
As oportunidades para cuidarmos da Casa Comum estão a acabar, diz Francisco Ferreira. Foto © Karsten Wurth | Unsplash
Esta conferência é “verdadeiramente a última das últimas chamadas”, afirmou Francisco Ferreira, presidente da Zero, durante a entrevista Renascença/Ecclesia publicada hoje, 7 de novembro, na véspera da semana decisiva da Cimeira do Clima de Glasgow. Para Ferreira, é indiscutível que “a humanidade enfrenta um desafio sem precedentes. “
Na entrevista conjunta, o presidente da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, uma organização não-governamental ligada à defesa do ambiente, sublinhou que o dramatismo da atual situação reside no facto de não estarem em causa “apenas as alterações climáticas em si”, mas também o facto do Planeta estar a “perder a sua biodiversidade”. E o dramatismo é simples: “Tudo aquilo que nós atrasarmos a partir daqui começa a ser praticamente irreversível para garantirmos” que não ultrapassamos os 0,4 graus Celsius de aquecimento adicional que nos atirarão para além dos 1,5 graus de aumento que os cientistas admitem ser a barreira a partir da qual a vida na terra deixará de ser como foi nas últimas centenas de milhares de anos.
Em Glasgow terminou no fim-de-semana a semana técnica, enquanto na cimeira “oficial” foram assinados acordos tímidos em matéria de abrandamento da desflorestação, da redução do impacte ambiental do setor agrícola e das emissões de metano, bem como do fim da utilização do carvão.
Agora começa a semana decisiva com o debate e posterior assinatura pelos responsáveis políticos dos acordos e compromissos para os próximos anos.
Antecipando o que se poderá passar, Francisco Ferreira recordou que “atualmente há 10 países que são responsáveis por 64% das emissões”, grupo em que se incluem os mais desenvolvidos e a Índia e a China, enquanto os últimos 100 países no ranking da riqueza “são apenas responsáveis por 3% das emissões”; mas são exatamente “os povos mais vulneráveis aqueles que irão sofrer mais com as consequências do aquecimento global, cujos responsáveis historicamente são os países desenvolvidos”.
Para o presidente da Zero há opções decisivas que têm de ser assumidas pelos responsáveis políticos, mas há também, para além da mudança dos hábitos, uma mudança de mentalidades necessária: “A nossa qualidade de vida não tem a ver com termos tudo e mais alguma coisa, porque nessa altura ainda vamos querer mais. A nossa satisfação pode ser feita com menos e mesmo assim termos perfeitamente toda a qualidade de vida, todo o gozo de viver. É essa a mudança de paradigma que é crucial.”
Domingo, dia 7 de novembro, Portugal foi palco de várias manifestações no âmbito da Greve Climática Estudantil, depois de dois dias – sexta e sábado – em que milhares de pessoas encheram as ruas de Glasgow a pedir também medidas mais eficazes para combater a emergência climática. De acordo com a agência Lusa, citada no Público, as manifestações realizaram-se em Faro, Alcácer do Sal, Braga, Caldas da Rainha, Guimarães, Lisboa, Leiria, Porto e Santarém.
“A greve às aulas é uma consequência muito menor daquilo que podemos vir a enfrentar com as alterações climáticas. Os jovens estão muito alarmados”, defendeu Salomé Rita, porta-voz do colectivo, em declarações à Lusa, na manifestação que teve lugar na capital.
Em Portugal, a Greve Climática Estudantil marcou presença em vários pontos do país: Algarve, Alcácer do Sal, Braga, Caldas da Rainha, Guimarães, Lisboa, Leiria, Porto e Santarém. “Não há planeta B”, “apaga as luzes quando sais de casa”, “aqui há capitalistas, há” foram algumas das palavras de ordem que se podiam ouvir e ler no protesto em Lisboa, que juntou jovens de três escolas e terminou na Alameda Afonso Henriques, descreve a mesma fonte.
“A greve às aulas é uma consequência muito menor daquilo que podemos vir a enfrentar com as alterações climáticas. Os jovens estão muito alarmados”, defendeu ainda Salomé Rita. No Porto, segundo a agência noticiosa, reuniram-se várias dezenas de jovens na Avenida dos Aliados para debater “problemas, causas e soluções”, classificando as metas climáticas mundiais como “pouco ambiciosas”. “As medidas são insuficientes, no sentido que estão a incidir no ponto errado. Querem ser rápidos para solucionar uma crise, mas não estão a ir à raiz do problema”, disse por seu lado a activista Joana Coimbra.