
Manifestação contra o regime iraniano, em Paris, França (30/10/22). Foto © Amnistia Internacional/Benjamin Girette.
Os números arrepiam pela crueldade: as crianças e jovens representam 14% das mortes totais de manifestantes e observadores registadas pela Amnistia Internacional (AI) desde o início das manifestações no Irão, de acordo com um comunicado da organização de defesa dos direitos humanos.
Segundo o texto, desde 16 de setembro passado, pelo menos 44 menores morreram e, desses, 34 foram mortos “com disparos das forças de segurança iranianas no coração, cabeça ou outros órgãos vitais”. Muitos outros foram feridos.
A Amnistia não poupa nas palavras, ao descrever “a implacável repressão brutal das autoridades iranianas”, perante a atual revolta popular “contra o sistema da República Islâmica”. Segundo a investigação da AI, esta repressão “envolveu um ataque total a manifestantes menores que corajosamente saíram às ruas em busca de um futuro sem opressão política e desigualdade”.
Recordando que a atual revolta nasceu depois da morte sob custódia de uma jovem de 22 anos, Mahsa (Zhina) Amini, em 16 de setembro de 2022, dias depois de Mahsa ter sido presa arbitrariamente pela “polícia da moralidade” por não cumprir as regras discriminatórias e leis abusivas de uso obrigatório do véu.
Os protestos rapidamente alargaram-se a “queixas mais amplas contra o regime político e abrangeu exigências pelo fim do sistema da República Islâmica”. Estas manifestações, nota a AI, “foram marcadas por um envolvimento visivelmente maior de crianças [e adolescentes] em idade escolar e estudantes universitários, exibindo uma determinação ousada de desafiar o envelhecido regime teocrático mergulhado na impunidade e discriminação, lutando pela transição do Irão para um sistema que respeita a igualdade e os direitos humanos”.
Vítimas com idades entre os 2 e 17 anos

Manifestação contra o regime iraniano, em Paris, França (30/10/22). Foto © Amnistia Internacional/Benjamin Girette.
A organização regista com este documento os nomes dos 44 menores manifestantes ou espectadores mortos como resultado do uso ilegal da força pelas forças de segurança do Irão desde setembro de 2022, incluindo detalhes dessas mortes. As vítimas registadas incluem 39 meninos e rapazes, com idades entre 2 e 17 anos, e cinco raparigas, sendo três de 16 anos, uma de 17 anos e uma menina de 6 anos.
A maioria das crianças (34) foi morta porque as forças de segurança dispararam ilegalmente munições reais contra a cabeça, o coração ou outros órgãos vitais. Pelo menos quatro crianças foram mortas porque as forças de segurança dispararam projéteis ilegais, pelo menos cinco crianças, quatro raparigas e um rapaz, morreram como resultado de ferimentos consistentes com espancamentos fatais; e uma menina foi morta após ser atingida com uma bomba de gás lacrimogéneo na cabeça.
O primeiro condenado à morte

Mohsen Shekari é o primeiro executado. Foto © Direitos reservados/Privada, fornecida pela Amnistia Internacional.
Até agora, a organização registou os nomes e detalhes de mais de 300 homens, mulheres e crianças mortos pelas forças de segurança do Irão desde setembro de 2022 — e as vítimas registadas estão limitadas àquelas cujos nomes a organização conseguiu identificar. A organização continua as investigações sobre os assassinatos relatados e acredita que o número de mortos, incluindo crianças, é maior.
Entre os mortos está também o primeiro condenado à morte, Mohsen Shekari, detido e condenado à morte num julgamento injusto, por ter participado nas manifestações que continuam a decorrer por todo o país. A execução deste manifestante no Irão confirma o facto de que a pena de morte está a ser utilizada para punir quem exerce a sua liberdade de expressão e de reunião pacífica. Segundo denuncia a Amnistia, “a utilização da pena de morte como instrumento de repressão política é real e existem, de momento, milhares de pessoas presas e indiciadas”.
Petição de apoio a manifestantes
Lembrando o Dia Internacional dos Direitos Humanos, este sábado, dia 10, a Amnistia Internacional – Portugal convocou, em parceria com a Kolbeh – Comunidade Iraniana Portuguesa, uma vigília na sexta-feira, dia 9, que assinalou também o Dia Internacional dos Defensores de Direitos Humanos, em apoio às pessoas que se manifestam no Irão.
“É fundamental que estas pessoas, que continuam a exigir mudanças apesar da resposta violenta das autoridades, saibam que não estão sozinhas”, nota a AI, que mantém o convite para os cidadãos se associarem a uma petição de apoio a todos os que protestam, mesmo correndo risco de vida e de prisão, tortura e pena de morte.

Vigília da Amnistia Internacional e da Kolbeh – Comunidade Iraniana Portuguesa na Praça do Município, em Lisboa, no dia 9 de dezembro. Foto © Amnistia Internacional.