Há 10 anos, Peter Mendes deixou a ilha Brava, em Cabo Verde, com destino a Lisboa para fazer um transplante da válvula do coração. Precisou de apoio e foi então que conheceu a Associação Girassol Solidário, que presta apoio aos cabo-verdianos doentes enviados para Portugal para tratamento médico, ao abrigo do protocolo entre os dois países.
Peter Mendes ofereceu-se como voluntário e nunca mais deixou de colaborar com a associação. Hoje, residente em Lisboa, é o seu presidente e não tem mãos a medir para dar resposta a tantos pedidos de apoio.
Com uma licenciatura em serviço social, coordena o “desafio enorme” que constitui o trabalho no terreno. “Vivemos sempre ‘na corda bamba’, fazendo um enorme esforço para conseguir responder a todas as solicitações de pessoas que estão distantes da sua terra e das suas famílias”, diz Peter. A tarefa é, por vezes, muito complicada, mas, apesar de todas as dificuldades, “é preciso não perder a fé para dar continuidade ao projeto.”
A Girassol Solidário, criada em 2007 por Teresa Noronha, vive apenas das quotas dos sócios, de donativos e da solidariedade de associações parceiras cujas atividades ajudam angariar fundos para pagar as despesas. No ano passado, a associação acompanhou mais de 200 pessoas, a maioria com patologia oncológica e insuficiência renal. Aos doentes, juntam-se também cabo-verdianos imigrantes que se encontram em situações mais fragilizadas em Portugal e que precisam de apoios vários.
Além do apoio social e psicológico a diversos níveis, a associação assegura a articulação com entidades como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Segurança Social, Finanças ou Centros de Saúde. Acompanha também os doentes a consultas e tratamentos, estabelecendo mediação com o corpo clínico, visita os doentes internados e angaria vestuário. “Tudo o que for apoio material é bem vindo”, diz Peter Mendes.
Mais alimentos, precisam-se!
A mais exigente de todas as ações da Girassol Solidário, atualmente, é conseguir o apoio alimentar que a esmagadora maioria das pessoas necessita. “Estamos constantemente a receber pedidos”, refere o seu presidente. Nem o protocolo com o Banco Alimentar Contra a Fome permite auxiliar toda a gente, diz.
Com a pandemia, a situação piorou, o que levou a associação a organizar uma campanha para angariar comida, no final do ano passado, na qual participaram vários artistas e figuras públicas de Cabo Verde.
A associação dispõe ainda de três residências na sede de Lisboa, em Marvila e na Calçada da Tapada, com capacidade para acolher 16 doentes e que estão quase sempre cheias. Destinam-se sobretudo a crianças e jovens ou a pessoas com pouca autonomia que viajam com acompanhantes. A sua manutenção conta com o apoio da embaixada de Cabo Verde em Portugal.
A gestão de todas as dificuldades com que a Girassol Solidário se confronta gera, muitas vezes, “grande frustração”, mas Peter Mendes e a sua associação estão determinados e mobilizados para contrariar todas as adversidades e continuar a ajudar o máximo de pessoas possível. “É um trabalho de músculo”, diz, resistente.