
Imagem aérea de um campo de refugiados no Noroeste da Síria. Situação nos campos continua grave. Foto © Direitos Reservados
A situação na Síria está complicada e a Amnistia Internacional (AI) avisa que o encerramento do último corredor de ajuda humanitária no noroeste da Síria pode “revelar-se uma catástrofe humanitária para milhões de pessoas”. Um novo relatório da AI “Condições de vida insuportáveis”: Acesso inadequado aos direitos económicos e sociais nos campos de deslocados internos no noroeste da Síria”, revela “como as pessoas deslocadas internas vivem em condições aterradoras nos campos, o que as torna vulneráveis e inteiramente dependentes da ajuda internacional para sobreviver”.
Para tentar minorar as dificuldades, a AI pede aos membros do Conselho de Segurança da ONU para “alargar a resolução transfronteiriça que permite às Nações Unidas prestarem ajuda a pelo menos 4 milhões de residentes e deslocados internos no noroeste da Síria, antes de a mesma expirar a 10 de julho”.
Este relatório da AI tem como base de trabalho um estudo feito junto de 45 pessoas, das 1,7 milhões que ali vivem naquela região, 58% das quais crianças, refere a organização. “Muitas destas pessoas vivem há mais de 6 anos em condições de miséria, enfrentando o risco de doenças e violência de género”.
As entrevistas foram conduzidas entre fevereiro e maio de 2022 e permitiram perceber, segundo a organização, “como estas pessoas não têm acesso aos seus direitos a habitação condigna, água, saneamento e saúde”. Mais de metade da população de deslocados internos no noroeste da Síria vive em 1.414 campos, “geralmente em tendas de um quarto que não têm portas ou fechaduras sólidas e não oferecem isolamento do frio ou calor extremos comuns à área, em violação do seu direito à habitação habitável”, refere a organização em comunicado.
A AI apresenta o testemunho de uma mulher, que vive com o marido e cinco filhos num acampamento há três anos. “Moro numa tenda com uma divisão. Construí uma pequena cozinha e coloquei colchões finos para cobrir o resto do quarto, que usamos durante o dia e a noite, pois é o único espaço que temos. Faço tudo neste quarto: durmo, cozinho, lavo roupa, tomo banho, tudo. Não há nenhuma porta. Temos uma cobertura que enrolamos para cima e para baixo para entrar ou sair da tenda. Qualquer um pode entrar. Alguém pode viver numa tenda e sentir-se seguro? Impossível”, refere esta mulher, citada pela AI.
O testemunho continua. “Estamos sempre a ficar sem água. Como hoje, não temos água, os tanques comunitários estão vazios. Não tenho poder económico para comprar água. Outras pessoas fazem-no, mas eu não. Eu recebo um pouco dos meus vizinhos só para que os meus filhos e eu possamos beber. Entretanto, esperamos que a organização venha encher os tanques, o que acho que acontece duas vezes por semana. É melhor do que nada”, defende.
Outro problema identificado pela organização é a violência com base no género. Trabalhadores humanitários disseram à Amnistia Internacional que «a sobrelotação, a falta de privacidade, os campos não vedados, a incapacidade de trancar as tendas e a sua exclusão dos processos de tomada de decisão expuseram mulheres e meninas a uma série de violência de género, incluindo violência por
familiares, gestores e residentes do acampamento, estranhos e trabalhadores humanitários”.
Um trabalhador humanitário relatou à AI que “as mulheres vão às latrinas comunitárias juntas em grupos ou acompanhadas de um parente. À noite, elas têm medo de ir sozinhas, pelo que, se não houver ninguém para as acompanhar, então eles usam uma casa de banho improvisada ou aguentam até de manhã”, denuncia.