
Uma família no campo de Al Dhale’e para pessoas deslocadas pelo conflito no Iémen. Foto © YPN/UNOCHA
Com o início do Ramadão, no sábado, 2 de abril, começou também um período de tréguas de dois meses no Iémen, uma centelha de esperança numa guerra que se arrasta há sete anos. Os negociadores têm a expectativa de que este cessar-fogo se possa prolongar para lá destes dois meses.
Para já, foi acordada a suspensão de todos os tipos de ofensivas, para fornecer assistência humanitária num país devastado por sete anos de conflito, na esperança de negociações entre as autoridades e os rebeldes huthis, segundo descreveu o jornal francês Le Monde.
De acordo com o diário francês, a paz dificilmente está a ganhar terreno no Iémen, mas as duas partes beligerantes – de um lado, as forças pró-governamentais contra rebeldes huthis, do outro, que se guerreiam desde 2014 – concordaram com uma trégua de dois meses que se iniciou no sábado, anunciou a Organização das Nações Unidas (ONU).
“Os beligerantes responderam positivamente à proposta das Nações Unidas de uma trégua de dois meses que entrará em vigor [sábado] 2 de abril às 19h00” [17h00 em Lisboa], disse Hans Grundberg, enviado da ONU, num comunicado. O cessar-fogo pode ser “renovado com o consentimento das partes”.
Estas tréguas ocorrem depois de consultas realizadas na quarta-feira passada em Riade, na Arábia Saudita, sem a presença dos representantes dos rebeldes huthis, que recusam qualquer diálogo em território “inimigo”. As forças pró-governamentais iemenitas são apoiadas há sete anos por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita (já os huthis são apoiados pelo Irão). “As partes concordaram em interromper todas as ofensivas militares aéreas, terrestres e marítimas no Iémen e além de suas fronteiras”, explicou Grundberg.
Já depois do início das tréguas, e perante as reações positivas a esta notícia, o enviado da ONU sublinhou que “o sucesso desta iniciativa dependerá do compromisso contínuo das partes beligerantes em implementar o acordo de trégua com as medidas humanitárias que o acompanham”.
Ramadão sem restrições em Meca e Medina
O primeiro dia da trégua coincidiu com o primeiro dia do mês sagrado do Ramadão, que volta a ser comemorado nas duas mesquitas sagradas de Meca e Medina sem constrangimentos maiores, depois de dois anos de pandemia.
Segundo o jornal The Muslim News, os rituais comuns do Ramadão, incluindo itikaf ou devoção isolada e ceias iftar, voltam a ser permitidos, num regresso à normalidade bem recebido por cidadãos e residentes.
A decisão foi anunciada em 22 de março pelo xeque Abdulrahman Al-Sudais, responsável da Presidência Geral para os Assuntos das Duas Mesquitas Sagradas, na sua conta do Twitter @ReasahAlharmain.
O itikaf acontece nos últimos dez dias do Ramadão, quando os fiéis entram em reclusão e dedicam o seu tempo à oração e à leitura do Alcorão. Começa ao pôr do sol do vigésimo dia do Ramadão e termina quando a lua do Eid é avistada. No itikaf, os fiéis vivem e dormem nas mesquitas e só saem para as abluções.