
Gérard Depardieu é proprietário de um hotel privado com vista para as traseiras do mosteiro que a Arquidiocese de Paris visa transformar num centro de acolhimento para os mais pobres. Foto © Siebbi / Wikimedia Commons.
O projeto para transformar um antigo mosteiro em centro de acolhimento de vítimas da pobreza, que a Arquidiocese de Paris pretende levar a cabo, deparou com um obstáculo inesperado: a estrela de cinema Gérard Depardieu, que habita uma mansão nas redondezas, mobilizou alguns vizinhos e pretende impedir o arranque das obras.
O antigo Mosteiro da Visitação, que ocupa uma área de 4000 metros quadrados, está situado numa zona chique de Saint Germain-des-Prés, na capital francesa. Há uma dúzia de anos, as religiosas abandonaram as instalações, legando o imóvel à arquidiocese, com uma condição: a Igreja comprometia-se a fazer dele o que entendesse, mas nunca a vendê-lo.
A arquidiocese entendeu disponibilizá-lo para associações que trabalham com pessoas em situação de precariedade e exclusão, para alojamento e assistência. Além de obras de restauro, um projeto apresentado na autarquia local prevê construções em parte do jardim e em zonas das traseiras que confrontam com pelo menos duas ruas.
Quando o projeto se tornou público, moradores e associações da zona começaram a manifestar a sua oposição, destacando-se nas movimentações o ator Depardieu, que, segundo o jornal La Croix International, que publicou uma reportagem sobre o assunto, é proprietário de um hotel privado, de nome Chambon, num edifício construído no séc. XIX, que tem vistas para as traseiras do mosteiro. Quando viu que a obra ia avançar, interpôs um recurso e teve a apoiá-lo associações locais e instituições ligadas ao património natural e arquitetónico. O recurso, porém, não foi aceite, pelo que Depardieu está, agora, a tentar atingir os seus objetivos pela via administrativa.
O mosteiro não se encontrava registado como de interesse arquitetónico, pelo que a Associação Sites & Monuments, entre outras entidades, solicitou esse reconhecimento ao Ministério da Cultura, que não respondeu. Algumas das entidades contestatárias entendem, por outro lado, que os jardins poderiam ser abertos ao público, para fins pedagógicos ou de usufruto do público em geral, se o projeto social transitasse para outro local.
O responsável pela execução do projeto, por parte da Igreja, contrapõe que as construções anteriores a 1870 serão mantidas e que serão plantadas novas árvores para substituir as que tiverem de ser abatidas. E entende que, na esteira do preconizado pelo Papa Francisco de se acolher os mais pobres nos conventos, a luta contra a precariedade é mais necessária, especialmente naquela zona, e que um mosteiro como o da Visitação pode desempenhar um importante papel nesse campo.
A diocese tenciona arrancar com as obras em 2023.