Ateu e homem de diálogo

Gorbachov: A religião não é ópio do povo

| 31 Ago 2022

papa joao paulo II e michail gorbachov no vaticano em dezembro de 1989 foto vatican media

Michail Gorbachov com o Papa João Paulo II, no Vaticano, em dezembro de 1989. Gorbachov era ateu, mas um homem de diálogo. Foto © Vatican Media.

 

Ele chegou a Assis incógnito como qualquer outro peregrino, Michail Gorbachov, em 15 de março de 2008, e passou pela porta da Basílica de São Francisco. Quem sabe quantos “personagens” entram na nossa Basílica sem dizer nada a ninguém, sem serem notados, como verdadeiros peregrinos, e partem depois de terem percorrido em poucos metros um extraordinário caminho de espiritualidade – de fé, para muitos – e de cultura!

Foi um frade espanhol, o padre Antonio Ruiz, que estava de serviço na Basílica, que percebeu naquele dia a presença na igreja do último líder soviético. Imediatamente ligou para o padre Miroslavo Anuskevic, um lituano, conhecedor da língua russa, que se aproximou de Gorbachov. Eu estava na sala de imprensa, quando eles me chamaram. Depois chegou também o Custódio, padre Vincenzo Coli, recém-chegado de Roma.

Fiquei impressionado com a simplicidade deste homem. Fomos à cripta, ao túmulo de São Francisco, onde ele fez uma paragem bastante demorada, em recolhimento. Depois subimos à Basílica superior, seguindo cena após cena o ciclo de Giotto da Vida de São Francisco. O padre Miroslavo explicou as cores e figuras dos frescos.

Diante da cena do despojamento de Francisco – a sua renúncia à posse de coisas materiais e opção pela pobreza – ele [Gorbachov] quis parar por mais alguns segundos. Tomei emprestada uma frase famosa de Erich Fromm para comentar sobre a performance: “Aqui está o momento da escolha radical de Francisco entre ser ou ter”.

Depois passeámos pelo pórtico e, finalmente, sentámo-nos na sala: o padre Vincenzo, o padre Miroslavo, Gorbachov e eu. Conversámos sobre muitas coisas: sobre a Rússia, sobre a relação entre fé e política. Gorbachov expressou uma admiração muito forte por São Francisco, dizendo que estava “agradecido por estar num lugar tão importante, não apenas para a fé católica, mas para toda a humanidade. O testemunho de Francisco comunica uma grande tensão de espiritualidade”. Afirmou que estava “fascinado” por São Francisco, enfatizando que “a sua história é muito mais bela do que [são] os tempos de hoje”.

Houve um pouco de sensacionalismo [“giallo“] em torno desta visita. Um jornal nacional, referindo-se ao recolhimento de Gorbachov junto ao túmulo do santo, chegou a falar de conversão, intitulando O irmão Gorbachov em oração em Assis. Esse artigo foi replicado por alguns jornais estrangeiros. Um grande mal-entendido. Essa visita foi “motivo de alegria e esperança”, nas palavras do Custódio do Sagrado Convento, padre Coli, que definiu Gorbachov como “um homem de diálogo, certamente”.

Alguns dias depois, Gorbachov foi a Turim para o Fórum Político Mundial. Ainda trazia consigo as imagens da sua visita a Assis: «Fiquei muito impressionado com o grande número de peregrinos de todo o mundo que vi». Em seguida, voltou à sua suposta conversão, dizendo: “Eu venho de uma família ortodoxa e sou batizado, mas fui e continuo a ser ateu. No entanto, não posso afirmar, como os meus antecessores, que a religião é o ópio do povo. A questão é muito mais complexa».

Ateu e homem de diálogo, Gorbachov.

[Excerto do livro do padre Enzo Fortunato, Vado da Francesco, Mondadori, publicado no site San Francesco]

 

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida

Financiamento (e vidas) em risco

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida novidade

No momento em que se assinala o 35º Dia Mundial de Luta Contra a Sida (esta sexta-feira, 1 de dezembro), desentendimentos entre republicanos e democratas nos Estados Unidos da América ameaçam a manutenção do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Sida (PEPFAR), que tem sido um dos principais financiadores do combate à propagação do VIH em países com poucos recursos. Alarmados, os bispos norte-americanos apelam aos legisladores que assegurem que este programa – que terá já salvo 25 milhões de vidas – pode continuar.

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa novidade

Além das “indispensáveis decisões políticas”, o Papa propõe “uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental”, o que teria um impacto significativo a longo prazo. É preciso “mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários”. É necessário escapar a uma vida totalmente capturada pelo imaginário consumista.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

“Em cada oportunidade, estás tu”

Ajuda em Ação lança campanha para promover projetos de educação e emprego

“Em cada oportunidade, estás tu” é o mote da nova campanha de Natal da fundação Ajuda em Ação, que apela a que todos os portugueses ofereçam “de presente” uma oportunidade a quem, devido ao seu contexto de vulnerabilidade social, nunca a alcançou. Os donativos recebidos revertem para apoiar os programas de educação, empregabilidade jovem e empreendedorismo feminino da organização.

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza

O apelo de Guterres

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza novidade

A ajuda que as agências da ONU estão a dar aos palestinianos da Faixa de Gaza, perante aquilo que o secretário-geral considera uma “gigantesca catástrofe humanitária”, é manifestamente inadequada, porque insuficiente. A advertência chega de António Guterres, e foi proferida em plena reunião do Conselho de Segurança, que ocorreu esta quarta feira, 29, no tradicional Dia de Solidariedade com o Povo Palestiniano.

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses

Em audiência no Vaticano

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses novidade

O Papa não se cansa de agradecer pela Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Lisboa no passado mês de agosto, e esta quinta-feira, 30, em que recebeu em audiência uma delegação de portugueses que estiveram envolvidos na sua organização, “obrigado” foi a palavra que mais repetiu. “Obrigado. Obrigado pelo que fizeram. Obrigado por toda esta estrutura que vocês ofereceram para que a Jornada da Juventude fosse o que foi”, afirmou. Mas também fez um apelo a todos: “não deixeis que nada se perca daquela JMJ que nasceu, cresceu, floriu e frutificou nas vossas mãos”.

O funeral da mãe do meu amigo

O funeral da mãe do meu amigo novidade

O que dizer a um amigo no enterro da sua mãe? Talvez opte por ignorar as palavras e me fique pelo abraço apertado. Ou talvez o abraço com palavras, sim, porque haveria de escolher um ou outro? Os dois. Não é possível que ainda não tenha sido descoberta a palavra certa para se dizer a um amigo no dia da morte da sua mãe. Qual será? Porque é que todas as palavras parecem estúpidas em dias de funeral? 

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This