
“O movimento de oração-encontro-escuta-discernimento acontece quando nos encontramos com o Senhor e uns com os outros na Palavra e no Sacramento.” Foto © Patriarcado de Lisboa
O nó górdio da Igreja está no desafio de desatar os nós da instituição para lançar as pontes de união indispensáveis para vivermos em comunhão missionária. Esta dinâmica passa necessariamente pela formação sinodal como tem sido atestado pelos relatos diocesanos.
“Que é isso?” – questiona um canonista que com a sua jurisprudência se apressa a fazer uma leitura do que acontece na Igreja e acrescenta: “Não se fala disso nem se manifesta alguma curiosidade.”
Realismo? Distância crítica? Outras hipóteses são possíveis. Assumo neste artigo os relatos dos mencionados autores e proponho-me fazer uma espécie de retrato da situação.
Renovar e restaurar a esperança
Na formação sinodal, um dos desafios da Igreja Católica é o de renovar e restaurar a esperança, face ao desencanto e ao deixar correr, declarava o padre Virgílio Mota, da diocese de Leiria-Fátima, na assembleia de apresentação dos resultados da caminhada sinodal nas respectivas paróquias, a 4 de Janeiro de 2022. E enumerava outros como a poluição dos mares, os desequilíbrios do homem com a natureza e com os recursos que a terra produz, as dinâmicas suicidas, realidades que nós temos de cuidar.
Outros desafios, adiantava, são o comunicar nos ambientes digitais sem proselitismo, o trabalhar com a gramática, a linguagem do nosso tempo, porque “com discursos herméticos, fechados, falamos só para nós”. Neste sentido, “as paróquias devem ser comunidades sinodais, no espírito de Emaús (…), devem ser lugares de abertura, onde é necessário perguntar sempre o que é melhor para todos, em verdadeiro sentido de comunidade”.
Formação sinodal e eucaristia
“A formação sinodal é formação eucarística; embora seja necessária mais reflexão para elaborar esta abordagem integrada. (Padre Louis J. Camelli”, na Unisinos).
A Liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua energia. A consciência da missão no contexto da liturgia é chamamento perene para integrar o culto e a vida além do templo. (Vaticano II, Constituição sobre a Sagrada Liturgia, 10).
A metáfora do cume do monte envolve a encosta da subida e a da descida. No centro fica a celebração da caridade e nos lados está a evangelização e a esperança, que há-de impregnar e animar o compromisso social dos cristãos.
O movimento de oração-encontro-escuta-discernimento acontece quando nos encontramos com o Senhor e uns com os outros na Palavra e no Sacramento. Este sentido de ser sujeitos e agentes activos da Igreja é a chave para a participação plena nos mistérios sacramentais.
Radical conversão pessoal e pastoral
Em tempos tão turbulentos como os nossos, “a todos peço uma radical conversão pessoal e pastoral”, escreve D. António Couto, em documento sobre as nomeações canónicas para o ano pastoral de 2022-2023. É urgente que este ideário da evangelização a todos nos envolva a tempo inteiro, transforme a nossa mentalidade e molde em nós novas atitudes missionárias, que vão para além da simples manutenção pastoral… É obrigação e alegria nossa levar o Evangelho a todas as pessoas e a todos os recantos”. (Ecclesia, 25 de Agosto de 2022)
Prolongar e aplicar a experiência sinodal
O bispo da Guarda, D. Manuel Felício, escreveu uma “carta ao povo de Deus” da sua diocese, pelo início do ano pastoral 2022-2023, e anuncia que serão repensados e, se possível, aplicados os resultados da experiência sinodal, dando “atenção” às famílias e à juventude… “Temos o objetivo de continuarmos a aplicar o método sinodal, quanto possível, ao conjunto das atividades pastorais que desenvolvemos e sobretudo aos processos das decisões que precisamos de tomar”. (Ecclesia, 25 Agosto de 2022)
Novas atitudes missionárias, viver a experiência sinodal, participar a tempo inteiro na vida da Igreja, dedicar um amor especial à Eucaristia, restaurar e renovar a esperança são caminhos a percorrer na Igreja sinodal. Caminhos que nos levam a situar a missão da Igreja numa sociedade secular. Será o objectivo do próximo trabalho.
Georgino Rocha é padre católico da diocese de Aveiro e desempenhou já o cargo de vigário diocesano da pastoral.