
Candelabro de Hanukkah (ou Hanucá ou Chanukah) no alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa. O acendimento das velas é diário, até dia 27. Foto © Comunidade Israelita de Lisboa.
Já se acenderam cinco velas (neste dia 22 foi a quinta) e ficarão ainda outras quatro para acender até dia 26, segunda-feira: enquanto se iluminam as velas do hannukiah (ou hanuquiá), o candelabro próprio para a festa de Hannukah (ou Hanucá), canta-se o Salmo 30: “Ao cair da noite, vem o pranto;/ e, ao amanhecer, volta a alegria. /Senhor, foste bom para mim e deste-me segurança;/ mas, se escondes a tua face, logo fico perturbado.”
Hannukah é uma das principais festas judaicas, celebrada entre os dias 25 do mês de Kislev e 3 de Tevet, segundo o calendário hebraico. No alto do Parque Eduardo VII, em Lisboa, uma cerimónia diária e pública (sempre às 19h) permite a qualquer pessoa interessa assistir. Em todo o mundo onde há judeus, o ritual é assinalado diariamente durante estes dias.
Conhecida como a “Festa das Luzes”, ela “celebra a sobrevivência espiritual do povo judeu”, diz Esther Mucznik, da Comunidade Israelita de Lisboa e investigadora em temas judaicos. “Ela comemora um facto histórico: a vitória do exército judaico, comandado por Judah Maccabi e pelos Macabeus, no ano de 164 a.c., contra os exércitos dos gregos selêucidas. Estes tinham entrado em Jerusalém, três anos antes e tinham profanado o Templo.”
Esta festa, que no calendário coincide também com datas próximas do Natal dos cristãos, “celebra também um milagre, que a tradição talmúdica relata: recuperado o Templo aos gregos, havia azeite para o candelabro sagrado, apenas por um dia; no entanto, a luz sagrada continuou a brilhar durante oito dias, simbolizando assim a sobrevivência espiritual judaica”.
Na bênção inicial de Hanukkah, a família judaica reza: “Ó Eterno, nosso Deus: acendemos estas velas por causa dos milagres, redenções, grandes feitos, salvações, maravilhas e consolações que fizeste para com os nossos antepassados.”
Em 165-164 a.E.C. (antes da Era Comum), Judá Macabeu liderou uma guerra de guerrilha contra a ocupação grega. A perseguição era violenta: o rei Antioco Epifânio queria helenizar a Síria e a Judeia. Proibiu a celebração do Sabat, a leitura da Bíblia e a circuncisão. Duas mulheres que tinham circuncidado foram apanhadas e atiradas pela muralha de Jerusalém. Pior ainda: o rei ordenou sacrifícios com porcos no Templo de Jerusalém, colocando nele uma estátua de Júpiter.
Quando, depois da reconquista de Jerusalém, os judeus purificaram o Templo, conta-se que foi encontrado um pote com azeite para acender a chama sagrada durante um dia. Mas o azeite durou oito dias. Por isso, em memória desse acontecimento, os judeus acendem anualmente (segundo o calendário lunar), em cada um dos oito dias, uma lamparina ou vela do candelabro de Hanukkah (e mais uma que é acesa todos os dias).
“A mensagem essencial que se pode tirar do combate dos Macabeus é que, muito mais do que uma guerra militar, se tratava, sim, de um combate pelo espírito judaico e contra assimilação à cultura helénica”, diz Esther Mucznik.
Festa de carácter essencialmente familiar, ela inclui também a confecção de doçaria ligada à festa, como as rabanadas ou os sufganiot (bolo de farinha, açúcar e canela). À volta do hanukkiah, reza-se uma bênção, recita-se o salmo 30 e canta-se uma das muitas canções alusivas à festa (como se pode ver neste vídeo do 7MARGENS, gravado em Dezembro de 2018, numa celebração comunitária judaica em Cascais:)
ou ainda neste, em versão de concerto:
Por osmose, a festa passou a incluir também prendas para as crianças, tradição iniciada talvez por causa do Natal.
A ideia do nascimento e do renascimento – do Templo, como das pessoas – estão assim muito presentes nesta festa. “Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição da tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua serva e lhe deres um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor, por todos os dias da sua vida”, rezava Ana (I Samuel 1, 11), a futura mãe de Samuel (cujo nome significa “Deus escutou”).
(O texto inclui alguns elementos de um artigo publicado no Religionline).