
Na ausência, ou quase, de canais legais de entrada na Europa, aumentou o tráfico de seres humanos, através de duas vias de acesso principais: o Mediterrâneo central e os Balcãs. Foto © IOM / Alexander Bee.
São atualmente 103 milhões os refugiados no mundo inteiro, um “número recorde sem precedentes”, que equivale a um em cada 77 habitantes e corresponde a mais do dobro do registado há dez anos. os dados dão do Relatório 2022 sobre o Direito de Asilo da Fundação Migrantes, órgão pastoral da Conferência Episcopal Italiana, que foi apresentado esta terça-feira, 13 de dezembro, na Universidade Gregoriana, em Roma.
De acordo com o relatório, cuja síntese está disponível online, mais de 100 milhões de pessoas fugiram dos seus países só este ano. Na ausência, ou quase, de canais legais de entrada na Europa, cenário onde se centra este estudo, aumentou o tráfico de seres humanos, através de duas vias de acesso principais: o Mediterrâneo central e os Balcãs.
“No final de outubro de 2022, a estimativa (mínima) de refugiados e migrantes mortos e desaparecidos no Mediterrâneo é de pouco menos de 1.800”, revela o documento. Só na rota para Itália e Malta, foram registados 1.295 mortos e desaparecidos.
O documento mostra ainda que, no ano 2021, foram registados na Alemanha 148.200 pedidos de asilo, em França 103.800, e em Espanha 62.000, enquanto Itália registou 45.200 requerentes de asilo.
Europa solidária com uns e discriminadora com outros

2022 foi o ano em que a União Europeia tudo fez para manter fora das suas fronteiras, diretamente ou por ação judicial, dezenas de milhares de migrantes e refugiados. Foto © Naeblys.
O relatório refere-se a 2022 como “o ano em que a guerra na Ucrânia produziu no coração da Europa, em poucas semanas, refugiados e deslocados aos milhões, como nunca antes visto desde a Segunda Guerra Mundial Guerra Mundial”. O ano – sublinha – “em que a Europa pôde voltar a acolher milhões de refugiados sem perder uma vírgula em bem-estar e “segurança” (com mais de 4.400.000 pessoas inscritas para proteção temporária só na União Europeia até ao início de Outubro)”.
Por outro lado, destaca o relatório da Fundação Migrantes, 2022 foi “também o ano em que a própria União Europeia e os seus países membros tudo fizeram para manter fora das suas fronteiras, diretamente ou por ação judicial, dezenas de milhares de migrantes e refugiados igualmente necessitados de proteção, senão ainda mais frágeis, desde a Grécia e de todos os Balcãs até à Líbia, desde a fronteira com a Bielorrússia até aos enclaves espanhóis na costa africana, passando pelas águas mortíferas do centro Mediterrâneo e, a última ‘novidade’ do ano, nas docas dos portos italianos”.
Mariacristina Molfetta e Chiara Marchetti, as curadoras do estudo, denunciam assim uma Europa “solidária com os ucranianos e discriminadora e violadora dos direitos humanos e convenções internacionais com os outros. Para alguns, as fronteiras estão abertas, para outros, nem mesmo os portos após um naufrágio. O que está em risco é o próprio direito de asilo e até o estado de saúde das nossas democracias”.