
A religião “é um tema que entusiasma os estudantes, um tema emotivo, que nas aulas desperta discussões intensas”. No entanto, “isso não se reflete depois na escolha dos temas para os trabalhos finais”, afirma a investigadora Marina Pignatelli. Foto © Nazareth Man.
A forma como a espiritualidade e a religiosidade têm sido vividas em Portugal é “um mundo” e a maior parte desse mundo está ainda por descobrir. Quem o diz é Marina Pignatelli, professora e investigadora na área da Antropologia das Religiões e uma das organizadoras do Colóquio ReliMM – A Religião nas Múltiplas Modernidades, que esta quinta e sexta-feira, 22 e 23 de junho, irá reunir em Lisboa alguns dos (poucos) que se dedicam a estudar estas áreas no nosso país.
O encontro, que se realiza anualmente, vai já na sua oitava edição e um dos seus objetivos é precisamente o de contribuir para “entusiasmar e despertar o interesse dos estudantes e jovens investigadores por estas temáticas”, até porque a espiritualidade e a religião, que “andam de mãos dadas”, são “áreas transversais, que se cruzam com dimensões como a política, a economia, ou as relações internacionais”, sublinha Marina Pignatelli.
Para a professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, que desde 1991 se tem dedicado ao estudo da realidade judaica em Portugal, é difícil encontrar explicações para o facto de estar “quase tudo por fazer ao nível do estudo das religiões” no nosso país, confessa em declarações ao 7MARGENS. Como docente, reconhece que esse “é um tema que entusiasma os estudantes, um tema emotivo, que nas aulas desperta discussões intensas”. No entanto, “isso não se reflete depois na escolha dos temas para os trabalhos finais”.
“Fazem falta mais colóquios deste género”

Ainda assim, ao longo dos dois dias do ReliMM, serão mais de 30 os investigadores (nacionais e estrangeiros a trabalhar no nosso país) que apresentarão os estudos que têm estado a desenvolver na área da religião, com temas tão diversificados como a expansão das religiões afro-brasileiras em Portugal, a paisagem islâmica em Lisboa, o papel das mulheres nas comunidades evangélicas, o património dos mosteiros nacionais ou o veganismo ético, entre muitos outros.
São também diversas as fases em que estes oradores se encontram da sua carreira científica. O colóquio conta com a participação de vários investigadores séniores mas pretende promover “de um modo especial a participação daqueles que estão numa fase inicial” dos seus estudos. Muitos deles “são mestrandos ou doutorandos” convidados pelos seus orientadores ou por outros professores ligados às diferentes unidades de investigação envolvidas na organização do colóquio.
A participação no evento, que decorrerá a partir das 9 horas na Sala Belém da Biblioteca do ISCP e cujo programa está disponível online, é gratuita e aberta a todos os que se interessem pela temática, e não apenas estudantes e investigadores da área. “Até porque uma das componentes principais do colóquio são os debates interdisciplinares, e não apenas as apresentações dos trabalhos”, destaca Marina Pignatelli.
Na opinião da coordenadora executiva do Laboratório de Estudos Judaicos, “fazem falta mais colóquios deste género, para envolver ainda mais investigadores e dinamizar mais jovens para esta área”. Porque, insiste, “há muito para estudar nas diferentes regiões do país”, como “a caracterização das pessoas ligadas a cada religião, as suas motivações, os efeitos a nível psicológico das suas práticas religiosas, a alimentação, as roupas, os ritos, os locais onde se reúnem, as suas subsistências económicas, o modo como angariam fundos, como os distribuem… Ou a nova vaga de ucranianos, que é já diferente da dos anos 90, os brasileiros, os judeus que vêm do mundo inteiro…”, exemplifica.
Sobre as religiões em Portugal, “há mesmo um mundo para investigar”, conclui Marina Pignatelli, acrescentando: “Como digo muitas vezes aos meus alunos, é uma pena que as coisas extraordinárias que temos no nosso país sejam quase só os estrangeiros a valorizá-las e estudá-las”.