. Como com uma pessoa que chegue a esta idade, todos queremos saber qual o segredo para tal longevidade? Tudo se afigura passível de admiração! O que agora apresento é uma visão muito pessoal, de alguém que ingressou aos 17 anos num agrupamento cheio de história, em Brito, no núcleo de Guimarães.
Semana Laudato Si’ (VII)
Oração pela nossa terra
O 7MARGENS publica essas reflexões durante a Semana Laudato Si’, que se prolonga até este domingo, 28. Publicamos a seguir a Oração pela Terra, com que o Papa Francisco conclui a Laudato Si’ e que foi usada naquela paróquia como reflexão do Domingo de Ramos (2 de Abril).
Aonde fixar atentamente o desejo?
A Ascensão assinala-nos a privação da presença incarnada de Jesus. Porém, é justa e necessária esta «perda», que estabelece outro ‘estar’. Recordado do que disse, terça-feira passada, a teóloga Isabella Guanzini, sublinho a urgência de vivermos com alegria o desejo do Seu retorno, que se vive, no entre-tanto dos dias, sob a neblina matinal a fecundar a realidade.
Sinais do tempo: Onde está o nosso caminho?
A tarefa de definir o tema principal das XXXIV Jornadas Teológicas de Braga, “Sinais do Tempo: Onde está o nosso caminho”, recebeu um forte impacto das dinâmicas em que a Igreja se encontra envolvida. Na resposta à sinodalidade e na consciência do entardecer que nos envolve, torna-se importante voltarmos aquilo que Nistezche anuncia: “Eu só podia acreditar num Deus que soubesse dançar (…); vede, um Deus que dança em mim”.
Símbolos de uma cultura de paz
As festividades da Ascensão e do Pentecostes são em Portugal, como aliás na Europa, momentos de grandes e antigas tradições. Se entre nós a Ascensão deixou de corresponder a um feriado, por troca com o Corpo de Deus, o certo é que grande parte dos feriados municipais tem essa invocação.
Católicos e abusos: olhos nos olhos, escutar e conversar
A reflexão sobre o tema dos abusos deve, em meu entender, ter como premissa a realidade eclesial portuguesa; caso contrário, poderá tornar-se um ensaio meramente retórico, alheado da realidade concreta da esmagadora maioria das comunidades cristãs portuguesas – a maior parte das quais se situa, geograficamente, no território apelidado carinhosamente, pelos urbanos, como província.
A guerra do Iraque vinte anos depois
Hoje, passados vinte anos, é oportuno refletir nas lições que podemos colher da guerra do Iraque quando somos confrontados com outra guerra que também envolve, direta ou indiretamente, as principais potências mundiais.
Que sentido tem a benção de uma união homossexual?
A Igreja Anglicana sofreu uma cisão por causa da aceitação de parceiros em união homossexual pedirem a um sacerdote a bênção da mesma. O que aconteceria se fosse o Papa Francisco a propô-lo? Em Fátima, se os sacerdotes abençoam qualquer objecto que uma pessoa eleve, sem qualquer discriminação, que razões teriam para discriminar a bênção do relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo senão por questões igualmente ideológicas?
Irmã Maia, precursora da Igreja Sinodal que desejamos
No passado dia 12 de Abril morreu o bispo Jacques Gaillot, morte amplamente noticiada no 7MARGENS. Também grande admiradora do bispo Gaillot, lembrei a “amizade epistolar” que eu sabia ter existido entre a irmã doroteia Maria de Lourdes da Silva Maia (1926-2019) e ele. 15 de Abril seria o dia do aniversário da Irmã Maia – morreu aos 93 anos – e foi nesse mesmo dia que iniciei a escrita deste texto.
Profundamente insensata, a minha Igreja
Hesitei entre dois títulos: “mais horror”, como que a prolongar a péssima telenovela em torno dos abusos sexuais, ou “profundamente insensata, a minha Igreja”, sublinhando desde o início a ideia que mesmo sendo a Igreja insensata, é a minha Igreja. Optei pela segunda, mas sem dúvida que é sob o signo da vergonha e da tristeza que escrevo estas linhas, depois do choque ao ver um selo do Vaticano sobre a JMJ 2023.
