
Os relatos que chegam de aldeias católicas e budistas indicam que os ataques têm sido cada vez mais frequentes e intensos. Foto: Direitos reservados.
A junta militar no poder em Myanmar prolongou por mais seis meses o estado de emergência no país. A decisão foi comunicada esta segunda-feira, 1 e agosto, num discurso dirigido à nação e publicado no Global New Light of Myanmar, enquanto a Union of Catholic Asian News (UCA News) divulgava a notícia de que os habitantes das aldeias católicas vivem cada vez mais aterrorizados na sequência dos ataques aéreos de que foram alvo nas últimas semanas.
O líder da junta, Min Aung Hlaing, pediu aos membros do governo militar que o deixassem no poder por mais seis meses, até fevereiro de 2023. Quanto a uma possível data para a realização de eleições (as quais tinham sido prometidas pela junta militar para novembro de 2021), não foi revelada. Min Aung Hlaing disse apenas que Myanmar deve primeiro ser pacificada e estabilizar para se realizarem eleições, e falou em “reformar” o sistema eleitoral.
Os relatos que chegam de aldeias católicas e budistas indicam que os ataques têm sido cada vez mais frequentes e intensos. No passado dia 18 de julho, os habitantes de Mon Hla, uma vila católica histórica na região de Sagaing, em Myanmar, ouviram caças e helicópteros a aproximar-se dos campos e a começar a atirar indiscriminadamente.
“Estávamos a tremer de medo… Enquanto alguns de nós estavam deitados no chão, outros esconderam-se sob as grandes árvores. Não ousámos dizer uma palavra e orámos em silêncio”, conta uma das habitantes, Martha Tin. Como muitos dos aldeões, ela nunca havia testemunhado um ataque aéreo militar antes e diz que a experiência os deixou traumatizados.
O maior parte dos aldeões católicos voltou para casa depois de passar três noites nos arrozais. Ainda assim, alguns deles optaram por ir para as casas de parentes em cidades como Mandalay, enquanto outros optaram por refugiar-se dentro das instalações da Igreja, em municípios próximos. “Não sabemos quando as tropas voltarão e se haverá tempo suficiente para fugir”, justifica Mary Htar, outra residente na aldeia.
A junta tomou o poder através de um golpe militar no início de fevereiro de 2021, derrubando o governo eleito de Aung San Suu Kyi, e desencadeou uma campanha de violência brutal para reprimir a oposição. A Presidenta Suu Kyi está detida em parte incerta desde então e foi condenada a mais de 100 anos de prisão. Um total de 14.847 pessoas foram presas, das quais 11.759 permanecem detidas e 76 foram condenadas à morte, incluindo duas crianças, de acordo com o grupo de defesa da Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP) de Myanmar.
Depois de 30 anos sem execuções no pais, a junta militar executou quatro presos políticos, incluindo Phyo Zeya Thaw, rapper e ex-deputado eleito pelo partido de Aung San Suu Kyi, e o proeminente ativista da democracia Kyaw Min Yu, conhecido como Jimmy. As execuções terão tido lugar no domingo, 24 de julho, e geraram ondas de indignação e protesto no país e no estrangeiro.