Relatório das Nações Unidas

Fome e insegurança alimentar crescem, em vez de regredirem

| 14 Jul 2022

Número de pessoas que passam fome no mundo pode ter atingido 828 milhões, o que representa uma percentagem que não andará longe dos 10 por cento da população mundial. Foto © Pixabay

 

O panorama global da alimentação no mundo está a piorar nos seus principais indicadores: não está a diminuir o número das pessoas que passam fome; a insegurança alimentar está a crescer; e qualidade das dietas está também a piorar. Para tornar o horizonte mais negro, as desigualdades entre as regiões do mundo, que já são grandes, não estão a recuar e a invasão e guerra na Ucrânia só podem agravar o panorama mundial.

São estes os dados essenciais do mais recente relatório há dias publicado pelas Nações Unidas, com o contributo de cinco das suas organizações: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Programa Alimentar Mundial (PAM), UNICEF ​​e Organização Mundial da Saúde (OMS). O Relatório, intitulado “Situação da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2022”, está publicado em inglês.

Segundo o relatório, o número de pessoas que passam fome no mundo pode ter atingido 828 milhões, o que representa uma percentagem que não andará longe dos 10 por cento da população mundial (prevê-se que os habitantes do planeta ultrapassem em novembro próximo os 8 mil milhões).

“Depois de permanecer relativamente inalterada desde 2015, a prevalência de desnutrição saltou de 8,0 para 9,3 por cento de 2019 para 2020 e aumentou a um ritmo mais lento em 2021 para 9,8 por cento”, refere o estudo. 

O número cresceu 150 milhões desde o início da pandemia de covid-19 – mais 103 milhões de pessoas entre 2019 e 2020 e mais 46 milhões em 2021. “O aumento da fome global em 2021 reflete desigualdades exacerbadas entre e no interior dos países devido a um padrão desigual de recuperação económica entre países e perdas de rendimentos não recuperadas entre os mais afetados pela pandemia”, explica o documento das Nações Unidas.

Ainda que se corra o risco de os números ofuscarem os dramas humanos que referem, vale a pena pensar em mais alguns: 

– Perto de 2,3 mil milhões de pessoas no mundo (29,3por cento) encontravam-se em situação de insegurança alimentar moderada ou grave em 2021 – 350 milhões mais do que antes do surto da pandemia de covid-19. 

– Quase 924 milhões de pessoas (11,7 por cento da população global) enfrentaram insegurança alimentar em níveis graves, um aumento de 207 milhões em dois anos. 

– A diferença de género na insegurança alimentar continuou a aumentar em 2021 – 31,9 por cento das mulheres no mundo estavam em insegurança alimentar moderada ou grave, em comparação com 27,6 dos homens – uma diferença de mais de 4 pontos percentuais, em comparação com 3 pontos percentuais em 2020.

  Quase 3,1 mil milhões de pessoas não puderam pagar uma dieta saudável em 2020, 112 milhões a mais que em 2019, refletindo os efeitos da inflação nos preços dos alimentos ao consumidor devido ao impacto da pandemia. 

45 milhões de crianças sofrem de emagrecimento extremo

O estudo faculta alguns indicadores alarmantes relacionados com o impacto dos problemas alimentares nas crianças. Assim, calcula que 45 milhões com menos de cinco anos sofrem de emagrecimento extremo (ou emaciação), a forma mais mortal de desnutrição, o que aumenta o risco de morte das crianças até 12 vezes. 

Além disso, 149 milhões de crianças com menos de cinco anos tiveram crescimento e desenvolvimento atrofiados devido à falta crónica de nutrientes essenciais nas suas dietas. Em contrapartida, 39 milhões apresentavam peso a mais. 

É, entretanto, de salientar um dado positivo: têm sido registados progressos relativamente ao aleitamento materno exclusivo (alimentação apenas com o leite da mãe), com quase 44 por cento dos bebés com menos de seis meses de idade em todo o mundo, em 202, amamentados nesse regime. No entanto, esta percentagem está ainda abaixo da meta de 50 por cento, a conseguir até 2030. 

Mantêm-se motivos de preocupação:  duas em cada três crianças não são alimentadas com o uma dieta diversificada mínima de que precisam para crescer e se desenvolverem plenamente. 

A guerra na Ucrânia pode agravar o problema da fome

Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pelas Nações Unidas em 2015 apontava como cenário desejável acabar com a insegurança alimentar até 2030, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável. Mantendo-se o quadro desenhado a meio do percurso, daqui a 7 ou 8 anos é de prever que 670 milhões de pessoas, ou seja 8 por cento da população mundial ainda sofrerão de fome. Ora este era o cenário do ponto de partida, em 2015.

As previsões do relatório acabado de sair não incluem ainda consequências decorrentes da guerra da Ucrânia, em especial as decorrentes da queda abrupta da produção de cereais e de óleo de girassol ucranianos. A destruição deliberada de infraestruturas e meios de produção agrícola, de pilhagem dos celeiros e de interrupção das exportações por via marítima, em particular com destino a numerosos países africanos terá a breve trecho consequências nefastas nas condições alimentares das populações. Do lado da Rússia, o efeito do preço dos fertilizantes e da energia e restrições às exportações russas contribuirão também para que milhões de pessoas venham a passar fome, segundo diz Máximo Torero Cullen, economista-chefe da FAO.

Citando, dados fornecidos pelo Human Rights Watch: “A Rússia e a Ucrânia figuram entre os cinco maiores exportadores globais de cevada, girassol e milho, e respondem por cerca de um terço das exportações mundiais de trigo. A Nigéria, o quarto maior importador de trigo do mundo, recebe um quarto de suas importações da Rússia e da Ucrânia. Camarões, Tanzânia, Uganda e Sudão obtêm mais de 40% de suas importações de trigo da Rússia e da Ucrânia. O Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM) compra metade do trigo que distribui ao redor do mundo da Ucrânia. Com a guerra, os suprimentos são reduzidos e os preços sobem, inclusive para o combustível, aumentando o custo do transporte de alimentos na região e para a região.”

Como se isso não bastasse, os mercados internacionais, com base na previsível escassez de cereais, aumentam os preços tornando difícil ou impossível países com fraco poder aquisitivo encontrarem alternativas.

 

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