Vinde e ouvi, vou narrar-vos
A palavra tem uma intensidade que surpreende! Sim, é mais diligente que as canções de Rita Lee que, nestes dias ventosos, fez e faz baloiçar, na avenida central, as tílias de corimbos em flor; e, nos camiões do ‘Enterro da gata’, os jovens universitários… (Joaquim Félix. Este texto corresponde à homilia do passado Domingo, dia 14 de maio, Domingo VI do tempo pascal na liturgia católica, 2023.)
Georgino Rocha um professor aluno
O autor do livro Pedagogia do Oprimido, o pedagogo e andragogo Paulo Freire, escreveu: “Ninguém ensina ninguém, nós ensinamo-nos uns aos outros”. A frase é aplicável ao Professor Doutor Georgino Rocha. Nas aulas em que, na Universidade Católica Portuguesa (Porto), tive o prazer de ter como professor o padre Georgino, portador de uma visão moderna do que é uma “aula”, ele mostrava que sabia interagir com os seus alunos.
Três lições de uma peregrinação a pé a Fátima
Sempre tenho peregrinado devido à gratidão, mas a condescendência de Deus tem-se servido destas peregrinações como ocasiões de penitência, de crescimento humano e espiritual. Por isso, gostaria de partilhar aqui algumas lições que aprendi. [A opinião de Nuno Ventura, padre católico]
Yunus e a teoria dos três zeros
Muhammad Yunus, prémio Nobel da Paz em 2006, esteve em Portugal para participar no Fórum Sustentabilidade e Sociedade, o qual teve lugar nos dias 11 e 12 de maio em Matosinhos. A iniciativa, da responsabilidade da Global Media Group em parceria com a Galp, CGD, Fundação INATEL, Grupo BEL e Câmara de Matosinhos, trouxe ao nosso país, além de Yunus, Kadri Simson (Comissária Europeia da Energia) e Jos Delbeke (Instituto Universitário Europeu de Política Climática).
Grito de revolta!
O mundo inteiro, como venho dizendo, cada vez mais vem defendendo o lucro fácil passando por cima dos valores democráticos, pisando os homens e criando uma sociedade profundamente egoísta ao contrário do espírito do 25 de Abril.
Afinal deveríamos ser todos cuidadores uns dos outros
Durante toda a celebração da Eucaristia (onde foi lido o Evangelho de João 10, 1-10), há dias, tive à minha frente um casal de 40 e tal anos, com uma filha adolescente de uns 12, 13, movendo-se com lentidão de um lado para o outro. Num determinado momento, o padre convidou «os meninos e as meninas para junto do altar, para rezarmos todos a oração que Jesus nos ensinou». Os pais relancearam o olhar para a filha, mas ela continuou a baloiçar-se.
(In)correções teológicas
Porque é que pessoas que se consideram religiosas acreditam e fazem o que não devem? Porque é que os crentes na Bíblia comem cheeseburgers quando as regras do Levítico dizem para não se misturar carne de vaca com lacticínios? Porque são racistas e defendem a pena de morte? Porque rezam para ganhar guerras? [A opinião de Vítor Rafael]
Dia da Mãe com um filho preso
Não chores meu filho, não estás sozinho, eu estarei sempre contigo. Lembras-te em que momento te perdeste de mim? Puxo pela cabeça e não sou capaz. Talvez tenha sido numa noite, sim, o mais possível é que tenha sido numa das noites em que eu ficava acordada à espera de que chegasses e não chegavas e eu tinha de sair para trabalhar.
