
António Guterres: “Como sempre”, os civis pagam o custo mais alto da guerra. Foto UN/Mark Garten
“Outra escalada inaceitável” foi como o secretário-geral da ONU, António Guterres classificou a série de ataques em larga escala desencadeados pelas forças armadas da Federação Russa, a partir da manhã desta segunda-feira, 10, em várias cidades da Ucrânia, entre as quais a capital Kyiv.
Os ataques tiveram como alvo sobretudo edifícios civis, deles resultando dezenas de mortos e feridos. Atingiram igualmente serviços como os de distribuição de energia, um setor particularmente crítico, dada a proximidade do inverno.
Estas operações puseram em evidência, “como sempre”, o facto de serem os civis a pagar o preço mais elevado pela invasão da Rússia, em 24 de fevereiro, segundo um comunicado divulgado pelo porta-voz da ONU.
Via diplomática deve ser mantida aberta
Por sua vez, falando em Genebra sobre os últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia, o chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, alertou para a situação em todo o país, que considerou profundamente preocupante. “Pelo menos 6,2 milhões de pessoas estão deslocadas no interior do seu país e muitas mais precisam de apoio humanitário”, disse ele na reunião anual do Comité Executivo daquela agência.
Grandi avisou ainda que, pela primeira vez no seu mandato, as doações para o trabalho da ACNUR têm registado um impacto negativo, em consequência da invasão da Ucrânia.
“Se não recebermos pelo menos 700 milhões de dólares adicionais até o final deste ano especialmente para as nossas operações mais subfinanciadas, seremos forçados a fazer cortes severos com consequências negativas e dramáticas para refugiados e comunidades anfitriãs”, alertou aquele responsável da ONU.
Entretanto, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Kőrösi, afirmou esta segunda-feira que a porta para uma solução diplomática com vista a acabar com os combates entre a Rússia e a Ucrânia deve ser mantida aberta, e qualquer ameaça de uso de armas nucleares deve ser “universalmente condenada”.
Kőrösi falava na última reunião da Sessão Especial de Emergência do órgão mais representativo do mundo, sobre a guerra na Ucrânia, desencadeada pela invasão russa, reunião que acontecia na sequência do uso do veto pela Rússia no Conselho de Segurança em 30 de setembro último.
A resolução em debate naquela Sessão Especial, que deverá ser votada no final desta semana, afirma que os chamados referendos que levaram à “tentativa de anexação ilegal” de quatro territórios do Donbass também violam o direito internacional.
“Quando se torna uma rotina diária ver imagens de cidades destruídas e corpos espalhados, perdemos a nossa humanidade”, disse o presidente daquele órgão. “Devemos encontrar uma solução política baseada na Carta da ONU e no direito internacional.”
Rússia: “Campo ocidental” não deseja a paz

Edifício destruído em Irpin, Ucrânia, em consequência dos bombardeamentos russos. Foto © UNICEF/Anton Kulakowskiy
Csaba Kőrösi citou a resolução da Assembleia Geral adotada em 2 de março, que pede às tropas russas que se retirem do território ucraniano: “Qual é a alternativa? Um mundo sem regras compartilhadas. Um mundo sem paz. Um mundo sem futuro.”
Em resposta, o embaixador da Federação Russa, Vassily Nebenzia, afirmou que o que designou por “campo ocidental” não tinha interesse real na paz, ignorando as propostas da Rússia no Conselho de Segurança.
“A Ucrânia (…) foi colocada sob seu controle e hoje é uma plataforma para o teste do armamento da OTAN e para o combate contra a Rússia, usando outras pessoas”, disse.
Refira-se que esta terça-feira, 11, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, abriu-se à possibilidade de conversações “com o Ocidente”, sobre a guerra da Ucrânia.
Falando na televisão estatal russa, Lavrov disse não ter recebido propostas sérias para negociar, admitindo que a Federação Russa poderia equacionar um encontro entre os presidentes Biden e Putin, aquando de uma próxima cimeira do G20.