
Óculos das pessoas assassinadas no campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau (1941-1945). Foto © Paweł Sawicki, Auschwitz Memorial
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu esta segunda-feira, 25, uma ação global coordenada para construir uma aliança contra o crescimento e disseminação do neonazismo e da supremacia branca e o ressurgimento do antissemitismo, xenofobia e discurso de ódio, em parte desencadeado pela pandemia covid-19.
Guterres instou igualmente a uma ação internacional “para combater a propaganda e a desinformação”. E apelou ainda a um incremento na educação sobre as ações nazis durante a Segunda Guerra Mundial, enfatizando que quase dois terços dos jovens americanos não sabem que seis milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto.
O líder da ONU intervinha numa cerimónia na Sinagoga de Park East, em Nova Iorque, tendo como pano de fundo o Dia Internacional da Memória do Holocausto, que evoca o 76º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, ato que, este ano, foi realizado online, devido à covid-19.
António Guterres referiu como a atual pandemia se tornou pretexto para a “ridícula mas muito perigosa” propaganda anti-judeus, acusando-os de terem criado o vírus como parte de uma tentativa de dominação global. “Esta é apenas a mais recente manifestação de um tema antissemita que remonta pelo menos ao século XIV, quando os judeus foram acusados de espalhar a peste bubónica.”
Guterres disse ser triste, mas não surpreendente, que a pandemia tenha também desencadeado outra erupção de negação, distorção e minimização do Holocausto. “Na Europa, nos Estados Unidos e noutras partes do mundo, os supremacistas brancos estão a organizar-se e a recrutar além-fronteiras, exibindo os símbolos e temas nazis e da sua ambição assassina”, disse ele. “Tragicamente, depois de décadas nas sombras, os neonazis e suas ideias estão a ganhar popularidade”, ainda de acordo com Guterres, adiantando que, em alguns países, que não identificou, eles se infiltraram já na polícia e nos serviços de segurança do Estado.
“O aumento contínuo da supremacia branca e da ideologia neonazi devem ser vistos no contexto de um ataque global à verdade que reduziu o papel da ciência e da análise baseada em factos na vida pública”, acrescentou.
A agência Associated Press cita o rabi Arthur Schneier, 90 anos, sobrevivente do Holocausto, também presente no ato, onde defendeu que “a memória, não a amnésia, é um imperativo moral para conter o aumento do ódio, que é maior hoje do que em qualquer momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial”.
Aludiu também à recente invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, recordando que havia ali jovens com t-shirts com inscrições que diziam “Seis milhões não foi suficiente”. “As crianças não nascem com ódio; elas aprendem a odiar”, disse o rabi. “A educação sobre o Holocausto nas escolas é uma obrigação.”
Dia da Memória do Holocausto é esta quarta-feira
O tema que orienta a lembrança do Holocausto em 2021 é “Enfrentando as Consequências: Recuperação e Reconstituição após o Holocausto”. O programa teve início nesta segunda-feira e tem, neste dia oficialmente dedicado pelas Nações Unidas, vários eventos que podem ter interesse.
“Contra um contexto global de crescente antissemitismo e níveis crescentes de desinformação e discurso de ódio, a educação e a memória do Holocausto são ainda mais urgentes, assim como o desenvolvimento de uma alfabetização histórica para conter as repetidas tentativas de negar e distorcer a história do Holocausto”, explicam os organizadores do programa.
Entre os temas em debate, destacam-se os seguintes: “Lições do Holocausto – uma perspectiva global sobre o antissemitismo” (14h45, hora de Portugal continental); cerimónia do Memorial do Holocausto das Nações Unidas (16h); “Negação e Distorção do Holocausto” (17h); concerto virtual pela United Nations Chamber Music Society (24h).
Na quinta-feira haverá ainda um debate sobre o tema: “A chegada dos nazis ao poder e a Constituição de Weimar” (15 horas).
Para seguir à distância o programa, pode aceder-se à página das Nações Unidas.