Eugénio de Andrade: Poeta esquecido?
“O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras (…). A transparência é aqui nostálgica: até a luz terá a luz do granito (…) Esta cidade, cujo espírito exasperado e viril faz do granito escuro das suas pedras espelho da própria alma; esta cidade, cuja gente tem uma rudeza de fala e de gestos que lhe vai a matar com o seu ódio à futilidade e à hipocrisia… (…) deixai-me repeti-lo, com o seu carácter eminentemente democrático e popular…” ( in A Cidade de Garrett)

Casa onde viveu Eugénio de Andrade.Foto © Maria Eugénia Abrunhosa
Ora esta Fundação, anos depois, dissolveu-se. No Público, Mariana Correia Pinto resumia, em 2019: “a novela tem muitos anos (…). A Câmara do Porto vai abrir um polo cultural na extinta Fundação Eugénio de Andrade.”
O professor Arnaldo Saraiva, da direcção da antiga Fundação diz em 2010, ao DN: “por razões de ordem jurídica, financeira e logísticas não temos condições para manter a Fundação Eugénio de Andrade. (…) alternativa: ‘Casa da Poesia’ com o nome de Eugénio de Andrade.” Em 2011, à agência Lusa: “Compete à Câmara decidir o que fazer. Eu chamar-lhe-ia «’Casa da Poesia de Eugénio de Andrade’.”
Neste momento, quem passa por essa casa, sabemos que foi cedida, pela Câmara, à União das Autarquias de Aldoar, Foz, Nevogilde. Mas o conteúdo da tal cultura no pequeno Auditório Eugénio de Andrade, não dignifica muito a obra do Poeta.
Enquanto que no Sul, há ruas, uma avenida com o nome do Poeta (e até em Gaia), no Porto há uma Escola do Ensino Básico com o nome dele; e uma universidade senior perto do Marquês. Merecia mais da sua cidade adoptiva, o Poeta.
“Chegaram tarde à minha vida/ as palmeiras. Em Marraquexe vi uma/ que Ulisses teria comparado/ a Nausicaa, mas só/ no jardim do Passeio Alegre/ comecei a amá-las. São altas/ como os marinheiros de Homero./ Diante do mar desafiam os ventos/ vindos do norte e do sul,/ do leste e do oeste,/ para as dobrar pela cintura./ Invulneráveis – assim nuas.” (Rente ao Dizer, “Passeio Alegre”)
Maria Eugénia Abrunhosa é licenciada em Românicas e professora aposentada do ensino secundário; foi monja budista zen e integrou a Comunidade Mundial de Meditação Cristã.
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