Envelhecer ou chegar longe na vida

| 15 Fev 2022

Idosos banco

“Todos, mesmo sem lhe darmos nome, temos uma relação com a vida – a própria e a dos outros.” Foto © Mathew Bennett / Unsplash

 

Envelhecer é algo de que muitos não gostam de ouvir falar. Os mais novos porque consideram que isso nunca lhes vai acontecer. Os mais velhos porque adiam sistematicamente esse confronto, na esperança de que, sem saberem bem como, também não lhes aconteça. De facto, não é coisa agradável de se refletir, mas a sua negação é um processo mais insano, contrariamente ao verdadeiro e corajoso enfrentamento.

A realidade é que a única forma de não envelhecer é ficar pelo caminho, ou seja, morrer novo, ver amputadas muitas experiências que a vida tem para proporcionar e ir embora daqui após não muitos anos de cá ter chegado.

Há algum tempo encontrei um texto, cujo autor não registei, mas do qual retive/adaptei alguns conteúdos de acordo com os quais as pessoas que nasceram nos anos 50, cresceram nos anos 60, educaram-se nos 70, aventuraram-se nos 80, amadureceram nos 90, estabilizaram nos 2000 e chegaram aqui; viveram sete décadas e passaram por dois séculos e por dois milénios; conheceram o telegrama e chegaram à internet; ouviram histórias da gripe espanhola, da boca de tios e avós, e tropeçaram na covid 19; passaram por muito mais meios de comunicação e de transporte e testemunharam muito mais dimensões da vida do que qualquer outra geração; vieram do analógico ao digital e são aquelas que criaram um novo paradigma para a palavra mudança. Na atualidade, têm a maior sabedoria que serve todos, tenham que idade tiverem – viver um dia de cada vez.

Todos, mesmo sem lhe darmos nome, temos uma relação com a vida – a própria e a dos outros. Podemos não perceber que as nossas condutas provêm disto mesmo, mas esta é uma circunstância para a qual devemos olhar e procurar caracterizar. Como ajo? Como enfrento os meus desafios? Como olho para as minhas transformações? Como rio dos meus tropeços? Como encaro e desfruto os meus momentos? Como represento internamente os três tempos do meu existir – passado, presente e futuro?

As questões que nos podemos colocar são intermináveis, mas representam um bom método porque nos podem conduzir às respostas que precisamos de, em cada momento, ver consistentemente respondidas.

Dito tudo isto, há uma quase inevitabilidade. É que todos procuramos receitas ou até soluções mágicas para fugir do envelhecimento e esse não é caminho. Primeiramente porque elas não existem e, depois, porque apenas nos cabe empreender a nossa parte o melhor que pudermos e soubermos e, em seguida, confiar que o melhor nos acontecerá. Não se trata de fazer tudo certo à espera da recompensa, mas de agir em coerência com o que sentimos ser o sentido da nossa missão. Há estudos que mostram que 90% das pessoas se levanta todos os dias sem saber para quê, independentemente da idade. Conhecem as tarefas que têm de cumprir, mas estas não passam de uma amálgama de to do(s) que, recorrentemente, se repetem a gastar os dias e, inevitavelmente, a fazer cavalgar para a morte.

Para que a vida não passe simplesmente a (des)gastar-se e retendo esta necessidade de conhecer e renovar continuamente o para quê do nosso existir, é fundamental trabalharmos algumas atitudes que nos ajudem a ser mais felizes, estejamos em que idade estivermos. Precisamos de reconhecer os nossos problemas, transformá-los em desafios e, com isso, atuarmos, à nossa medida, no sentido da possível e sistemática superação; precisamos de ser autores e atores da nossa história; precisamos de procurar fontes que nos conduzam à motivação e ao entusiasmo em cada dia que passa; precisamos de não desistir de nós, procurando o sentido estético possível e não nos deixando amargurar pelo copo meio vazio no qual, por vezes, nos vemos focados; precisamos de encontrar serenidade num caldo humano feito de delicadeza, dedicação, alegria e coerência; precisamos de trabalhar a nossa autoestima, como elemento fundamental, já que representa um património próprio que nos informa acerca daquilo que pensamos sobre nós; precisamos, como tantas vezes digo, de procurar a melhor versão de nós, vivendo cada dia como se fosse o mais importante da nossa vida, independentemente daquilo que estamos obrigados a fazer; precisamos da coragem de trabalhar alguns fantasmas que nos podem assombrar o nosso bem viver – a culpa, o medo, a vergonha…; precisamos de partilhar e ser sábios, sem querer ser o que não somos e sem temer o protagonismo de quem nos rodeia, que é, inevitavelmente, diferente de nós e contribui connosco para a riqueza do todo, justamente por isso, porque é diferente.

Precisamos, enfim, de não negar algumas evidências como ter uma alimentação saudável sem ser escravos, apanhar algum sol, fazer exercício físico e intelectual e estabelecer/ cuidar das relações humanas com aqueles que nos são próximos.

Dito tudo isto e tendo ficado tanto por dizer, parece que, apesar das advertências iniciais, quis passar receitas para bem envelhecer, mas não. Não foi nada disso. O que, efetivamente, se pretendeu com este artigo, foi transmitir que ficar mais velho é condição de ter vivido muito e que isso vale a pena se cada um conseguir investir na sua qualidade de vida. Para tanto, pode ser que haja pessoas que precisem de ajuda e, nesse caso, já que a felicidade de cada um depende da sua forma de interpretar a vida, vale procurar quem possa, em conjunto, contribuir para a re-significação, tantas vezes necessária e urgente, do que, interiormente, se vai passando na mente de cada um.

 

Margarida Cordo é psicóloga clínica, psicoterapeuta e autora de vários livros sobre psicologia e psicoterapia. Contacto: m.cordo@conforsaumen.com.pt

 

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