
Atentado em 21 abril 2019: O primeiro socorro às vítimas, após o atentado na igreja de São Sebastião. Foto © ACN Portugal.
O supremo tribunal de justiça do Sri Lanka condenou o ex-Presidente Maithripala Sirisena e quatro outros altos funcionários a pagar indemnizações às famílias das 279 vítimas dos ataques terroristas do domingo de Páscoa, 21 de abril de 2019. Numa sentença inédita, o supremo sentenciou os cinco responsáveis por terem reagido de forma negligente aos alarmes emitidos pelos serviços secretos, não tendo tomado as medidas necessárias para impedir os atentados que tiveram lugar em três igrejas e três hotéis de luxo.
A decisão foi conhecida ao fim do dia 12 de janeiro e, segundo a Agência Fides de 13 de janeiro “recebida com grande satisfação pela opinião pública”. É a primeira vez que um Chefe de Estado do Sri Lanka é responsabilizado por não ter evitado um ataque terrorista. A comunidade católica criticou veemente e em várias ocasiões, pela voz do cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, [ver 7MARGENS] a investigação inadequada do governo liderado pelo Presidente Gotabaya Rajapaksa sobre os atentados da Páscoa, e chegou mesmo a entregar uma petição às Nações Unidas pedindo a realização de uma investigação internacional. Rajapaksa sucedeu a Maithripala Sirisena e foi obrigado a fugir do país no verão de 2022 devido à crise social e económica em que o Sri Lanka se viu então mergulhado. Ranil Wickremesinghe é o atual Presidente, eleito pelo Parlamento para terminar o mandato de Rajapaksa (finais de 2024).
Em conferência de imprensa realizada no dia 13 de agosto de 2021, o cardeal Ranjith classificou como “peixe miúdo” as 25 pessoas oficialmente acusadas pela investigação policial (divulgada na semana anterior) como autores dos ataques bombistas de 21 de abril de 2019. Na ocasião, o responsável da Igreja Católica acusou o Governo de não querer dar passos significativos para encontrar o “peixe graúdo” verdadeiramente responsável pelos atentados e exortou os católicos a expressarem publicamente a sua indignação pelo resultado da investigação policial, incitando a que cada um colocasse, no dia 21 de agosto, “uma bandeira negra em frente da sua casa, instituição, ou mercado como um símbolo forte do protesto silencioso.”
A hierarquia católica recusou sempre acusar a minoria muçulmana (9% da população) de estar por trás dos ataques bombistas. O cardeal Ranjith chegou a afirmar que os atentados “não são necessariamente aquilo que nos querem fazer crer – mas são algo mais do que o que parecem ser”. Nesta linguagem cifrada, o máximo responsável pela Igreja Católica no Sri Lanka descartava, na cerimónia de memória dos atentados de dois anos antes, que se realizou a 21 de abril de 2021, a tentativa de imputar os ataques ao ódio da minoria muçulmana contra os católicos, lembrando que além das igrejas, também em três hotéis de luxo foram colocadas bombas que mataram “muçulmanos, malaios e muitos outros.”