
A missão comboniana em Chipene, com a irmã Maria de Coppi, a segunda à esquerda, assassinada no ataque terrorista. Foto: Direitos reservados
O violento ataque à missão comboniana de Chipene na Diocese de Nacala, em Moçambique, na noite de 6 de setembro, de que resultou a morte a tiro da religiosa Maria De Coppi, de 83 anos, “não é um evento isolado”, segundo informações oriundas da região, veiculadas pela agência católica Fides.
A agência sugere ainda que os interesses da União Europeia pelo gás moçambicano, agravados pela atual situação energética, estariam a levar o exercito de Moçambique a concentrar a defesa nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, deixando indefesas grande parte do Norte de Moçambique e respetivas populações.
As operações no distrito sul da província de Cabo Delgado e no distrito norte da província de Nampula tiveram início a 29 de Agosto, segundo a mesma fonte. “De facto, entre essa data e 7 de setembro foram registados quatro ataques em Ancuabe e Chure (Cabo Delgado) e quatro nos distritos de Memba (que inclui Chipene) e Erati (Nampula). Os atacantes visaram civis indefesos que trabalhavam nos seus campos, decapitando-os, com a clara intenção de espalhar o terror entre os habitantes”, refere a Fides.
Os objetivos dos insurgentes, tidos como ligados à autodeclarada província do Estado Islâmico em Moçambique, “foram alcançados”, já que “a população está desorientada e em grande sofrimento porque vive na incerteza e não sabe o que fazer – muitos fogem, mas não sabem para onde ir”, segundo o arcebispo de Nampula, Inácio Saure, citado pela agência.
Os terroristas parecem querer também “aliviar a pressão exercida pelas forças moçambicanas e seus aliados (principalmente os soldados enviados pelo Ruanda) nos distritos do norte de Cabo Delgado”, uma vez que, ao alargarem a área das operações, obrigam o exército regular a dispersar as suas forças.
De facto, as informações recolhidas localmente levam os observadores a considerar que as autoridades moçambicanas estão a dar prioridade à defesa dos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, onde se concentram os campos de gás e petróleo do país.
“Não é por acaso que a União Europeia (que vê Moçambique como um importante futuro fornecedor de hidrocarbonetos) anunciou novas ajudas militares ao país”, observa a Fides.
Contudo, refere a mesma fonte, deixar os outros distritos do norte de Moçambique para os insurgentes, “corre o risco de colocar pelo menos parte da população do lado dos insurgentes jihadistas, com graves consequências para a estabilidade de toda a região”.
Papa homenageia a missionária assassinada
A notícia do assassinato da freira italiana tem originado forte comoção, em várias partes do mundo e até no Vaticano, especialmente porque ela, na sua idade avançada, fez questão de não abandonar a missão e as pessoas que à volta dela viviam perante a iminência do ataque.
O Papa Francisco, na oração do Ângelus, no último domingo, 11, prestou homenagem à missionária italiana Maria De Coppi, manifestando reconhecimento pelos seus quase 60 anos de missão e desejando que o seu testemunho “dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo de Moçambique”.
Também a Conferência dos Bispos Católicos da África Austral (SACBC) enviou uma mensagem de condolências ao povo de Deus e à liderança da Igreja em Moçambique, em que expressa “tristeza profunda” pelo sucedido.
Para os bispos da SACBC, a religiosa assassinada “morreu mártir porque não abandonou os pobres mesmo em tempos tão difíceis”.
No ataque noturno em que morreu De Coppi, e que se prolongou por cinco horas, os terroristas destruíram e queimaram a missão de Chipene, incluindo a igreja, os pensionatos, a escola e a reitoria. Os padres e irmãs italianos que ali trabalhavam conseguiram, no entanto, evacuar 68 estudantes que viviam na missão.
(Na fotografia inicial, foto de arquivo mostrando grupos armados no Norte de Moçambique.)