
Francisco condena a guerra na Ucrânia como “moralmente injusta, inaceitável, bárbara, sem sentido, repugnante e sacrílega”. Foto © Depositphotos.
O Papa Francisco quis clarificar, de uma vez por todas, a sua posição relativamente à guerra desencadeada pela Rússia ao invadir a Ucrânia, em fevereiro passado. Num comunicado, difundido pela Santa Sé na manhã desta terça-feira, 30, sublinha-se que a “guerra em larga escala na Ucrânia” foi “iniciada pela Federação Russa” e que as intervenções do Papa “são claras e inequívocas, ao condená-la como moralmente injusta, inaceitável, bárbara, sem sentido, repugnante e sacrílega”.
A nota pretende responder a “discussões públicas” que, em vários momentos, e nomeadamente nos últimos dias, têm surgido “sobre o significado político” de intervenções de Francisco e seus colaboradores. Nesta linha, tais intervenções sobre a guerra da Ucrânia “devem ser lidas como uma voz levantada em defesa da vida humana e dos valores a ela ligados, e não como posturas políticas”.
“Têm principalmente como finalidade convidar pastores e fiéis à oração, e todas as pessoas de boa vontade à solidariedade e aos esforços de reconstrução da paz”, esclarece o comunicado.
O governo de Zelensky tem reagido sempre que entende que o Papa trata de igual modo, nos seus gestos e palavras, a Rússia e a Ucrânia, ou seja, agressor e agredido. Isso aconteceu no modo como foi inicialmente preparada a via-sacra da semana santa em Roma, em que participaram uma mulher ucraniana e uma russa, e aconteceu no dia 24 de agosto último, depois de Francisco ter aludido, poucos dias antes, aos “inocentes que têm vindo a pagar pela guerra na Ucrânia”, mencionando explicitamente o caso da morte num atentado de Darya Dugina, filha de Aleksandr Dugin, considerado ideólogo do presidente russo.
Na sequência desse episódio, o embaixador da Ucrânia na Santa Sé criticou as palavras do Papa e, dois dias depois, o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia convocou o núncio apostólico em Kyiv, para apresentar um protesto.
Alguns analistas questionaram os serviços de comunicação e de assessoria diplomática do Papa pelo modo como o terão instruído sobre a jovem Darya Dugina, que era uma figura de militante ativa em prol da guerra que Putin desencadeou e, por conseguinte, desenquadrada do âmbito em que Francisco tinha colocado as suas palavras: “Muitas crianças feridas, muitas crianças ucranianas e crianças russas ficaram órfãs. Os órfãos não têm nacionalidade, eles perderam seu pai e mãe, que são russos, que são ucranianos. tantas pessoas inocentes que estão a pagar por essa loucura em todos os lugares, porque a guerra é uma loucura”.
Têm decorrido, por outro lado, contactos entre Kyiv e a diplomacia do Vaticano para preparar uma eventual viagem do Papa à Ucrânia, que Francisco já disse querer realizar, em chegando o momento oportuno.