
Representantes das conferências episcopais regionais africanas, no final do simpósio preparatório da conferência sinodal de África, que se realizou em dezembro de 2022. Foto © Synod.va.
África, um dos continentes onde a Igreja Católica mais cresce, em número de fiéis e em dinamismo, apresentou-se esta terça-feira, 17 de janeiro, num encontro com jornalistas, tendo em vista o sínodo que terá a sua assembleia continental no início de março próximo.
Com a presença de representantes de quase todas as conferências episcopais regionais africanas, o encontro, que o 7MARGENS acompanhou por videoconferência, permitiu evidenciar preocupações e contributos próprios que serão objeto de partilha e diálogo no plano da Igreja universal, a partir de outubro, em Roma, quando abrir a primeira sessão do Sínodo dos Bispos.
Um sinal das sensibilidades desta região do mundo surge logo em torno da imagem da “tenda”, que é utilizada no documento orientador da etapa continental do Sínodo. “Alarga o espaço da tua tenda” é o título do texto, que recorre a um versículo do profeta Isaías para sublinhar a perspetiva de abertura, escuta e acolhimento subjacentes ao processo sinodal.
Os jornalistas ficaram a saber que, de vários lados do continente, a metáfora da tenda não é considerada a que mais diz aos cristãos, visto que, em algumas zonas, é conotada com campos de refugiados e, noutras, com parques de campismo. Preferiam, por exemplo, a imagem da casa (“na minha casa há muitas moradas”, Jo.14:2) ou até da família.
Por vários dos intervenientes, leigos e padres, ficou a perceber-se que a família é um tópico que merece especial cuidado, quer como realidade socio-antropológica, quer teológica e pastoral. Foi referida a tensão entre a nostalgia de “caminhar como uma família” e as tensões que afetam a vida real, no plano familiar: casamentos desfeitos, mães que ficam sozinhas com os filhos, culturas poligâmicas, casamentos “arranjados”, efeitos de conflitos e guerras…
Na África a norte do Saara, começa por haver o problema das línguas, do afluxo e passagem de muitos migrantes e refugiados vindos da região subsaariana, com as suas esperanças, as suas angústias, a exploração de que são vítimas e os cuidados de que necessitam, nos quais numerosas comunidades e instituições da Igreja estão envolvidas.
O representante das conferências episcopais da região da África central expôs um problema que formulou como “perplexidade”, suscitado na fase da auscultação das dioceses e mesmo em reuniões preparatórias da assembleia continental, que já ocorreram: faz parte da sinodalidade procurar escutar todos; mas será que teremos de seguir ou levar em conta aquilo que todos dizem? Quem vai tomar uma decisão final em questões que muitas vezes são sensíveis e divisivas? Como gerir estas situações?
“Como a Igreja não é um partido político que pode mudar as leis fundamentais e como somos todos trabalhadores da vinha do Senhor, mas não somos donos da vinha, resta-nos entregar estas questões difíceis ao Espírito Santo e esperar a sua inspiração”, respondeu o próprio às perguntas feitas.
No início dos trabalhos, interveio também o bispo Luis Marín de San Martín, OSA, subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo, para sublinhar que esta caminhada sinodal representa “um processo de renovação e esperança para a Igreja”. Recordou as etapas deste processo – escuta, discernimento e tomada de decisões – e terminou enfatizando potencialidades desta etapa continental em que o Sínodo está a entrar: viver e sublinhar a unidade na diversidade de cada continente; modo como a Igreja incarna, em cada contexto; e riquezas específicas, neste caso, de África, que serão colocadas ao serviço da Igreja universal, enriquecendo a consciência do todo.
A assembleia sinodal do continente africano e Madagáscar decorrerá em Adis Abeba, capital da Etiópia, de 1 a 6 de março, com a participação de 155 delegados, que incluem: 95 leigos e 60 consagrados (destes, 40 serão padres, bispos e cardeais).