
“A eleição de Jorge Mario Bergoglio chegava na hora certa, para dar um novo impulso e dinamismo à Igreja Católica. Esta eleição, na verdade, vinha repleta de surpresas.” Foto: Universidade Loyola
Ocorreu no passado dia treze de março, o décimo aniversário da eleição do Papa Francisco, para ocupar a “cadeira de Pedro”, após o Papa Bento XVI ter abdicado inesperadamente, em 28 de fevereiro de 2013.
Ao longo desta dezena de anos, decorridos a grande velocidade, o Papa Francisco, o 266º Papa de Roma, já deixou profundas marcas no seu pontificado, dignas de serem assinaladas. Na verdade, a Igreja Católica já sofreu nestes anos significativas mudanças e algumas turbulências. Após o pontificado de transição de Bento XVI ter deixado muitos e graves problemas em aberto, a eleição do Papa Francisco logo despertou nos católicos amplas esperanças numa renovação urgente da Igreja, dado que permanecia fechada aos problemas do mundo moderno e da Igreja. Estes iam-se avolumando e não se mostrava nada fácil encontrar vontade nem coragem para os encarar e dar-lhes a devida solução.
Por isso, a eleição de Jorge Mario Bergoglio chegava na hora certa, para dar um novo impulso e dinamismo à Igreja Católica. Esta eleição, na verdade, vinha repleta de surpresas. A primeira consistia em se ter escolhido no conclave, pela primeira vez, um cardeal latino-americano da Argentina que, nas suas palavras “veio de muito longe”. Trata-se do primeiro Papa não europeu e o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica. Acrescente-se ainda que foi o primeiro Papa a escolher o nome de Francisco para o seu pontificado, definindo assim a o caminho que queria seguir, inspirado em Francisco de Assis.
Face a todos estes indicadores, logo se percebeu que o novo Papa vinha com ideias algo diferentes dos seus antecessores, querendo imprimir profundas mudanças, numa Igreja fechada sobre si e que ia adiando os seus acutilantes problemas.
Logo de início, para mostrar ao que vinha, Francisco deixou o lugar confortável do Vaticano para se dirigir para fora de Roma, deslocando-se à ilha italiana de Lampedusa, “para chorar os mortos que ninguém chora”.
Em 24 de Maio de 2015, meses antes do Acordo de Paris, escreveu a primeira encíclica papal de sempre dedicada ao “cuidado da casa comum”, a Laudato Si’. E, em 4 de Outubro de 2020, seguiu-se a carta encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e amizade Social. Apesar de algumas limitações físicas, Francisco foi-se deslocando a países onde os cristãos são perseguidos, como o Iraque e o Sudão. Países onde os seus antecessores nunca tinham ido. Viagens que arrastaram multidões para ver e ouvir o Papa Francisco.
Ao mesmo tempo, teve de enfrentar, com toda a coragem, os abusos sexuais que atingiram a maioria dos países católicos. Uma vergonha que o fez chorar e pedir perdão a todas as crianças, vítimas inocentes. Portugal foi um destes países em que uma dedicada e competente Comissão pôs a nu os desmandos dos padres abusadores em todas as dioceses, os quais tantas polémicas têm provocado nos últimos tempos.
Para despertar os católicos para as mudanças, o Papa tem insistido para que as comunidades católicas reflictam sobre os seus problemas, em espírito sinodal. “Um caminhar em conjunto” com os bispos, a fim de se serem encontrados caminhos novos que permitam responder às grandes questões com que hoje a Igreja Católica se debate. Escutar as grandes preocupações de hoje e ver como é que, a partir do património de fé da Igreja, se pode responder a elas. Entre as questões que a Igreja enfrenta, recorde-se a ordenação de mulheres diáconos, o celibato opcional, a bênção dos recasados e casais gays. Francisco não tem fechado as portas à discussão destes polémicos temas.
Só que “fazer reformas em Roma é como limpar a Esfinge do Egipto com uma escova de dentes” brincou Francisco quando o pontificado já tinha cinco anos. Mas, para já, a muito esperada nova Constituição Apostólica, sobre a reforma da Cúria Romana, entrou em vigor em Junho de 2022. Uma mudança de envergadura uma vez que altera o antigo modelo burocrático da Santa Sé. Estabelecem-se agora os dicastérios, para substituir as antigas Congregações que podem ser entregues a “qualquer fiel” e não, como até agora, apenas a cardeais ou arcebispos.
Uma boa tentativa para tornar o governo da Igreja menos monárquico. Segundo alguns analistas, este processo vai permitir maior liberdade e circularidade, dado que os mandatos estão limitados a cinco anos. Tempos de mudança a prometerem mais novidades.
Florentino Beirão é professor do ensino secundário. Contacto: florentinobeirao@hotmail.com