
Crianças iraquianas a agradecer pinturas oferecidas por crianças australianas, em sinal de solidariedade: é preciso “comunicar cordialmente”, diz o Papa. Foto © ACN-Portugal
“Comunicar cordialmente” para “desarmar os ânimos promovendo uma linguagem de paz” poderia ser um resumo possível da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, divulgada pelo Vaticano esta terça-feira, 24, festa de S. Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
Depois de “ir e ver” (mensagem de 2021) e de “escutar com o coração” (mensagem de 2022), chegou agora a vez de “falar com o coração – testemunhando a verdade no amor”, tema proposto para a 57ª edição deste Dia, que ocorrerá este ano em 21 de maio. Para o Papa Francisco, fica claro, com esta trilogia, que é o coração que move a comunicação quando ela é, ou busca ser, “aberta e acolhedora”.
“Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista – destaca a mensagem –podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente.”
Segundo o Papa, “não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incómoda”. Devemos ter medo, sim, “de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito «o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é “um coração que vê”». “Trata-se – explica Francisco – de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isto leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro. Então pode ter lugar o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdia e divisões.”
Mais adiante, o Papa faz notar que, para se poder comunicar testemunhando a verdade no amor, “é preciso purificar o próprio coração”, de forma a poder “ver para além das aparências, superando o rumor confuso que, mesmo no campo da informação, não nos ajuda a fazer o discernimento na complexidade do mundo em que vivemos”, tantas vezes alimentado pela indiferença e pela indignação, “baseada por vezes até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade”.
Como exemplo do “comunicar cordialmente”, o texto alude ao “misterioso viandante que dialoga com os discípulos a caminho de Emaús depois da tragédia que se consumou no Gólgota”. Com eles “Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da amargura deles, propondo-se e não se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido”.
Aprender a escutar, a falar e comunicar com o coração há também necessidade na Igreja, acentua o Papa Francisco. “É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros». Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura”.
E o texto aponta caminhos e enuncia sonhos: “Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética (…). Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor”.
Por fim, Francisco estabelece uma relação entre o tema que propôs para este ano e a atual conjuntura de guerra e destruição. “Hoje – escreve – é tão necessário falar com o coração para promover uma cultura de paz, onde há guerra; para abrir sendas que permitam o diálogo e a reconciliação, onde campeiam o ódio e a inimizade. No dramático contexto de conflito global que estamos a viver, urge assegurar uma comunicação não hostil. É necessário vencer «o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso». Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção dum desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações, como exortava profeticamente São João XXIII na encíclica Pacem in terris.”