Como cartão de tapeçaria de Dom Robert
Ao tempo de Jesus e de Simão Pedro, sabemos bem que, também por aqui e muitos outros lados, o pastoreio de rebanhos era uma paisagem comum. Pedro falava para uma comunidade de hebreus, alguns vindos da diáspora e, entre outros, certos pastores, que apascentavam ovelhas de seus senhores. (Homilia do Pe Joaquim Félix, vice-reitor do Seminário Conciliar de Braga)
A bondade da criação
Associa-se habitualmente a bondade da criação à flora e à fauna, aos rios e às montanhas. Mas importa também associá-la ao corpo humano. Vêm-se sucedendo notícias sobre as implicações da ideologia do género em vários âmbitos da sociedade: da cultura, da educação, da medicina, do desporto, etc. (Opinião de Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz).
A fronteira
Ao olhar um grupo de crianças a brincar na rua (ainda as há!), custa-me engolir a evidência de que, para estas crianças, um dia de escola pode significar o maior dos perigos. No Texas, as armas estão por todo o lado e, absurdamente, o nome “Jesus” encaixa frequentemente no discurso que defende o direito a tê-las à disposição e prontas a engatilhar. (Opinião de Sara Leão, mediadora educativa e formadora de Português Língua Estrangeira).
Sementes
Na parábola que Jesus contou a semente pode cair em diferentes locais e isso determina o seu futuro, isto é, os casos em que vai gerar vida nova ou ficar simplesmente pelo caminho, sem cumprir o propósito para o qual foi lançada à terra.
Abusar de nós
Nos tempos mais recentes toda a nossa atenção se tem dirigido para assuntos preocupantes e sérios que nos fazem inquietar, que nos fazem discutir e lutar por aquilo em que acreditamos, uns de uma forma mais ativa, outros de um modo mais discreto, mas também válido. Não há dúvida que o testemunho é um enorme instrumento de bem-fazer aos que temos à volta, àqueles que nos podem olhar com olhos de ver. A busca da coerência torna-se, dentro deste, o mais relevante sinal de quem pretende mudar o mundo ainda que, ao seu alcance, apenas se encontre um pequeno lugar.
Ser cristão como experiência vital
O corpus paulino – sobretudo o que inclui apenas as sete cartas autênticas – é de extrema importância para equacionarmos corretamente a identidade cristã e a natureza da Igreja. A muitos títulos, o seu conteúdo é também provocatório e crítico, se compararmos as suas propostas com a forma como o cristianismo foi sendo posteriormente concebido e vivido. (Opinião de Jorge Paulo, católico e professor do ensino básico e secundário.
Igreja em Crise é Igreja reconciliadora
A Igreja esteve sempre em crise, porque inquieta e inquietadora, por isso mesmo é reconciliadora. Prestando atenção às homílias da Semana Santa até à Páscoa libertadora, das hierarquias – clero, pois, portanto, consequentemente -, podemos assistir às mais variegadas intervenções, mas existe uma que chama a atenção, e que fala do “povo simples” que já se “reconciliou com os católicos”. (Opinião de Joaquim Armindo)
Gostava de ler na igreja e não ouvir tanto o eco da minha voz
Fui à missa. Os espaços vazios são mais do que os ocupados. Procurei jovens e contei-me a mim para que o número não fosse tão reduzido. Estará a fé a perder-se? Ou estarão os costumes em mudança? Os católicos são cada vez menos. A Igreja esconde o seu carácter resiliente. É assustador pensar na extinção de algo tão antigo. Avançada a idade, desvaloriza-se a essência. Os meus avós são idosos, mas sinto que ainda tenho muito a aprender com eles.
Igreja Católica – que caminhos de futuro? (Debate – 18)
A Igreja não pode voltar a dar “uma mão cheia de nada”
Nesta décima oitava resposta, Helena Martins Carmona, leiga, católica, professora de Educação Moral e Religiosa Católica, chama a atenção para a importância das decisões coletivas ao nível da CEP e para a necessidade de que todo o processo seja isento e transparente. Propõe ainda a participação de todos os batizados através de assembleias diocesanas.
