
“Com o inverno apenas a começar e os ataques contínuos às infraestruturas civis que deixam a população sem água, eletricidade e aquecimento, as necessidades continuarão a aumentar.” Foto © UNICEF/Diego Ibarra Sánchez.
Com o inverno a chegar e as temperaturas a oscilar entre os -3 e -8 graus celsius no leste da Ucrânia (a área mais afetada pela guerra), a situação no país torna-se cada vez mais difícil. A Ação Contra a Fome estima que 9,3 milhões de pessoas precisem atualmente de assistência alimentar, e a Unicef alerta que sete milhões de crianças estão sem acesso constante a eletricidade, aquecimento e água. O cenário, que já é muito negativo, ainda vai piorar, preveem as ONG e também o Vaticano, propondo algumas formas de ajudar.
Os dados da Ação Contra a Fome, citados pelo jornal italiano La Repubblica desta quinta-feira, 16 de dezembro, indicam que vivem atualmente na Ucrânia 35 milhões de pessoas, menos nove milhões do que as registadas no censo de 2021, e destas uma em cada cinco necessita atualmente de ajuda alimentar, particularmente no leste afetado por pesados bombardeamentos. Com o conflito prestes a atingir o décimo mês, a situação alimentar é agravada pela inflação, que atingiu 24,6%.
“Apelamos mais uma vez a todas as partes para que a fome não seja usada como arma de guerra, questão prevista na resolução 2417 do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirma Simone Garroni, diretora da Ação Contra a Fome em Itália. “Com o inverno apenas a começar e os ataques contínuos às infraestruturas civis que deixam a população sem água, eletricidade e aquecimento, as necessidades continuarão a aumentar e será necessário sustentar a longo prazo as capacidades das organizações humanitárias, não apenas na Ucrânia, mas também nos países fronteiriços”, assinala a responsável.
A organização tem prestado assistência humanitária `àqueles que permanecem na Ucrânia e aos refugiados acolhidos na Polónia, Roménia e Moldávia, onde o contexto é particularmente crítico devido ao peso que este acolhimento representa na situação interna, tendo já ajudado mais de 350.000 pessoas.
Através do seu sítio online, a Ação Contra a Fome atualiza regularmente as informações relativas à situação no terreno e à ação humanitária que vai desenvolvendo. É possível, não só acompanhar o que está a acontecer, mas também fazer donativos para apoiar essa ação.
As crianças devem ser protegidas, mas…

Na Ucrânia, um menino de nove anos ajuda a limpar os destroços dos bombardeamentos que atingiram a sua casa. Foto © UNICEF/Diego Ibarra Sánchez.
Outra organização que tem estado ativa no terreno, a Unicef, alerta que “sem eletricidade, as crianças não só enfrentarão o frio extremo quando no pleno do inverno cair abaixo de -20 graus, mas já hoje não podem realizar atividades de aprendizagem online, que para muitos representam o único acesso à educação com tantas escolas danificadas ou destruídas. Além disso, as estruturas sanitárias poderão não conseguir continuar a fornecer serviços básicos e o mau funcionamento dos sistemas de distribuição de água aumenta o risco de pneumonia, gripe sazonal, doenças transmitidas pela água e covid-19″.
Catherine Russel, diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para as Crianças, relata que “milhões de crianças enfrentam um Inverno sombrio e frio, sem saberem quando poderão ter um momento de alívio. Para além das ameaças imediatas que o frio gélido traz, as crianças são também privadas de aprender ou de permanecer em contacto com amigos e familiares, pondo tanto a sua saúde física como a sua saúde mental em risco”.
Isto, apesar de as regras da guerra serem claras: “as crianças e as infraestruturas civis essenciais de que elas dependem para sobreviver devem ser protegidas. É também essencial que a Unicef e os seus parceiros humanitários tenham acesso rápido e sem entraves às crianças e famílias que necessitam de assistência humanitária, independentemente do local onde se encontrem”, defende a responsável através de um comunicado divulgado pela organização esta quarta-feira,14 de dezembro.
De acordo com a agência da ONU, os ataques desencadeados em outubro “destruíram 40 por cento da capacidade de produção de energia da Ucrânia, expondo ainda mais as famílias às duras condições atmosféricas, afetando os meios de subsistência, e aumentando a probabilidade de grandes movimentos populacionais adicionais”.
Apesar dos esforços de reparações, até ao final de novembro o sistema energético ucraniano tinha conseguido responder a apenas 70% das necessidades energéticas, salienta a Unicef, com base nos dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).
“Façamos algum gesto concreto por eles”

Distribuição de material de aquecimento na Ucrânia. Foto © CC BY-NC-ND ICRC / Tetiana Khyzhniak.
Nas áreas que foram atingidas por duros combates e que voltaram a ser acessíveis – nas províncias de Kharkiv, Kherson e Donetsk –, a Unicef começou a distribuir kits de roupas de inverno, aquecedores de água e geradores. A organização comprou ainda suprimentos para o inverno num valor superior a 18,8 milhões de euros e forneceu acesso e assistência de saúde a 4,9 milhões de crianças e mulheres.
Na semana passada, foi lançado o seu Apelo Anual de Ação Humanitária para as Crianças 2023. A Unicef precisa de 1,1 mil milhões de dólares para satisfazer as necessidades imediatas e a longo prazo de 9,4 milhões de pessoas, incluindo 4 milhões de crianças, que continuam a ser profundamente afetadas pela guerra na Ucrânia.
Também o Vaticano, através da Esmolaria Apostólica, está a procurar ajudar a população ucraniana, tendo lançado uma campanha de recolha de camisolas térmicas e simultaneamente de angariação de fundos para aquisição de roupas e geradores, que serão levados pelo próprio esmoleiro do Papa, o cardeal Konrad Krajewski, até às regiões a atravessar maiores dificuldades.
“Nas minhas quatro viagens anteriores – diz o cardeal polaco num vídeo divulgado pelo Vatican News – vi o sofrimento das pessoas. Agora está frio, não há aquecimento, não há gás, não há eletricidade, os ucranianos pediram-me camisolas térmicas”, uma boa forma de enfrentar as baixas temperaturas. “Vamos dar este presente de Natal”, convida. Para isso, basta aceder à plataforma Eppela e definir o valor do contributo.
Esta pode ser também uma forma de responder ao apelo feito pelo Papa na audiência geral da passada quarta-feira, 14 de dezembro, de passar “um Natal, sim; em paz com o Senhor, sim, mas com os ucranianos nos nossos corações”. Francisco desafiou todos a viver “um Natal mais humilde, com presentes mais humildes” e a enviar o que for economizado para o povo ucraniano. “Façamos algum gesto concreto por eles”, pediu.
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