Pedra do Acordo
Iniciamos hoje a Semana de Oração pelas Vocações. É o primeiro dia e, talvez por parecer muito preliminar, sinto-me à procura de uma primeira parábola, capaz de abrir o ‘dizer justo’. Que início poderia ter esta partilha da Palavra, esta conversa familiar, de forma a não arrefecer os corações incendiados, por certo ainda sem entrar em rescaldo, deste a sua escuta direta? (Homilia de Joaquim Félix)
Igreja Católica – que caminhos de futuro? (Debate – 17)
Sinodalidade: critério processual a assumir com radicalidade e com verdade
Nesta décima sétima resposta, José Veiga Torres, nascido e batizado na paróquia de Santa Maria Maior, da cidade de Viana do Castelo e residindo atualmente em Coimbra, sem a preocupação de se restringir às perguntas, centra as suas propostas na sinodalidade e suas implicações na vida da Igreja e, sobretudo, nas relações entre comunidades.
JMJ 2023: para lá das polémicas dos altares
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é considerada uma das maiores iniciativas da Igreja Católica. Os seus organizadores esperam reunir em Lisboa mais de um milhão de jovens do mundo inteiro, na semana de 1 a 6 de agosto deste ano.
Porque no mar ninguém chora sozinho
De alma e olhos postos no horizonte, a mulher estendia a roupa nas cordas da varanda caiada frente ao mar. Estranho foi, nesse dia, não se avistar ainda o aceno aliviado dos homens, como de costume àquela hora.
Ser visitador prisional: e se eu um dia ficasse cá dentro?
Ser visitador prisional é viver um pouco preso também. É entrar na cadeia muitas vezes contra tudo e contra todos, muitas vezes ser menos bem tratado pelo sistema, sorrir e seguir em frente. (Testemunho de Lígia Pires)
O celibato como afirmação do poder clerical
Deixemo-nos de rodeios. Não vale a pena procurar tapar o sol com a peneira. Serão tentativas inúteis de ocultação da verdade. Por mais que não o desejemos, a verdade é como o azeite, acaba sempre por flutuar sob o olhar atónito dos mais distraídos. A insistência milenar da Igreja ocidental (latina) no celibato obrigatório é uma forma de afirmação e consolidação do clericalismo. (Opinião de Jorge Paulo é católico e professor do ensino básico e secundário)
Jesus Cristo salvou-nos de quê?
Com a vida, paixão, morte na cruz, e ressurreição de Jesus Cristo somos salvos – esta é uma das afirmações centrais do cristianismo. Mas somos salvos de quê? Como resposta a esta questão desenvolveram-se ao longo da história várias teorias da “expiação”. Pretendo argumentar brevemente que algumas dessas teorias, muitas vezes veiculadas acrítica e dogmaticamente nas comunidades cristãs, são imorais e, por isso, não podem ser verdadeiras. (Opinião de Domingos Faria)
Papa e dez jovens comunicam para além das palavras
Dez jovens de várias nações juntaram-se para fazer perguntas ao Papa Francisco e partilhar as suas experiências sem filtros num documentário que saiu a 5 de Abril no serviço de streaming Disney+. O conteúdo foi decidido pelas questões dos jovens, mesmo se se nota que a produção escolheu pessoas com experiências em questões “quentes” como o aborto, os abusos sexuais, os LGBT, a pornografia, os refugiados, entre outras. (Opinião de Miguel Panão).
Igreja Católica – que caminhos de futuro? (Debate – 16)
Participação activa dos fiéis e não subordinada
Nesta décima sexta resposta, Cláudio Teixeira, professor associado do ISCTE aposentado e paroquiano da paróquia de Cacilhas, diocese de Setúbal, afirma que para sermos fiéis ao Evangelho importa tornar central a relevância de Jesus.
Igreja Católica – que caminhos de futuro? (Debate – 15)
A verdade jamais pode ser encoberta, disfarçada ou desculpabilizada
Nesta décima quinta resposta, Claudine Pinheiro, cantora católica e colaboradora do departamento de Comunicação e Marketing da Salesianos Editora, interpela a Igreja a assumir a verdade, por mais dolorosa que seja. A Igreja não pode ser um lugar seguro para os abusadores e impune para os seus crimes.